A Brascan investiu nos últimos quinze meses R$ 2,3 bilhões na compra de 12 shoppings centers. Saltou de cinco para 17 empreendimentos. E a estratégia é continuar crescendo. Neste ano, com investimentos de R$ 350 milhões de recursos próprios e R$ 150 milhões dos sócios, além de obras de expansão em 11 shoppings, está sendo definida a abertura de novas unidades na periferia de grandes cidades.
Como a presença do grupo é apenas no Sudeste, a idéia é chegar ao Nordeste por meio de parcerias com empresas do setor. Estratégia como a adotada, em novembro de 2007, quando a Brascan comprou participações do grupo Malzoni no Botafogo Praia Shopping, no Rio, além do Shopping Paulista, Shopping Higienópolis, West Plaza e Vila Olímpia todos em São Paulo , sendo o último em construção.
Uma decisão é certa: todos os novos investimentos serão voltados para as classes A e B. O principal-executivo da Brascan Shopping Centers, Bayard Lucas de Lima diz que não acredita no sucesso de shoppings focados nas classes C e D, apesar do aumento do poder de consumo desse grupo da população. Também diz que os destinados ao mercado de alta renda não são interessantes pois o retorno é baixo. Pesquisas realizadas pela Brascan mostram que na hierarquia do orçamento das classes C e D sobra muito pouco dinheiro para gastar nos shoppings. A prioridade dessas famílias, atualmente, é conquistar a casa própria e a prestação pesa no bolso.
Outro item que consome os recursos é o pagamento do automóvel. Lima lembra que, em São Paulo, são emplacados cerca de 800 veículos por dia e 80% deles de donos do primeiro carro. Depois disso vem o celular, a mobília, os eletrodomésticos para a casa nova, sem contar a alimentação, que é prioridade na divisão das despesas.
Acaba sobrando pouco, na média 14% da renda, para roupas, sapatos e lazer. Por isso, diz o executivo, hoje, nas classes C e D, os concorrentes dos shoppings são as grandes varejistas como hipermercados e lojas de material de construção.
No outro extremo, observa ele, os shoppings para o consumidor de alta renda não são um negócio atraente. Diz que muitos deles foram lançados como chamariz para um projeto imobiliário mais amplo. "Os empreendimentos exigem muito investimento diante do retorno. Para essa faixa da população, a resposta maior é das lojas de rua mais exclusivas, as 'flagship stores'", diz Lima.
A Brascan Shopping Centers está planejando novas unidades na periferia do Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte, cidades onde o grupo já está presente. A idéia é ficar perto de condomínios com moradores de maior poder aquisitivo.
Nordeste, onde a predominância é dos investimentos da família Paes Mendonça, Lima diz que há conversas em torno de uma possível parceria.
O executivo avalia que é inevitável a consolidação entre empresas de shopping centers: "Há 29 novos shoppings sendo construídos no país e 60% são de oito grandes grupos. A consolidação é uma questão de tempo. Vão ficar de três a quatro grupos. Nós certamente seremos um deles", afirma Lima.
Não descarta a chegada de um novo investidor estrangeiro. Considera o Brasil atraente e com espaço para novos empreendimentos. Os shoppings hoje respondem por 20% do varejo brasileiro e os estudos mostram que a oferta é 30% menor do que o mercado comporta. Nos Estados Unidos existem 187 metros quadrados de shopping para cada 100 habitantes. No Brasil a relação é quatro metros quadrados para 100 habitantes, segundo a Brascan.
Lima diz que os Estados Unidos continuam sendo a meca dos shoppings no mundo. Não foi por acaso que a Brascan trouxe de lá um americano, Robert Fergunson, que trabalhava na Mills Malls, para ficar frente aos projetos de expansão e construção das unidades da Brascan e seus parceiros.
"Acredito nas consolidações por causa da questão do acesso ao capital", diz Lima. Ele lembra que shoppings precisam de sete a dez anos para maturação do investimento e grupos menores acabam enfrentando dificuldades para levantar capital e acompanhar o movimento de expansão dos grandes. Lembra que há todo um movimento de fundos de private equity. Estes estão dando fôlego à expansão de redes, inclusive no varejo, como aconteceu com a rede de restaurantes Viena, comprada pela Advent (em outubro).
Capital não tem sido problema para a Brascan Shopping Centers, que não pensa em partir para IPO (oferta pública de ações). A empresa é do grupo canadense Brookfield Asset Management , responsável pela gestão de US$ 95 bilhões em ativos, sendo US$ 1,8 bilhão em shopping centers. O grupo está no Brasil desde 1889. Hoje são R$ 11 bilhões sob sua gestão (incluindo recursos próprios e de clientes institucionais), investidos em ativos nos setores imobiliário, de energia renovável, agrícola, florestal e de infra-estrutura.
De 1980 até 2000, a Brascan contava com apenas três shopping centers no país: Rio Sul, Madureira Shopping, ambos na cidade do Rio de Janeiro e o Bay Market, em Niterói (RJ). Havia, ainda, duas áreas comerciais, a Paço do Ouvidor e Centro Empresarial Mourisco, ambas na capital.
A partir de 2006 , o grupo comprou o controle da parte do grupo Malzoni em cinco empreendimentos. E também outros como o Shopping Cidade (em BH); e Brascan Open Mall, Itaú Power Shopping, Raposo Shopping, Mogi Shopping, Piracicaba Shopping, Mogi Mirim Shopping, Brascan Green Valley, Itaú Power Shopping, em São Paulo. E em Curitiba, o Crystal Shopping.
Veículo: Valor Econômico