Varejo recupera vendas no fim do semestre

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A massa salarial ajudou a sustentar as vendas do varejo nos primeiros cinco meses do ano em níveis proporcionalmente mais elevados que os da indústria, ainda que a recuperação da produção, na ponta, pareça mais expressiva que as vendas do comércio. De acordo com os índices de desempenho do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o varejo em maio apresentava desempenho 3,8% superior ao verificado em dezembro, com ajuste sazonal. A produção industrial, por sua vez, apresentou expansão de 7,8% no mesmo intervalo. Entre setembro e dezembro, con tudo, a produção industrial caiu 20%, enquanto a queda no varejo foi bem menor: 2,6%.

 

Nos primeiros cinco meses do ano, a demanda por bens semiduráveis e não duráveis manteve o comércio aquecido, mas para os próximos meses a tendência é de recuperação mais significativa de bens duráveis, graças à recuperação do crédito. A indústria, também deve registrar recuperação, mas sobre uma base baixa em função das fortes perdas registradas no auge da crise. Para o segundo semestre, a tendência apontada por economistas é de crescimento mais significativo na avaliação mês a mês; no acumulado em 12 meses, há piora no desempenho de ambos.

 
 
"Há um descolamento entre indústria e varejo pelo fato de que a crise afetou mais investimentos [bens de capital e construção] e exportações, cujo impacto mais direto é na indústria. O varejo responde ao movimento de emprego e renda", afirmou o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. A desaceleração lenta da massa de rendimentos, a inflação mais fraca no primeiro semestre e o bom desempenho do setor de alimentos (que tem peso maior no varejo do que na indústria) também ajudam a explicar a diferença nos desempenhos, segundo Vale.

 

Em maio, segundo dados do IBGE, o comércio varejista cresceu 0,8% em relação a abril, com ajuste sazonal. A indústria teve alta de 1,3% na mesma base de comparação. O varejo foi impulsionado pelo incremento nas vendas de combustíveis e lubrificantes (3,7%), artigos de uso pessoal (2,9%), livros, jornais, revistas e papelaria (2,2), tecidos, vestuário e calçados (1,7%), artigos farmacêuticos (0,8%), eletrodomésticos (0,1%) e hipermercados, supermercados, alimentos, bebidas e fumo (0,1%). No varejo ampliado, que inclui os setores de construção e automotivo, a expansão foi de 3,7%, com alta de 8% nas vendas de veículos, motos, partes e peças e de 5,7% em materiais de construção.

 

Para o economista da Nobel Asset Management, Paulo Val, a recuperação lenta da produção industrial e do comércio ao longo do primeiro semestre foi resultado do arrefecimento da renda disponível e, em ambos os casos, os principais setores beneficiados foram os de bens não duráveis e semiduráveis. Bens duráveis, mais dependentes da oferta de crédito, tiveram desempenho mais fraco. Mas esse quadro tende a mudar no segundo semestre, segundo o economista. "A massa de salários se desacelerará no segundo semestre e as vendas acompanharão essa tendência. E a volta da oferta de crédito tende a impulsionar mais os duráveis daqui para frente", afirmou.

 

Vale, da MB, observou que a oferta de crédito à pessoa física sofreu menos os efeitos da crise do que o crédito à pessoa jurídica (que impacta mais a indústria). Ele prevê para o ano expansão de 4% do varejo e queda de 6% da produção industrial. A Nobel não faz projeção para o ano.

 

O economista da Tendências Consultoria Integrada Alexandre Andrade apontou um outro fator em comum entre comércio e indústria. Ambos apresentaram mais setores com crescimento em maio. No varejo, houve crescimento em nove dos dez setores avaliados em maio; em abril, três entre dez setores apontavam expansão sobre o mês anterior. No caso da indústria, 20 dos 27 setores avaliados pelo IBGE tiveram expansão em maio, contra 16 em abril. "As altas acontecem em maior número de setores, sendo que os setores de não duráveis e semiduráveis apresentam melhor desempenho. Bens duráveis, à exclusão de automóveis, continua ruim", avaliou.

 

Entre os setores com desempenho ruim, ele citou as vendas de móveis e eletrodomésticos, que ficaram praticamente estáveis em maio (0,1%) e de equipamentos e materiais de escritório, artigos de informática e comunicação (queda de 11,6%) - resultados inferiores ao ritmo de produção verificada em maio, quando houve aumento de 6,6% na produção de máquinas para escritório e equipamentos de informática e de 3,2% na produção de máquinas, equipamentos e materiais elétricos. "O efeito da redução do IPI foi nulo para linha branca", afirmou a economista do Santander Luiza Rodrigues. Ela observou que as vendas de veículos cresceram 8% em maio sobre abril, enquanto a produção cresceu menos, 2%.

 

"O que se percebe agora é que as indústrias, com estoques já zerados, tendem a apresentar uma recuperação mais forte do ritmo de produção. No caso da indústria automotiva, esse ajuste já ocorreu", afirmou. Conforme Luiza, em 2008 as importações cresceram suprindo boa parte da demanda do varejo e, durante a crise, essa concorrência contribuiu para a elevação de estoques na indústria. No começo do ano, as indústrias ajustaram estoques, aproveitando a queda no nível de importações e a demanda praticamente estável no mercado interno. "São padrões de recuperação diferentes. A indústria vem de uma base muito baixa e ainda apresenta queda no caso de setores mais exportadores. O varejo, que não teve uma queda expressiva no período mais crítico da crise, mostra um cenário mais próximo da estabilidade", afirmou a economista. Os economistas preveem expansão no varejo de até 1% em junho e de até 2% no ano. No acumulado de 12 meses até maio, a expansão foi de 6,5%.
 

 
Veículo: Valor Econômico


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