A produção orgânica da Amazônia quer trilhar o caminho da profissionalização. Segundo especialistas do setor, a região concentra mais de 60% da área extrativista orgânica certificada do Brasil e quase 3 mil produtores já fazem negócios na região. A nova lei que regulamenta o setor, a formação de uma comissão estadual de produção e o aumento da aceitação de mercadorias nativas no exterior devem acelerar o avanço do setor, que movimenta R$ 250 milhões no Brasil.
De acordo com o IBGE, os Estados do Amapá e da Amazônia Ocidental (Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia) têm 2,7 mil estabelecimentos que praticam a agricultura orgânica. O Amazonas concentra a maior quantidade de empresas, com uma participação de 44,5% do total, seguido de Rondônia (34,1%) e do Acre (17,8%). O levantamento também mostra que, do total de produtores, apenas 6,2% têm certificação no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) - o que dá direito a vender as mercadorias em escala, inclusive exportar.
Para Ming Liu, coordenador do projeto Organics Brasil, vinculado à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), o país tem 1,7 milhão de hectares de área certificada para a oferta internacional de produtos. O Organics Brasil começou há quatro anos, com 12 empresas da área de alimentos orgânicos que vendiam para seis países. Hoje, 74 companhias de 14 Estados despacham itens do setor de cosméticos, têxtil e alimentos processados para países, como Estados Unidos, Japão, Alemanha e França.
Segundo José Alexandre Ribeiro, presidente da Associação dos Produtores e Processadores de Orgânicos do Brasil (BrasilBio), que reúne 1,2 mil empresas, as culturas orgânicas mais difundidas no país são açúcar, café, soja e frutas. "Os principais desafios da agricultura orgânica são resgatar a perda da biodiversidade e os conhecimentos agrícolas nativos." Para alavancar o setor, Ribeiro também sugere uma maior integração entre os ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Saúde na criação de projetos comuns.
Atualmente, a BrasilBio desenvolve um programa que pretende revitalizar as antigas casas de lavouras municipais com cursos sobre alimentação saudável para crianças. No Acre, na região metropolitana de Rio Branco, a associação estuda uma parceria com o governo federal para reflorestar uma área de 25 alqueires, em um investimento de R$ 60 mil.
"A ação é para sensibilizar os pequenos produtores da área para praticar uma agricultura sustentável."
Segundo o presidente, em 2010, uma comitiva de 40 empresários italianos do setor orgânico virá ao Brasil para conhecer produtores locais e formalizar parcerias. "Há um grande interesse dos europeus pelos produtos da Amazônia."
Conforme informações da Suframa, o açaí cultivado no município de Maués, que é vendido nos Estados Unidos, e o guaraná, em Urucará (AM), são as experiências orgânicas de maior sucesso no Estado. Em Rondônia, 25 produtores de café orgânico já estão diplomados.
De acordo com André Knewitz, fiscal agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e coordenador da Comissão de Produção Orgânica do Amazonas (CPOrg-AM), a produção nacional deve ganhar um novo impulso a partir de 2010 com a lei 10.831, que regulamenta o setor e teve as últimas instruções normativas aprovadas há pouco meses. "Estamos há vinte anos tentando formular uma base legal para o segmento", afirma. Os Estados Unidos, o Japão e a Europa começaram a criar suas normas de mercado nos anos 1990.
Outra inovação apontada por Knewitz é que, no mercado nacional, para fazer venda direta de produtos, principalmente em feiras livres, a certificação não é obrigatória, o que simplifica o escoamento da produção orgânica. "Basta estar cadastrado no Mapa." (J.S.)
Veículo: Valor Econômico