Pinault quer sair do varejo e aumentar aposta em moda

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Quando comprou a grife italiana Gucci, dez anos atrás, o bilionário francês François Pinault direcionou os negócios de madeira e de distribuição da família para o altamente visível e lucrativo mundo dos produtos de luxo.

 

Agora, o filho de Pinault decidiu tomar um passo igualmente transformador: desovar os negócios de varejo, que já foram o centro de suas operações, para se focar inteiramente nas marcas internacionais, como a luxuosa Yves Saint Laurent e a Puma, mais massificada.

 

François-Henri Pinault, diretor-presidente da PPR SA, iniciou um plano ambicioso para vender as divisões europeias de varejo, como a popular rede de eletrônicos Fnac e a de móveis baratos Conforama. Numa entrevista ao Wall Street Journal na sede da PPR perto do Arco do Triunfo, em Paris, Pinault delineou pela primeira vez seus detalhes de seus planos para transformar a empresa da família.

 

"Quanto antes melhor", disse Pinault, um homem alto, loiro, de 47 anos. Mas ele acrescentou que não se impôs um prazo para as vendas. "Temos uma grande fraqueza - o varejo. É uma operação que não conseguimos desenvolver rapidamente no exterior", porque leva bastante tempo para que os consumidores abracem um nome desconhecido, disse.

 

A PPR pode obter 4 bilhões de euros (cerca de US$ 6 bilhões) com a venda de seus negócios de varejo, dizem analistas. Pinault quer usar o dinheiro para comprar outras marcas de roupas e acessórios para criar uma nova divisão voltada ao mercado de massa que espelhe a divisão de produtos de luxo da PPR. Já se espera que a empresa capte até 1 bilhão de euros com a abertura de capital de sua subsidiária africana de distribuição, que começa a ser negociada em bolsa no dia 3 de dezembro.

 

Para a PPR, que tem 41% de seu capital em poder da família Pinault, sair do varejo significa abandonar negócios que correspondem a mais da metade da receita de 20 bilhões de euros no ano passado, e que dominam seus respectivos mercados na França. Há muito tempo uma das empresas blue chips mais dinâmicas da Bolsa de Paris, a PPR quer trocar suas operações francesas de varejo por uma identidade mais mundial.

 

A PPR não é a única empresa a repensar suas operações de varejo por causa da crescente pressão competitiva. Wal-Mart Stores Inc., Gap Inc. e outras estão tentando atrair de volta consumidores relutantes, amedrontados pelos altos índices de desemprego no mundo. Embora muitos varejistas de grande porte já tenham baixado os preços, redes barateiras como Wal-Mart, Ikea Group e Old Navy, da Gap, assim como lojas na internet, tiveram desempenho muito melhor que cadeias rivais.

 

Um problema de longo prazo no varejo é que ele é fundamentalmente local. Embora a marca Wal-Mart esteja espalhada do Chile ao Reino Unido, a empresa obtém 75% de suas vendas nos Estados Unidos. A Fnac, uma rede de lojas de livros, discos e eletrônicos fundada por militantes trotskistas nos anos 50, se expandiu pela Europa e até para o Brasil, mas ainda gera 70% das vendas na França.

 

Os negócios no varejo - além da Fnac e da Conforama, a PPR conta com a empresa de vendas via catálogo Redcats - beneficiaram a empresa no decorrer dos anos, criando um contrapeso à divisão de produtos de luxo, mais volátil. A demanda pelos produtos que a PPR vende em suas redes - fornos de microondas, livros ou sofás - é menos elástica que a demanda por grifes, que geralmente depende do burburinho da mídia sobre alguma coleção das passarelas.

 

Mas os negócios de varejo também já mostraram que podem prejudicar a lucratividade. No primeiro semestre do ano, a PPR informou que sua margem de lucro ficou em 1,7% a 3,3% no varejo e 18,6% na divisão de artigos de luxo.

 

A nova estratégia de Pinault tem seus riscos. Uma saída do varejo aumenta a ênfase na Gucci Group - cujo portfólio de marcas inclui a grife italiana Bottega Veneta e a joalheria Boucheron - justo quando o setor de bens de luxo sofre com a crise. Como os ricos diminuíram os gastos em mercados importantes, como EUA, Europa e Japão, as vendas da Gucci Group caíram 6,4% na primeira metade do ano, ante alta de 4,6% na receita do mesmo período do ano passado.

