O bom resultado do varejo brasileiro no primeiro trimestre aqueceu as estimativas de crescimento – mesmo que lento – do setor em 2018, apesar da perspectiva de alta tímida no segundo trimestre e da incerteza eleitoral na segunda metade do ano.
Entre janeiro e março, o volume de vendas do comércio varejista ampliado (que inclui veículos, motos, partes e peças, além de materiais de construção) evoluiu 6,6% frente o mesmo intervalo de 2017 – ou o único trimestre do ano passado em que a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) constatou queda interanual frente 2016.
O resultado do varejo ampliado em março também agradou, crescendo 1,1% frente fevereiro e superando “a decepção com o varejo no curtíssimo prazo no primeiro bimestre”, segundo o economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes.
Após a divulgação dos números pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a CNC elevou de 5% para 5,4% a perspectiva de alta nas vendas do varejo ao longo do ano. Para economistas, o comportamento relativamente positivo dos condicionantes taxa de juros, inflação e emprego surgem como razões.
Conforme Bentes, “o patamar historicamente baixo da taxa de juros” já surte efeito sobre o setor automotivo, que acumulou alta de 17,9% no volume de vendas no ano, além de evolução de 16% em março frente fevereiro. Arrisco dizer que este será o segmento do ano”, afirmou.
Economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomercio MG), Guilherme Almeida também destacou o impacto positivo de fatores macroeconômicos sobre os resultados do setor. Por outro lado, “a expansão da informalidade e a taxa de juros ainda alta na ponta” indicam uma recuperação “ainda lenta.”
Percepção semelhante é compartilhada pelo presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Claudio Felisoni. “A recuperação que tivemos foi em cima de base [de volume de vendas] bastante deprimida”, observou ele. O dirigente ainda lembrou que “o juro ao comércio está em média 5,4% ao mês, ou bem acima da taxa Selic”.
Oscilação
Em 2018, o primeiro trimestre ainda teve reforço extra para o varejo: a realização da Páscoa em março, contribuindo para alta de 13% no volume de vendas dos hipermercados e supermercados ante fevereiro.
“Sem a Páscoa em abril, o segundo trimestre para os super e hipermercados pode não ser bom na comparação com 2017”, afirmou Bentes, da CNC; o setor alimentício é o mais relevante dentre os acompanhados na PMC.
Por outro lado, a categoria dos artigos de uso pessoal e doméstico – que avançou 13,8% em março e 10,9% no ano – pode apresentar bons números por conta da Copa do Mundo da Rússia, uma vez que inclui artigos esportivos.
Segundo a CNC, o evento deve gerar R$ 1,5 bilhão em vendas – sobretudo através dos bens de consumo; no acumulado do ano, a venda de eletrodomésticos já soma alta de 5,1%, apesar de leve queda em março frente fevereiro (-1%).
A predisposição do brasileiro por produtos mais caros, contudo, pode afetar a venda de outras categorias – como a de tecidos, vestuário e calçados, que acumula baixa de 1,6% no ano. “O bolso do cliente é um só. Se ele direciona recursos para bens duráveis, outras compras diminuem”, sinalizou Felisoni, do Ibevar.
“Também não teremos fator para substituir o anabolizante que foram os saques do fundo de garantia em 2017”, confessou Fabio Bentes, da CNC; a entidade estima que um quarto do valor retirado foi para consumo – ou R$ 10,8 bilhões. “Haverá o abono salarial do PIS/Pasep, mas com impacto muito inferior porque ele é restrito a percentual pequeno da população”, completou Almeida, da Fecomercio MG.
Além de tudo, Almeida ainda cita o peso da incerteza eleitoral, “que normalmente afeta os investimentos do setor. Mesmo com os indicadores positivos, o cenário político pode agravar a situação.” Vale lembrar que a “régua” para o desempenho do varejo no segundo semestre é grande: em 2017, o setor teve alta interanual de 7,5% no terceiro quarto e de 7,7% no último.
Fonte: DCI