Após cinco meses de alta consecutiva, o Indicador do Nível de Atividade (INA) da indústria paulista de transformação registrou baixa de 0,8% com ajuste sazonal, resultado provocado por queda nas vendas, menor uso da capacidade instalada e redução das horas trabalhadas no período.
Ainda assim, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), responsável pelo indicador, avalia que não há motivos para preocupação. Paulo Francini diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas da entidade, diz que a baixa é "ponto fora da curva" e que, após essa correção, a trajetória de alta deverá ser retomada já em setembro.
Sem considerar o ajuste sazonal, o INA registrou alta de 2,7%, em movimento coerente com o comportamento da indústria de transformação em outros anos. "Agosto e outubro são sazonalmente os mais fortes do ano para a indústria", diz Francini, explicando que, retirado esse efeito sazonal, restou uma variação negativa. "Mas não é preocupante. Não apostamos em reversão."
No confronto com agosto de 2008, o INA caiu 7,4%. No período acumulado de janeiro a agosto a baixa atingiu 12,8%. Também no intervalo de 12 meses encerrados no mês passado houve baixa de 9,3%. Continuam sendo bases comparativas complicadas, por conta dos efeitos da crise econômica internacional, que resultou em um freio para a indústria.
Os dados mostram baixa de 0,9 ponto percentual no uso da capacidade instalada em agosto, para 81%. As horas trabalhadas caíram 1,73% e as vendas reais recuaram 0,8%, todos com ajuste sazonal.
Para Francini, no caso das vendas reais, o efeito cambial é importante. Elas poderiam ter ficado estáveis se não fosse a forte desvalorização do dólar, de 4,5% em agosto. Com o dólar barato, as exportações da indústria acabam resultando em menos reais e, portanto, em faturamento menor.
Mesmo com um conjunto negativo de variáveis em agosto, o dirigente da Fiesp não acredita que o indicador nacional de produção industrial do IBGE, que será divulgado sexta-feira, indique queda. Segundo ele, a amostra do IBGE é diferente, embora os resultados de ambas as pesquisas coincidam muitas vezes. O consenso do mercado aponta para aumento do índice.
Uma das razões para manter o otimismo, segundo Francini, tem a ver com as expectativas apuradas pelo Sensor, indicador antecedente das condições da indústria, colhido no mês corrente junto a empresas no Brasil todo.
O indicador fechou a segunda quinzena de setembro em 57,8 pontos. Tal nível não só supera o patamar pré-crise, como também é o maior da série histórica iniciada em junho de 2006. No desdobramento dos quesitos, a avaliação sobre o mercado também atingiu a melhor pontuação da série do indicador, de 66,7 pontos.
O mesmo se deu com o emprego. O indicador registrou 55,5 pontos, o melhor nível desde junho do ano passado. A variável de vendas sustentou tom positivo ao fechar o mês em 59,6 pontos e o quesito investimentos apontou 58,3 pontos. Apenas as condições de estoque indicaram patamar negativo (abaixo de 50 pontos), com 47,1 pontos. Isso indica que os estoques estariam acima do desejado.
Em relação a agosto, a Fiesp destaca o desempenho negativo no setor de metais, excluindo máquinas e equipamentos, onde a atividade caiu 2% em termos ajustados e 0,7% sem ajuste. No ano, o setor já recua 9%. No setor de químicos, petroquímicos e farmacêuticos, a queda da atividade foi ainda mais profunda, de 4,1%. O contraponto positivo veio da indústria automobilística, que apontou aumento de 6,1% na atividade em relação a julho, com alta de 0,6% nas vendas.
Veículo: Valor Econômico