Carreiras e profissões também têm prazo de validade

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O glamour e o fascínio, que envolvem algumas atividades e segmentos do mercado consumidor, não permitem, muitas vezes, transparecer os desafios que as mesmas representam para aqueles que dele dependem.

 

Estou me referindo aos artistas, modelos publicitários ou de beleza, esportistas e até alguns profissionais liberais. São algumas profissões que apresentam características muito transitórias no mercado de trabalho.

 

O desafio é ainda maior para pessoas que foram transformadas em personagens- criaturas públicas muitas vezes dissociadas da figura humana- e cuja existência, atitudes e comportamentos são transformados em um produto que é oferecido ao mercado com prazo de validade previamente estabelecido.

 

O grande desafio do profissional é tomar consciência do momento em que devem se reinventar antes de se tornar obsoletos em sua área de atuação. Ou seja, conseguir sair ainda no auge da carreira e não aguardar o período da decadência. E mais importante ainda, encontrar uma nova atividade onde possa manter seu brilho, autoestima e, de preferência, compatível com algum aspecto da sua experiência anterior.

 

A modelo Letícia Birkheuer, que se afastou das passarelas com a perspectiva de um casamento, declarou que já estava se preparando e estudando interpretação há quase um ano. "É difícil, mas bem mais inteligente, planejar um afastamento quando está tudo ainda dando certo", disse.

 

Uma das pioneiras nesta decisão foi a modelo Ana Hickmann, que dizia "ter horror só de pensar que alguém pudesse dizer que estava acabada para as passarelas". Desde sua volta ao Brasil fez carreira de apresentadora de programa em televisão e, emprestou, ou apareceu, com seu nome, em diversas campanhas publicitárias de produtos como sapatos, roupas, óculos, joias e guarda-chuvas. Apenas no ano de 2006 ela faturou mais de R$ 100 milhões em licenciamentos.

 

Para agentes e profissionais relacionados com este mundo da moda essa transição nem sempre é fácil, embora seja necessária. Outra experiência digna de observação e análise, por sua complexidade e delicadeza, é a dos artistas. Jamie Lee Curtis, atriz norte-americana, filha de Janet Leigh e Tony Curtis, decidiu que ao completar 47 anos, no ano de 2006, deveria sair de cena. Ela declarou que achava muito melhor envelhecer sem correr o risco de amargar as aflições de quem insiste em fazer de conta que o tempo não passou.

 

Referindo-se aos seus pais, ela disse que "embora eles não tenham chegado a perder a dignidade, foi muito duro vê-los encerrar a carreira". Ela diz que é muito triste ver o ator caminhar para o fundo do poço. E o pior é que ele não sabe que tudo acaba, que o telefone vai parar de tocar, que ninguém mais vai convidá-lo para as festas e que o dinheiro vai ou pode faltar. "Só espero que não interpretem minha aposentadoria como sinal de que me envergonho da minha aparência. Será apenas uma decisão inteligente. É melhor sair agora, e, desta forma, manter minha graça e dignidade", afirmou.

 

No mundo dos esportes alguns dos nomes que podem ser lembrados, como referências nesta atitude e sabedoria de afastar-se no auge de uma carreira, podemos relacionar Pelé, Gustavo Borges, Zidane, Michael Schumacker, para ficar apenas com alguns mais conhecidos.

 

A grande lição que todas estas experiências nos podem transmitir, e elas se aplicam a todas as atividades humanas, é a importância de compreender que existe um momento em que devemos nos despreender de alguma posição, carreira ou atividade. E, o ideal é fazer isto quando ainda estamos no auge, evitando uma saída melancólica. O que pode até se tornar motivo de pena dos demais.

 

Este é um bom lembrete também para empresários, executivos e outras categorias profissionais que se empolgam com o poder ou status que lhes é "emprestado" pelas corporações ou mercado. E esta iniciativa não está relacionada diretamente com a idade. Mas da necessidade de preservação da auto-estima.

 


Veículo: Valor Econômico


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