Ainda é cedo para afirmar que os efeitos da crise econômica mundial se dissiparam, mas ao menos no horizonte da indústria as expectativas são mais otimistas que no primeiro semestre. Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV sinaliza alta de 3,6% no índice de confiança da indústria em setembro. Com o aumento, o índice alcançou 109,5 pontos, o maior nível mensal desde setembro do ano passado.
Das 1.125 empresas contempladas na pesquisa, 52,1% esperam melhora nos negócios nos próximos seis meses - apenas 9,3% acreditam que vai piorar.
"Esses indicadores confirmam quadro de aceleração da produção, que está alcançando patamares registrados antes da crise", afirma Aloizio Campelo, coordenador das sondagens conjunturais do Ibre-FGV. O nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) , que já vinha de forte alta em agosto (81,3%), alcançou 81,9% no mês passado, apenas 0,3% abaixo da média verificada desde 1995. Para Campelo, o Nuci deve ultrapassar a média histórica neste mês. "Esperávamos essa marca no quarto trimestre, mas a recuperação surpreendente da indústria aponta para uma superação já em outubro."
"A retomada da economia brasileira acaba motivando o otimismo dos industriais e vice-versa. Diminuiu bastante o total de empresários que considera estar com estoques excessivos, o que indica aumento de investimentos em produção", diz Ariadne Vitoriano, analista da Tendências Consultoria. No auge da crise, em janeiro, o indicador de nível de estoques marcou 78,2 pontos. Em setembro, o índice alcançou 100,5 pontos.
"A indústria forçou demais na hora de diminuir a produção e ajustar os estoques. A retomada durou um semestre. Apenas a partir de julho verificamos recuperação", afirma Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Para ele, a pequena oscilação nos índices de emprego e massa salarial ao longo do ano foi essencial para manter o mercado interno aquecido. "A indústria demitiu bastante, relativamente a outros setores, mas desde julho vem recuperando empregos", diz Souza. Para Campelo, da FGV, a produção industrial aumentou mais rapidamente que a retomada do emprego. "Há um aumento da produtividade implícito nesse movimento, que deve continuar neste quarto trimestre", afirma.
Para os analistas, o mercado interno continuará sendo o principal fator da retomada industrial. "Verificamos crescimento mais disseminado e menos concentrado em materiais de construção e automóveis", afirma Campelo. No mês passado, os segmentos com crescimento mais acelerado foram material para transporte, metalurgia, papel e celulose, produtos farmacêuticos e plásticos.
O investimento em máquinas e equipamentos volta a crescer, o que amplia o entusiasmo da indústria com a produção interna de bens de capital. Segundo Souza, eram os bens de capital e duráveis que lideravam a expansão do PIB antes da crise. "Enquanto os bens duráveis reagiram rápido após o baque, graças aos incentivos fiscais do governo, os bens de capital demoraram mais", afirma. Para ele, a retomada do crescimento econômico deve elevar a demanda por bens de capital. "Isso já está sendo antecipado pela indústria, que passa a confiar mais no crescimento futuro".
Veículo: Valor Econômico