Pelo oitavo mês consecutivo, a produção da indústria cresceu em relação a mês anterior. Em agosto, na comparação com julho, a atividade fabril cresceu 1,2%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com base nos dados, economistas avaliam que o desempenho da indústria mostra que a recuperação acontece de forma generalizada, apesar de ainda lenta. Todas as categorias de uso apresentaram crescimento em relação a mês anterior, especialmente os de bens duráveis e intermediários, que refletem a desoneração na indústria e o poder do consumo interno.
Em bens duráveis, o destaque foi a produção de veículos, reforçou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) em agosto, quando a atividade de veículos automotores (automóveis, autopeças) teve aumento de 3,2% em relação ao mês anterior, representando o principal impacto de alta para a expansão de 1,2% da indústria no período. Os técnicos do Iedi avaliam que esse bom desempenho pode ter resultado de uma antecipação de compras por parte dos consumidores, por causa da perspectiva de início de retirada dos benefícios de desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis a partir do primeiro dia de outubro.
A produção de bens de capital, que sinaliza o desempenho dos investimentos, aumentou 0,4%. Houve alta em bens intermediários (0,7%); bens de consumo duráveis (3,1%) e bens de consumo semi e não duráveis (0,6%). Na comparação com agosto do ano passado, porém, todas as categorias continuam em queda. No indicador geral, a redução foi de 7,2% em relação a agosto de 2008. A produção da indústria acumula quedas de 12,1% no ano e de 8,9% em 12 meses.
Na comparação mensal, 15 dos 27 setores pesquisados pelo IBGE tiveram aumento da produção, com destaque também para Refino de petróleo e produção de álcool (3,5%), Material eletrônico e equipamentos de comunicações (9,1%) e Metalurgia básica (2,7%). Entre as categorias de uso, a produção de bens de consumo duráveis teve a maior variação sobre julho, de 3,1%, seguida por bens intermediários (0,7%), bens de consumo semi e não duráveis (0,6%) e bens capital (0,4%).
Em relação a agosto de 2008, nove dos 27 segmentos apresentaram crescimento da atividade. Os destaques de baixa foram Veículos automotores (-18,4%), Máquinas e equipamentos (-19%), Metalurgia básica (-16,1%) e Máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-22,1%).
"O ritmo de crescimento do setor segue relativamente lento e uma aceleração deste processo depende, no meu entender, de um fortalecimento do setor externo, que, por sua vez, está relacionado à uma consolidação de um quadro mais firme de crescimento da economia mundial", avaliou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. Analistas consultados pela Reuters previam uma expansão mensal de 0,8% - com faixa de alta de 1,8 a queda de 0,2% - e uma queda anual de 7,5%.
Além da demanda externa, o estrategista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani, avaliou que uma das explicações para a produção não ter retornado aos níveis anteriores da crise reflete o fato de a recuperação atual estar ligada, "fundamentalmente, à zeragem de estoques", mas ainda não refletir de maneira mais clara um comportamento melhor das exportações de manufaturados e uma retomada mais forte dos investimentos.
"A indústria zerou os estoques no quarto trimestre e, agora, a produção está amparada em baixos estoques, com o comércio demandando. As exportações de manufaturados, contudo, ainda não voltaram e os investimentos também. Com isso, a produção de bens de capital continua muito fraca."
A coordenadora de indústria do IBGE, Isabella Nunes, argumentou que um crescimento em oito meses seguido é algo que não ocorria desde 2004, e a queda em relação a meses anteriores tem recuado. Ela destacou que a redução de 7,2%, apesar de ser a décima taxa negativa consecutiva nessa base de comparação, consistiu na queda de menor magnitude desde novembro de 2008.
De acordo com Isabella, com o resultado de agosto a produção da indústria acumula aumento de 13,5% em relação a dezembro do ano passado, auge dos efeitos da crise sobre o setor. Segundo Isabella, "o padrão de crescimento em 2009 se dá muito sobre os bens duráveis e os intermediários". Ela explicou que os bens duráveis foram beneficiados pelas desonerações de impostos promovidas pelo governo e os intermediários também estão sendo impulsionados pelo mercado interno, já que as exportações continuam contribuindo negativamente para o desempenho dessa categoria.
Isabella afirmou que os efeitos da crise sobre a indústria "só terão passado quando for retomado o patamar de setembro de 2008". Segundo ela, a queda acumulada de 12,1% na produção de janeiro a agosto é a maior para o período desde o início da série iniciada em 1991. De acordo com a coordenadora, mesmo com o aumento acumulado de 13,5% na produção em agosto ante dezembro do ano passado, a produção do setor ainda é 10,2% menor do que setembro do ano passado, mês em que foi registrado o último patamar recorde de produção do setor.
O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, ressaltou o índice de difusão da produção industrial médio dos meses de julho e agosto atingiu 72,2%, ante 60,5% verificado na média do segundo trimestre. "O que se observa, portanto, é que o crescimento, a partir do terceiro trimestre deste ano, acontece com disseminação, ainda que haja diferença de ritmo entre os setores", afirma.
Segundo Borges, há muitos trimestres não se vê um índice de difusão tão elevado. Para se ter uma ideia, a taxa média de 2008 foi de 49,4%. Quando se exclui o quarto trimestre, período afetado pela crise internacional, o índice é de 56,8%. "Enquanto o segundo trimestre de 2009 foi marcado pela recuperação da atividade, o período de julho a setembro será o trimestre da generalização do crescimento", afirmou.
Para setembro, Borges espera um desempenho ainda mais vigoroso, entre 1,5% e 2%. Se esse resultado se confirmar, a taxa média do crescimento do terceiro trimestre deve subir para perto de 4,5% (taxa dessazonalizada). Segundo cálculos da LCA, no segundo trimestre, o crescimento foi de 3,8% na margem. Considerando o desempenho de julho e agosto, o avanço do terceiro trimestre já está próximo a 3,6%. (Com agências)
Veículo: Jornal do Commercio - RJ