Do rico ao pobre

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O empresário Abílio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, há muito tempo olhava com olhos gordos para o latifúndio do rival Casas Bahia na base da pirâmide de renda - a de maior crescimento desde 1994 com a estabilidade da inflação, primeiro, e pelas políticas sociais e os aumentos reais do salário mínimo, depois de 2003.

 

O maior acionista da Casas Bahia, Michael Klein, em princípio não olhava para nada mais, nem precisaria: voltada ao público de menor poder aquisitivo desde a fundação por seu pai Samuel, ela crescera à base de publicidade maciça e, sobretudo, um esquema agressivo de vendas a prazo, o crediário no carnê, sem comprovação de renda.

 

Dinis e Klein agora estão juntos num negócio anunciado como fusão que cria um gigante no comércio de bens duráveis, com 1.015 lojas, 68 mil funcionários, 43 centros de distribuição e presença em 18 estados, fora os supermercados, excluídos dessa associação. O Pão de Açúcar se torna com o negócio o único grupo varejista nacional a atingir todas as letras do alfabeto das classes sociais, de A, a mais alta, à E, a menor, onde impera a Casas Bahia.

 

A ascensão gradativa e consistente da base da pirâmide de renda - 18,5 milhões de brasileiros subiram de classe social entre 2005 e 2008, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - foi um poderoso energético para o varejo, especialmente para as redes com estratégia de marketing e lojas direcionadas para tal público.

 

Esse consumidor fiel, de renda baixa, mas pontual nos pagamentos, levou a Casas Bahia a se esparramar por 12 estados e mais de 500 lojas. Suas vantagens se diluíram com a entrada maciça dos bancos e cartões de crédito no varejo de massa, tornando menos rentável o financiamento direto, com funding próprio, pelo comércio.

 

Era daí que a Casas Bahia tirava a maior parte de seu resultado: da cobrança de juros, não bem da margem operacional e giro rápido de estoques. De algum modo também a saída em agosto do irmão mais novo Saul, o responsável pela operação comercial da rede, deve ter influenciada a decisão de Michael de procurar outro parceiro.

 

O que surpreendeu foi ter aceitado trocar o status de dono pelo de sócio, ainda que mantenha, pelo acordo com Diniz, a presidência do Conselho de Administração de um negócio muito mais avantajado.

 

Dominando o varejo

 

A Casas Bahia será incorporada à divisão de eletrodomésticos e de eletrônicos do Pão de Açúcar, representada pelas lojas Ponto Frio e Extra Eletro. Ambas operam debaixo da subsidiária Globex - ela, por sua vez, a antiga holding do Ponto Frio, comprada em junho por Diniz, que vai redesenhando, e concentrando, o varejo no país, já que também é comprador no segmento de supermercados.

 

Casas Bahia e Globex, juntas, vão totalizar faturamento bruto de R$ 18,5 bilhões, e o grupo Pão de Açúcar chegará a vendas totais de R$ 40 bilhões, incluindo a rede supermercados. O Pão de Açúcar passa a equivaler, em tamanho, à soma do Carrefour, cujas vendas atingiram R$ 22,5 bilhões em 2008, ao Wal-Mart (R$ 16,9 bilhões).

 

Sócio, mas mais rico

 

Pelas ações do irmão Saul, Michael pagou, segundo os comentários, pouco mais de R$ 1 bilhão. Associado à CBD, a Cia. Brasileira de Distribuição - holding do Pão de Açúcar, partilhada por Diniz com o grupo varejista francês Casino, maior concorrente do Carrefour, também da França -, o seu patrimônio deve valorizar-se de quatro a cinco vezes, supondo-se que não tenha vendido nenhuma das ações.

 

O negócio se dará no nível da Globex, na qual Pão de Açúcar terá 51% do capital votante; Klein, 49%. Outra empresa assumirá a área comércio eletrônico das duas redes, sob controle do Pão de Açúcar.

 

Apoio à concentração

 

As conseqüências do negócio entre Diniz e Klein são grandes. Para a concorrência, implica menos oportunidade tanto para o consumidor como para a indústria. Para o setor de comunicações também, já que a Casas Bahia é o maior anunciante do país, com investimento de R$ 1,47 bilhão só no primeiro semestre, conforme o Ibope.

 

A fusão passará pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão do Ministério da Justiça responsável pela preservação da concorrência. Com histórico de inoperância, de uns tempos para cá tem se tornado mais ativo, exercendo o seu poder de veto ou exigindo a venda de ativos para diminuir a concentração.

 

Certo é que concentração do capital está na economia como onda e com apoio do governo. A idéia é criar grupos nacionais fortes, com porte para competir com empresas estrangeiras. Voltaremos ao tema.

 


Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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