Novas estratégias no mercado de câmbio e juros

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A maior calmaria nos mercados fez os investidores voltarem a tomar risco não apenas em ações, mas também nos mercados de câmbio e renda fixa internacionais. Mas, depois das perdas amargadas no final de 2008, as estratégias mudaram e as posições no mercado futuro de moedas foram reduzidas drasticamente. "Os investidores estão mais técnicos e cautelosos, as moedas usadas na posição de compra e de venda são outras e os bancos centrais passaram a ter papel bem mais preponderante no mercado de câmbio", define o brasileiro Daniel Tenengauzer, diretor-gerente e chefe de estratégia global de moedas do Bank of America Merrill Lynch.

 

Segundo ele, os fundos de hedge que viviam de tomar dinheiro emprestado em duas ou mais moedas de juros baixos e investir nos mercados futuros de duas ou mais moedas de juros altos, ganhando o diferencial de taxas, no que ele definiu como o "carry trade tradicional", deixaram de existir. "Muita gente se queimou com a virada súbita no mercado de câmbio em setembro e parou de fazer isso", diz. A disponibilidade de crédito é menor e a possibilidade de alavancagem bem mais limitada, diz.

 

Segundo Tenengauzer, o mercado futuro de moedas na Bolsa de Chicago, o maior do mundo, movimenta hoje volumes que representam pouco mais do que 25% do que chegaram a girar no ápice do "carry trade", em 2007.

 

Atualmente, nenhum país do Grupo dos 10 mais ricos do mundo tem juros atraentes para investimentos em suas moedas, diferentemente do que acontecia antes da crise, quando o dólar australiano, o dólar neozelandês e o dólar canadense estavam entre os preferidos. "Hoje, o Brasil é o país que tem os juros mais altos entre os que são grau de investimento", diz ele. Outras taxas considerada atrativas são as da Hungria, da Rússia, da Turquia e da Indonésia, afirma.

 

Antes da crise, os investidores tomavam dinheiro emprestado em ienes e francos suíços, principalmente. Agora, por causa da percepção de que a política de relaxamento monetário quantitativo do Fed, banco central americano, é mais agressiva do que a dos demais bancos centrais dos países ricos, a moeda mais usada tem sido o dólar americano mesmo. "Os investidores têm ficado vendidos em dólar e comprados em francos suíços, ienes e libra esterlina, apostando na valorização dessas moedas contra o dólar, apesar de não haver diferença significativas nos juros desses países", diz.

 

As decisões de fazer ou não um "carry trade" implicam também analisar constantemente "filtros" que indicam a aversão ao risco dos mercados, como o índice de volatilidade em opções de ações VIX, os spreads de risco de crédito das companhias americanas, a volatilidade implícita nas opções de dólar e iene, a performance de títulos de dívida versus ações, etc. "Nós criamos índices com esses filtros e determinamos que a partir de um nível de aversão ao risco é importante desfazer o carry trade."

 
 
No Brasil, as posições compradas em reais dos estrangeiros não estão mais no mercado futuro. Pelo contrário, o investidor externo está vendido em reais na BM&FBovespa em US$ 3,2 bilhões em termos líquidos, o que sinalizaria uma aposta em sua desvalorização. As compras de reais dos estrangeiros são no mercado à vista, para investir em títulos da dívida do governo brasileiro e também em ações. As Notas do Tesouro Nacional da série B, lembra Tenengauzer, permitem um rendimento de inflação mais 6,5% ao ano para o vencimento em 2015. "São juros reais bastante atrativos para o investidor estrangeiro", diz. Na Rússia, os juros básicos são de 10,5% ao ano, mas a inflação está em 13%.

 

Ele diz que o ingresso de dólares no Brasil, inclusive para investimento direto, se deve principalmente a um déficit em conta corrente menor e às boas perspectivas de crescimento futuro. Tenengauzer lembra que não só o Brasil, mas também os 50 maiores mercados emergentes têm conseguido engrossar suas reservas internacionais novamente, inclusive a Rússia. As reservas somadas de 50 desses países voltaram a crescer em US$ 400 bilhões a US$ 500 bilhões em relação ao seu nível mais baixo durante a crise e estão em novo recorde histórico, de US$ 5,3 trilhões, estima o especialista.

 

"Os ingressos de dólares são mesmo no mercado à vista dada a melhoria nas conta corrente e de capital", concorda Márcio Garcia, professor da PUC do Rio. "O Brasil está bem e tem atraído investimentos de longo prazo", afirma. No entender de Garcia, o país terá de aprender a conviver com o câmbio apreciado, dado o nível de gastos do governo. A política de metas de inflação do Banco Central impede que ele baixe mais os juros, argumenta. "A não ser que alguém defenda que o BC abandone a política de metas de inflação e passe a focar no câmbio", afirma.

 

"Uma alternativa para conter a valorização do real seria abrir mais as importações, reduzindo tarifas", defende John Welch, economista do Itaú Unibanco International Wealth Management. "Ampliar a conversibilidade do real poderia também ajudar", avalia ele. Welch também avalia que a apreciação do real é estrutural, parte de um processo de crescimento maior das economias emergentes e de exportação de capital dos Estados Unidos para o mundo todo.
 


Veículo: Valor Econômico


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