Conjuntura: Pesquisa mostra que, pela primeira vez, os empresários apostam na retomada da economia
O setor produtivo está recuperando a confiança na retomada econômica do país no pós-crise. Essa percepção foi captada pela primeira vez pelo Sensor Econômico, indicador de qualidade do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mede as expectativas de 75 entidades ligadas à produção e ao trabalho em relação a economia brasileira.
O indicador atingiu 23,2 pontos em agosto, passando de uma zona de apreensão para uma zona de confiança, de acordo com a escala do Sensor Econômico, que vai de menos 100 (pessimismo) a mais 100 (otimismo). A zona de confiança situa-se entre mais 20 a mais 60. "Foi a primeira vez que o indicador ultrapassou a faixa dos 20 pontos", comemorou Valdir Melo, pesquisador da diretoria de Macroeconomia do Ipea. Até agora, os pontos apurados nos meses anteriores não iam além de zero.
O que o resultado indica, explicou Melo, é que os agentes econômicos melhoraram as projeções em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) e à produção da indústria, atividade do comércio e da agropecuária. "A visão da produção está mais otimista que nos meses anteriores."
João Sicsú, diretor de Macroeconomia do Ipea, acha que as expectativas dos agentes econômicos levantadas pelo Sensor refletem a realidade. "A taxa de desemprego tem caído, o número de trabalhadores com carteira assinada somou 242 mil novos empregos em agosto, o PIB do segundo trimestre cresceu 1,9% ante o primeiro. Esses dados macroeconômicos mostram que a economia brasileira saiu da crise e está numa fase de recuperação consistente."
Sicsú prevê um segundo semestre bem melhor do que o primeiro e projeta um crescimento em torno de 1% para o PIB este ano. "A economia brasileira surpreendeu positivamente até aqueles que dizem até hoje que ela teria uma recessão em 2009. O FMI continua dizendo que a economia brasileira vai cair mais de 1% este ano", disse Sicsú, que estima que o PIB vai crescer em torno de 5% em 2010.
O Sensor é um indicador novo que entrou para as pesquisas do Ipea em janeiro, no auge da crise, e está acompanhando a virada, como destacou o pesquisador Valdir Melo. "Houve queda nas expectativas para zonas de pessimismo e apreensão e depois de março os pontos começaram a subir. Mas até junho as expectativas melhoraram em ritmo lento, a partir de agosto é que o ritmo acelerou."
A pesquisa do Sensor, que permite divulgar resultados mensais, levanta a opinião dos entrevistados sobre as contas nacionais (PIB e exportações), sobre os parâmetros econômicos que envolvem indicadores macros, como o câmbio, juros, taxa de inflação e crédito, desempenho das empresas e aspectos sociais (massa salarial, pobreza e violência).
Apesar da melhoria das expectativas em agosto no tocante à confiança em relação ao comportamento das contas nacionais, como variação do PIB, tanto da parte de entidades da indústria, agricultura e serviços, os agentes manifestaram alguma apreensão em relação ao comportamento futuro da taxa de juros, por causa dos rumores de alta da Selic. Houve confiança na estabilidade de preços. O que chamou a atenção foi a confiança e otimismo do setor produtivo em relação ao câmbio. "A percepção é de certa estabilidade e pouca apreciação do real", diz Melo.
O Sensor registrou forte confiança na contratação de mão de obra e no crescimento da demanda real, que não se refletiu no aumento da utilização da capacidade instalada da indústria. Predominou nos entrevistados pessimismo em relação à diminuição da pobreza e da violência, mas confiança no aumento da massa salarial
Veículo: Valor Econômico