Após apresentar estabilidade em fevereiro, o custo unitário do trabalho na indústria voltou a cair em março. A recuperação da produção e a redução de 2,5% da folha de pagamentos no período levaram a uma queda de 3,2% do indicador na comparação com mês anterior, considerando ajustes sazonais, segundo Tendências Consultoria Integrada. Em fevereiro, o custo do trabalho no setor ficou estável, depois de cair 3,8% em janeiro em relação ao mês anterior.
Pelo terceiro mês consecutivo, a indústria aumentou a produtividade. Em março, houve aumento de 1,6% sobre fevereiro, resultado do crescimento de 0,7% da produção e da queda de 0,9% no número de horas pagas no período, apontam os cálculos da consultoria baseados nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados ontem. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a produtividade caiu 4,7%, mas em menor ritmo que em fevereiro, quando recuou 11,8%.
Apesar da melhora no desempenho, os dados ainda não consolidam o fim dos ajustes no emprego industrial, que recuou 0,6% em março sobre o mês anterior e 5% na comparação com o mesmo período do ano passado. Para economistas, a reação no mercado de trabalho depende de uma recuperação mais expressiva da produção. "É necessário uma recuperação mais forte da indústria, para depois ocorrer uma reação no emprego", afirma a economista da Tendências Ariadne Vitoriano.
A produção industrial brasileira subiu 0,7% entre fevereiro e março. Mesmo com a terceira alta consecutiva, registrou queda de 14,7% no primeiro trimestre de 2009 frente a igual período do ano anterior. Em relação aos últimos três meses do ano passado, houve recuo de 7,9%, segundo pesquisa do IBGE, divulgada na última semana.
Na avaliação da economista, a recuperação do setor no início do ano foi muito pequena diante do tombo no nível de atividade apresentado no último trimestre do ano passado. De setembro para dezembro, a produtividade despencou 17% e o custo unitário do trabalho registrou um salto de 20,9%. Em março, os indicadores apresentaram alta de 8,1% e queda de 6,9%, respectivamente, em relação ao último mês do ano passado. "Recuperou muito pouco. Não para pensar que o processo de ajuste acabou", afirma Ariadne, que atribui a queda no custo do trabalho à diminuição do número de horas pagas devido aos acordos de redução de jornada no período.
Para Rogério César Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a redução do ritmo de queda do emprego pode indicar que "o primeiro grande ajuste" da indústria já passou. O declínio de 0,6% em março foi inferior às reduções mensais de 1,9%, 1,3% e 1,4% entre dezembro e fevereiro, segundo os dados com ajuste sazonal do IBGE. "É um sinal positivo", diz.
Souza avalia que a indústria precisa mostrar sinais mais consistentes de recuperação da produção para o mercado de trabalho no setor reagir. O economista do Iedi prevê para os próximos três meses o cenário para o mercado de trabalho na indústria ainda adverso, mas com quedas em menor intensidade. "A produção tem de entrar na rota de melhores resultados para o emprego ficar pelo menos estável. Se a produção não reagir, pode haver novos ajustes", diz.
Veículo: Gazeta Mercantil