Indústria cresce 8,5% e IBGE diz que juro ainda não fez efeito

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Expansão em relação a 2007 mostra que política monetária não conseguiu frear a demanda

 

A indústria iniciou o segundo semestre imune à alta dos juros e cresceu 1% em julho ante junho e 8,5% em relação a igual mês do ano passado. Para o coordenador de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, os resultados confirmam que a demanda interna continua aquecida e o setor deixou para trás o quadro de estabilidade, elevando o ritmo de crescimento.

 

Os dados mostraram que as importações estão afetando negativamente a produção de bens de consumo duráveis (sobretudo eletrodomésticos), enquanto os investimentos prosseguem em expansão.

 

Segundo Sales, a alta dos juros iniciada em abril ainda não teve efeito sobre a produção industrial. “Os efeitos dos juros chegariam antes no varejo e isso não apareceu até o momento.” Ele observou que, na indústria, os juros afetariam primeiro as decisões de investimentos, e os robustos dados de bens de capital mostram que isso não ocorreu. De janeiro a julho, o aumento da produção industrial é de 6,6% e, nos 12 meses encerrados em julho, chegou a 6,8%.

 

A produção de bens de capital aumentou 1,2% ante junho e 22,3% na comparação com julho de 2007, mantendo o perfil de expansão acima da média industrial. De acordo com Sales, não há sinal de arrefecimento da demanda doméstica - um dos objetivos da política monetária - nos dados da indústria.

 

Ele destacou a inclusão dos bens intermediários na liderança da expansão da produção industrial. Esses bens respondem por 60% da estrutura industrial e vinham apresentado resultados modestos mas, houve um ganho de ritmo na categoria em julho, com expansão de 1,1% ante junho e de 7,5% ante o mesmo período de 2007.

 

Segundo o coordenador do IBGE, ainda que estejam muito vinculados às exportações, pois incluem commodities como minério de ferro, os intermediários estão sendo puxados pelo mercado interno, sobretudo pelos insumos para construção civil e agricultura.

 

A avaliação de desempenho vigoroso da indústria é compartilhada por analistas. Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, os dados indicam “expansão ainda vigorosa da produção neste começo de segundo semestre”. Segundo ele, “a expectativa de desaceleração que parecia se configurar no começo de 2008 diminuiu” e a indústria voltou a crescer.

 

O consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida, destaca a “qualidade” do desempenho industrial. Ele ressalta o resultado de bens de capital, categoria que acumula alta de 18,1% em 2008. “Melhor composição para o crescimento da indústria, impossível, pois a dianteira de máquinas e equipamentos é o que, após um período de três a seis meses, irá gerar a capacidade de produção adicional que a economia precisará para acomodar sem inflação o crescimento da demanda.”

 

Claudia Oshiro, da Tendências Consultoria, diz que os dados mostram que “a composição do crescimento é positiva, uma vez que a expansão da produção e das importações de bens de capital representam aumento de investimento e, conseqüentemente, ampliam a capacidade produtiva”.

 

A produção de bens de consumo duráveis (automóveis, eletrodomésticos) teve significativo recuo em julho (-5,2% ante junho), mas nem isso é avaliado como tendência negativa por Silvio Sales. Segundo ele, o resultado “devolve” a expansão de 7% de junho ante maio e está muito mais relacionada ao aumento das importações do que à diminuição da demanda.

 

“No caso dos duráveis, é preciso olhar para o varejo, não há arrefecimento da demanda.” As importações de duráveis cresceram, em dólar, 78% em julho ante igual mês de 2007. Segundo Sales, não há tendência de queda na produção desses bens.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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