As empresas brasileiras veem com mais otimismo as perspectivas para o segundo semestre, especialmente por conta do panorama positivo para o mercado interno, impulsionado pela melhora do crédito e por medidas como a oferta de linhas de financiamento atraentes oferecidas pelo BNDES. Há também a expectativa de alguma melhora da demanda externa, mas as incertezas quanto ao ritmo de recuperação dos EUA tornam o quadro internacional mais incerto. Esse foi o cenário pintado por vários executivos ouvidos ontem pelo Valor em seminário promovido pela Fundação Dom Cabral, em Nova Lima (MG).
O presidente da fabricante de ônibus Marcopolo, José Rubens de la Rosa, disse que o mercado interno segue num ritmo de "melhoras sucessivas". "O Brasil avança progressivamente, e nós temos expectativas positivas", afirmou ele, destacando a importância do crédito e do incentivo do BNDES, "que está trabalhando forte na redução das taxas e no alongamento de prazos". Esses dois fatores, segundo ele, fizeram com que "o mercado interno fosse praticamente semelhante ao do ano passado".
De la Rosa espera fechar 2009 com uma produção global de 23 mil ônibus, alta de 10% em relação aos números de 2008, em grande parte pela produção feita na Índia. "Nós não tivemos fabricação importante na Índia no ano passado. A fábrica indiana começou a trabalhar basicamente neste ano, e vem aumentando progressivamente o ritmo", explica. A produção na Índia, diz, responde por cerca de 15% do crescimento esperado para este ano.
O presidente do conselho da Weg, Decio Silva, comemorou o fato de que as coisas "pararam de piorar", acreditando que a iniciativa do BNDES de oferecer linhas de crédito para o investimento a taxas baixas deverá dar um gás ao setor de bens de capital, um dos mais castigados pela crise. "Isso não ocorre do dia para a noite, mas as oportunidades são enormes e todo mundo está olhando para elas." No segundo trimestre, a receita operacional líquida da Weg, que fabrica motores, geradores, transformadores e tintas, caiu 6% em relação a igual período do ano passado.
A Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR) também aposta num segundo semestre melhor que o primeiro, segundo o presidente da empresa, Renato Vale. O tráfego nas rodovias em que a companhia opera se manteve estável no primeiro semestre, com queda de 3% a 4% do transporte de carga e uma alta de igual magnitude do fluxo de automóveis de passageiros. "Foi sofrido, mas acredito que será possível fechar o ano com crescimento de 1% a 2%", afirmou Vale, que espera um desempenho mais positivo no segundo semestre. Segundo Vale, uma boa notícia é que o crédito, que ficara escasso na época da crise, voltou, embora a um custo ainda elevado.
Fábio Barbosa, diretor-financeiro da Vale do Rio Doce, acredita que o segundo semestre tende a ser mais forte que o primeiro. Segundo ele, há claros sinais de melhoria nas economias desenvolvidas, o que ajuda no impulso dado à economia global pela China. "É um processo de recuperação que está em curso, embora existam algumas dúvidas quanto à velocidade. Mas claramente é um processo de recuperação." Um dos sinais do maior otimismo da Vale é a reabertura das plantas de pelotização.
Barbosa enfatizou o papel da demanda chinesa pelo minério de ferro, observando que o pacote do governo de estímulo à infraestrutura tem dado resultados, mantendo elevado o ritmo de expansão da construção de habitações e escritórios. "Há um benefício do pacote sobre a economia chinesa, que se reflete na demanda por minério."
O vice-presidente e principal executivo para a América do Norte e o Mercosul da Teksid, Vilmar Faristol, tem uma visão menos otimista que os outros executivos. "O pior já passou, mas, mais do que uma retomada, estou vendo um processo de estabilidade no nosso caso", disse ele. Empresa do grupo Fiat, a Teksid produz peças fundidas para a indústria de automóveis, de caminhões e de máquinas agrícolas. Segundo ele, no primeiro semestre houve queda de mais de 50% na produção de componentes para caminhões, de 50% para máquinas agrícolas e de 12% para veículos. No total, a produção caiu de 40% a 45% em relação ao mesmo período de 2008, e ele não acha que os números de 2009 inteiro serão muito melhores.
A fatia da Teksid destinada à exportação, normalmente na casa de 30%, está neste ano abaixo de 10%. "Essa parcela exportada dificilmente se recupera a curto prazo", disse Faristol, que tem os EUA e a Europa como principais mercados. Para completar, caso haja uma recuperação da demanda externa, ainda será necessário lidar com os problemas de competitividade do Brasil, como o câmbio valorizado e o alto custo trabalhista e de energia elétrica, avalia ele.
O dólar barato também tem afetado a vida de outras empresas. A tendência de valorização do câmbio tem feito a Marcopolo produzir cada vez mais nas unidades do exterior, em vez de exportar os kits do Brasil, explicou de la Rosa.
Veículo: Valor Econômico