Queda na cotação do dólar não altera valor de produto estrangeiro no comércio. Os preços das bebidas importadas como o vinho estão pouco mais acessíveis
Mesmo com o dólar cotado a R$ 1,665, os consumidores brasileiros não estão encontrando produtos importados mais baratos no mercado. Esse cenário pode ser explicado pela alta carga tributária que incide sobre a entrada de alguns itens no país; o aquecimento da economia, que tem incentivado o consumo; e o aumento do preço dos insumos utilizados na produção.
As taxas cobradas sobre os produtos, quando entram no país, variam de 30% a 100%. De acordo com o consultor de Negócios Internacionais da Federação da Indústria de Minas Gerais (Fiemg), Alexandre Brito, o preço final é calculado incluindo a incidência da Tarifa Externa Comum (TEC) - conhecida como imposto de importação (II) -, Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). Com isso, a desvalorização do dólar é anulada pela alta carga tributária.
A elevação do preço do petróleo, que fechou ontem cotado em US$ 109,71, tem encarecido o custo do frete e aumentado o preço final das mercadorias oriundas de outros países. O aumento dos níveis de emprego e a elevação da renda dos trabalhadores têm incentivado o consumo dos brasileiros, causando inflação em diversos segmentos.
Demanda aquecida - De acordo com a professora de Economia do Business Institute da Fundação Getúlio Vargas (BI-FGV), Virene Matesco, vários fatores explicam a alta dos preços dos importados no país. Os eletrodomésticos oriundos de outros países, por exemplo, estão entrando com mais facilidade no Brasil com a queda do dólar, o que deveria reduzir os preços. Porém, com o aquecimento da demanda interna, estão sofrendo majoração, pela lei da oferta e procura.
Para a economista, com a maior oferta de crédito, o financiamento tem sido uma das formas de pagamento mais comuns. No entanto, o brasileiro ainda não tem o costume de analisar o preço total dos produtos, nem os juros embutidos, avaliando apenas ao preço da prestação. "Os consumidores analisam apenas se a parcela cabe no orçamento", destacou.
A elevação só não foi maior até o momento por causa do câmbio, segundo a professora. Porém, apesar de ser verificada em todo mundo uma alta no preço dos alimentos, alguns produtos importados do exterior, como vinhos, azeites, queijos e bebidas, estão se tornando mais acessíveis para a população brasileira.
Segundo Virene Matesco, a queda dos preços destes itens tem feito com que pessoas das classes menos favorecidas possam comprar alimentos vindos de outros países. "Apesar de serem produtos com alto valor agregado, públicos de diferentes classes sociais hoje podem comprar alimentos importados, porque já encontramos até biscoitos do exterior com valores de comercialização acessíveis", disse.
A economista ressaltou o reajuste do Bolsa Família, que foi de 8% neste ano, ficando quatro pontos percentuais acima da inflação, foi importante para estimular o consumo no mercado interno.
A previsão é que o aumento do poder de compra no Brasil se mantenha em alta no acumulado deste ano, sendo que em 2008 já está sendo observada uma desaceleração da expansão. "Para 2009 podemos esperar que a manutenção dos investimentos no país, que o consumo continue crescendo e que as importações continuem volumosas", ressaltou.
Viagens ao exterior - As vendas da importadora Chen estão sendo prejudicadas por outros motivos. A empresa, que tem seis lojas na Capital, é especializada na comercialização de perfumes, maquiagens e tratamentos de beleza, que estão vendendo menos do que em outros períodos devido ao aumento das viagens internacionais do mineiros, de acordo com a supervisora de vendas, Telma Ferraz.
"Nossos clientes passaram a comprar itens fora do país e o crescimento das vendas não está alcançando os níveis desejáveis", afirmou. Um dos principais motivos seria os altos impostos pagos para estes produtos no Brasil, o que encarece os preços.
Veículo: Diário do Comércio - MG