A luta contra as mudanças climáticas e a resposta à crise global devem dominar as discussões durante a 3ª reunião de cúpula entre Brasil e União Europeia (UE), que ocorre hoje em Estocolmo. A questão das negociações comerciais também vai aparecer nas conversas, com brasileiros e europeus insistindo na importância da retomada da Rodada Doha de liberalização comercial da Organização Mundial do Comércio (OMC). O assunto do acordo de livre comércio entre Mercosul e UE é outro que constará da pauta, mas a cúpula não deverá trazer nada de muito concreto sobre o tema.
Ao longo do dia, o Brasil também tratará das relações bilaterais com a Suécia, discutindo um plano de ação para uma parceria estratégica entre os dois países. O governo sueco vai aproveitar também para mostrar o seu apoio à proposta da empresa sueca Saab para a renovação da frota de caças brasileiros, o programa FX-2.
A cerca de 60 dias da cúpula do clima, em Copenhague, o tema ambiental terá grande destaque nas negociações entre Brasil e UE. Do lado brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá mostrar o empenho do país em reduzir o ritmo do desmatamento e destacar a importância do programa de biocombustíveis, além de insistir que a conta do combate ao aquecimento global não pode ficar apenas nas costas dos países mais pobres. Já a UE, que considera ter a proposta mais ambiciosa para redução de emissões de carbono no planeta, quer que o Brasil assuma posição de maior liderança entre os emergentes na questão ambiental, como disse o ministro do Ambiente da Suécia, Andreas Carlgren.
Um ponto importante a ser discutido é a parceria triangular entre Brasil, UE e África na área de biocombustíveis. O objetivo é produzir etanol nos países africanos, contando com apoio tecnológico brasileiro e o mercado europeu como o destino para o produto. Brasil e EU já chegaram a um acordo sobre o assunto, mas é necessário acertar detalhes com a União Africana, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
No caso da resposta à crise global, Brasil e UE têm bastante sintonia, segundo fonte da UE. Tanto brasileiros como europeus querem uma regulação mais rígida do sistema financeiro, defendendo a adoção de normas globais para evitar os problemas que levaram à eclosão da turbulência atual.
Segundo Amorim, "inevitavelmente" Brasil e UE falarão sobre a "Rodada Doha e o protecionismo". Brasileiros e europeus defendem a retomada das negociações no âmbito da OMC, emperradas desde o ano passado. Além disso, a questão do acordo de livre comércio com o Mercosul aparecerá nas conversas, disse ele. "Mas é claro que nós não vamos negociar [o acordo], porque o Brasil não está nem na presidência do Mercosul", explicou.
Negociadores do Mercosul e da UE devem se reunir em novembro para tratar do tema, que pode ganhar mais fôlego em maio de 2010, quando haverá uma cúpula em Madri entre europeus e latino-americanos. Na reunião de hoje, porém, as tratativas não devem avançar de modo muito concreto, porque não estão presentes os outros membros do bloco sul-americano. E, enquanto a Rodada Doha não estiver sepultada, as negociações entre blocos tendem a ficar em compasso de espera.
Empresários brasileiros e suecos gostariam de ver avanços entre o Mercosul e a UE. Em Estocolmo, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse ver uma "certa animação" para a retomada das negociações , considerando que elas podem ser uma boa oportunidade para os empresários do bloco sul-americano e do europeu. Emperradas há cinco anos, elas pararam principalmente por conta dos subsídios da UE à agricultura e da resistência da Argentina em abrir o mercado automotivo.
No momento das discussões bilaterais entre Brasil e Suécia, o governo sueco não vai perder a oportunidade de discutir . A sueca Saab participa da licitação para a compra de 36 aviões, oferecendo como um dos grandes atrativos para o Brasil a participação conjunta no desenvolvimento tecnológico do projeto do Gripen NG.
A ministra do Comércio da Suécia, Ewa Björling, disse ontem que o governo sueco dá apoio firme à proposta da Saab, acreditando que o assunto será discutido na reunião de hoje. É uma chance para os suecos tentarem recuperar o terreno perdido para a francesa Dassault - em setembro, Lula manifestou publicamente a sua preferência pelos caças franceses. Também participa da licitação a americana Boeing, mas a avaliação dominante é que a empresa está fora do páreo.
Veículo: Valor Econômico