 

É uma jogada pessoal importante para Pinault, um dos primeiros da segunda geração de executivos criados para levar adiante os negócios da família. Arnaud Lagardère, do conglomerado francês de comunicação e defesa Lagardère, também assumiu o controle da empresa depois que seu pai, Jean-Luc, morreu seis anos atrás. Outros - como Delphine Arnault, a filha do arquirrival de Pinault, o presidente do conselho da LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, Bernard Arnault - também aguardam sua hora de assumir o comando.

 

Embora chefie a PPR desde 2005, Pinault ainda não provou que tem o tino empresarial para comandar uma das dinastias de empreendedores mais importantes da Europa.

 

O pai, de 73 anos, galgou até o elitista mundo dos negócios na França depois de ter abandonado a escola no ensino médio e começado com uma madereira. François-Henri Pinault é mais conhecido como um jet-setter, com frequência fotografado nas primeiras filas dos desfiles de moda com a mulher, a atriz Salma Hayek.

 

Pinault pai assumiu o negócio madeireiro da família, no oeste da França, em 1963. Ele abriu o capital da empresa na Bolsa de Paris em 1988 e usou os recursos para comprar a Conforama em 1991 e a partir daí transformar o grupo no império que é hoje.

 

Pinault filho foi escolhido pelo pai para dirigir a holding da família que detém a participação na PPR, Artemis, em 2003. Como presidente da Artemis e membro do conselho da PPR, ele começou a pensar sobre o futuro da empresa. Na época, a PPR estava gastando milhões de euros para expandir a Conforama e a Fnac fora da França. Mas a casa de moda Gucci, impulsionada por novos mercados na Ásia e no Oriente Médio, era responsável por um quarto do lucro da PPR.

 

Depois de 18 meses na Artemis e com o apoio de seu pai, Pinault informou o então diretor-presidente da PPR, Serge Weinberg, que ia assumir o comando da empresa. "Eu tinha 41 anos e não queria me ver apenas como acionista. Eu queria administrar o negócio", recordou ele na entrevista.

 

Quando assumiu a presidência executiva, em março de 2005, a PPR era uma empresa ancorada em dois pontos: varejo e luxo. Uma divisão concorria com grifes como Louis Vuitton e Chanel; a outra com J.C. Penney e Ikea. A Fnac havia plantado sua bandeira em Taiwan e na Suíça, a Conforama havia comprado redes na Espanha e Itália - mas elas ainda dependiam da França para a maior parte de suas vendas. As ações da PPR estavam sendo negociadas com um desconto de 37% em relação às da rival e líder de mercado LVMH, que é concentrada em artigos de luxo.

 

No fim daquele ano, Pinault definiu o primeiro passo do que se tornaria sua estratégia para sair completamente do negócio varejista: a venda da tradicional loja de departamentos Printemps, cujo valor havia disparado por causa do boom imobiliário. O negócio foi concluído em meados do ano seguinte, por 1,1 bilhão de euros.

 

Quando Pinault estudava a saída do varejo, começou a pensar no que poderia substituí-lo. Fazer da PPR uma empresa apenas de artigos de luxo não seria o suficiente porque as casas de moda e acessórios sofisticados não são de grande volume, ainda que tenham margens de lucro elevadas. "Se quiséssemos ter tamanho considerável numa escala mundial, tínhamos de ter uma operação para o mercado de massa", lembra-se de ter pensado. Ele consolidou seu plano com o conselho da PPR. Em 2007, fechou a compra da Puma.

 

A crise financeira forçou Pinault a fazer uma pausa nos seus planos. Mas, com os mercados acionários mundiais se estabilizando, ele está ressuscitando sua estratégia. Uma equipe de 12 pessoas dentro da PPR elaborou duas listas. A primeira enumera um novo grupo de 20 possíveis compradores dos setores para as três empresas de varejo, disse Pinault.

 

Alguns fundos soberanos e um investidor sul-africano também expressaram interesse, segundo uma pessoa a par da questão. Outra opção, disse Pinault, seria colocar uma ou todas as três no mercado acionário.

 

A segunda lista envolve uma dúzia de marcas de luxo e estilo de vida que a PPR poderia estar interessada em comprar. Para desenvolver sua marca de estilo de vida para as massas, a PPR poderia estar interessada em outra marca voltada a atividades externas, como hiking, esportes aquáticos e de rua, como skateboard, disse Pinault.
 


Veículo: Valor Econômico


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