Sete companhias do agronegócio divulgam nesta semana seus balanços referentes ao difícil primeiro trimestre do ano. A perspectiva de analistas é de que as margens se mostrem mais apertadas, os resultados líquidos negativos ou perto disso, e elevados custos financeiros, fruto do impacto da forte valorização do dólar nas dívidas em moeda estrangeira no período e das taxas de juros mais altas. A boa notícia deve vir apenas das empresas que produzem açúcar, cuja divulgação de resultados está marcada para final de junho.
De acordo com prévia divulgada pela Corretora Brascan, Sadia e também a Perdigão devem apresentar prejuízo no primeiro trimestre de 2009, reflexo da queda das exportações e, no caso da Sadia, também de encargos financeiros incidentes sobre suas dívidas. Entre janeiro e março, os embarques de carne de frango do Brasil recuaram 3% em volume, 19,5% em receita em dólar e 17,5% em valor médio por tonelada. Assim, o cenário mundial retraído nos três primeiros meses do ano deve resultar em prejuízo de R$ 41 milhões para a Perdigão e de R$ 182 milhões para a Sadia, segundo a Brascan.
As exportações têm grande peso no faturamento das duas empresas, que são as maiores do País em embarques de frango ao exterior. Dos R$ 12,1 bilhões que a Sadia teve de receita bruta em 2008, 45,8% (R$ 6,6 bilhões) vieram das exportações. A Perdigão registrou no ano passado uma receita bruta de R$ 13,1 bilhões dos quais 38,4% (R$ 5,05 bilhões) gerados pelas vendas externas. No primeiro trimestre, a geração de caixa (Ebitda) da Perdigão deve ficar em R$ 123 milhões (margem ebitda de 4,9%) e, a da Sadia, em algo próximo de R$ 100 milhões (margem de 4,1%). A Sadia divulga seu balanço na próxima quinta-feira, dia 14, e a Perdigão, no dia seguinte.
As operações do grupo Marfrig na Europa - onde a companhia adquiriu o grupo OSI - que representam 25% da receita consolidada da empresa, devem ter ajudado a sustentar o seu desempenho no primeiro trimestre, quando se espera um lucro líquido de R$ 21 milhões, segundo a Brascan. Isso porque as unidades europeias do grupo atendem o mercado interno do bloco, sofrendo, portanto, menos impacto da forte queda no comércio mundial de carnes.
No Brasil, os embarques de carne bovina recuaram 26% em receita em dólar, 17% em volume e 11% em preços médios por tonelada. O Ebitda (geração de caixa) previsto para o primeiro trimestre é de R$ 138 milhões, o equivalente a uma queda de 69% em relação ao trimestre anterior. "Acredito que as indústrias de carne bovina foram melhores que as de frango em termos de margens, pois o preço do boi gordo recuou no período. Já a queda dos grãos demanda mais tempo para ser repassada", avalia Denise Messer, da Brascan.
Paulo Molinari, da Safras & Mercado, avalia que as indústrias de avicultura se saíram melhor no período, sobretudo pela condição de reduzir produção e sair no curto prazo do aperto de margens. "Avalio até que as agroindústrias estão em situação mais confortável do que os próprios avicultores pois conseguiram segurar os preços do frango em níveis baixos", diz o especialista.
Já o setor de carne bovina passou por um aperto de margem muito forte no primeiro trimestre, que resultou no processo de insolvência de muitas indústrias. No primeiro trimestre, de fato, a arroba do boi recuou 8%, mas a carcaça bovina casada, caiu mais, em torno de 12%, com a queda nas exportações e o consequente aumento da oferta no mercado interno.
Peter Ping Ho, da Planner Corretora, avalia que bons resultados referentes ao primeiro trimestre devem ser apresentados pelas produtoras de açúcar. No período, a commodity foi a que apresentou o melhor desempenho de mercado externo, com crescimento de receita de 59,2%, e de volume, de 39,5%. É muito provável que as companhias do setor listadas em bolsa tenham conseguido aproveitar os bons preços do açúcar no primeiro trimestre. Ao final de 2008, a Açúcar Guarani, por exemplo, tinha cerca de 33% de sua produção de açúcar em estoque para vender na entressafra. A Cosan aumentou em 11% suas reservas (na comparação com o último trimestre de 2007) com o mesmo objetivo , e a São Martinho, reservou 42% de sua produção para negociar na entressafra.
Veículo: Gazeta Mercantil