Preço recua em 15 de 16 capitais pesquisadas, no momento em que se discute necessidade de manter alta do juro
Depois de acumular altas consecutivas desde o fim do ano passado, o preço dos alimentos de primeira necessidade deu um alívio ao bolso do trabalhador brasileiro. Em agosto, o preço da cesta básica apresentou queda em 15 das 16 capitais pesquisadas mensalmente pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A queda nos preços dos alimentos acontece num momento em que se discute a necessidade ou não de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manter a política de elevação das taxas de juros. Na próxima semana, o Copom voltará a se reunir. O objetivo do atual aperto monetário é esfriar a demanda, reduzindo o espaço para repasses de aumentos de custo para os preços, o que pressionaria ainda mais a inflação. Para alguns analistas, no entanto, o pior da inflação já teria passado.
“Foi a primeira vez desde fevereiro que o número de capitais com preços em queda supera o das cidades com altas”, disse o economista José Maurício Soares, coordenador da pesquisa do Dieese. Naquele mês, 11 localidades haviam apresentado queda nos preços da cesta básica.
De acordo com o economista, a tendência de recuo nos preços de alimentos deve se manter nos próximos meses, seja por causa da queda nos cotações das matérias-primas (commodities) agrícolas no mercado internacional, seja por melhora nas condições climáticas e início da colheita de algumas culturas no País.
As retrações nos preços médios dos 13 gêneros alimentícios considerados de primeira necessidade superaram os 10% em quatro capitais: Recife (-10,77%), Natal (-10,73%), Fortaleza (-10,59%) e Rio de Janeiro (-10,56%). A única alta foi apurada em Goiânia, onde o custo da cesta apresentou ligeira variação de 1,15%.
Porto Alegre manteve o título de capital com a cesta básica mais cara, apesar de os gêneros alimentícios terem apresentado queda 6,99% no mês passado. Para comprar a cesta básica em agosto, o trabalhador gaúcho teve que desembolsar R$ 241,16, valor praticamente igual ao apurado em São Paulo (R$ 241,15). A cesta mais barata foi encontrada no Recife (R$ 176,09).
O recuo dos preços dos alimentos no mês passado representa um alívio para o orçamento dos trabalhadores, sobretudo os de renda mais baixa. Segundo o Dieese, em agosto o trabalhador que ganha o salário mínimo (R$ 415) gastou em média 110 horas e 12 minutos de trabalho para conseguir comprar a cesta básica. Em julho, precisava cumprir uma jornada de 117 horas e 8 minutos para adquirir os mesmos produtos. Descontada a contribuição previdenciária, a compra da cesta básica exigiu, no mês passado, o comprometimento de 54,45% do salário mínimo, ante 58,26% em julho. Há um ano, esse número correspondia a 47,74%.
Veículo: O Estado de S.Paulo