Varejo: Nordeste, onde reina a Insinuante, é o novo campo de batalha pelo consumidor
Ao ser perguntado porque o Pão de Açúcar agiu tão rapidamente para comprar as operações de varejo da Casas Bahia, o presidente do grupo, Claudio Galeazzi, respondeu que se tratava de uma questão de "timing". A companhia controlada por Abilio Diniz e o grupo francês Casino queria finalizar a transação antes do fim do ano. O Pão de Açúcar correu e conseguiu impedir o avanço de concorrentes como Insinuante, Magazine Luiza, Walmart e Carrefour.
Com a aquisição do Ponto Frio e da Casas Bahia, em apenas seis meses, o Pão de Açúcar "trancou" o mercado varejista na região Sudeste. Agora, é o Nordeste que emerge como o novo campo de batalha do varejo, oferecendo aos competidores a oportunidade de mudar o jogo de forças no setor.
A Nova Casas Bahia - que une a varejista da família Klein ao Ponto Frio e às lojas Extra Eletro, do Pão de Açúcar - não tem presença significativa no Nordeste, onde o consumo cresce acima da média nacional. Assim, as demais varejistas poderão voltar suas artilharias a essa região, onde há ainda redes regionais muito interessantes.
Considerada a "rainha" do varejo nordestino, a Insinuante costumava ser vista como um possível alvo de compra, mas a rede demonstrou ter ela mesma apetite por aquisições. Luiz Carlos Batista, seu presidente, juntou-se ao fundo BTG, de André Esteves, e entrou firme na disputa pelo Ponto Frio, que também foi cobiçado pelo Magazine Luiza, que tem como sócio o fundo americano Capital.
O Valor apurou que, logo depois da venda do Ponto Frio ao Pão de Açúcar, o mercado se agitou e a Casas Bahia chegou a conversar sobre uma possível associação com Insinuante, que possui 250 lojas espalhadas pelo Nordeste, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Em agosto, o varejo mundial foi surpreendido pelas notícias de que o Walmart poderia comprar as operações do Carrefour nos mercados emergentes, negócio que, se concretizado, teria um forte reflexo no Brasil. A matriz do Carrefour em Paris negou publicamente a existência de negociações nesse sentido, mas o episódio serviu para demonstrar quão fortes são as pretensões do Walmart em se expandir na América Latina. A multinacional americana já detém a liderança do varejo no Nordeste, onde é dona da rede Bompreço, o que facilita seu avanço na região.
No contexto mundial, o acordo firmado entre Pão de Açúcar e Casas Bahia representa uma vitória para o Casino, que é bem menor que Carrefour e Walmart e sequer figura entre as 20 maiores varejistas no mundo. Em 2008, o Casino faturou cerca de € 38 bilhões e agora, com a Nova Casas Bahia, passa a controlar a maior varejista da América Latina, com vendas de R$ 40 bilhões, ou € 15 bilhões.
A operação, anunciada na sexta-feira, ainda depende da aprovação do Conselho de Defesa Econômica (Cade). Os advogados do Pão de Açúcar vão tentar provar que a associação com a Casas Bahia confere à nova empresa uma fatia de apenas 20% do varejo de eletroeletrônicos e móveis. Mas a conta não deve ser assim tão simples, já que o Cade considera o grau de concentração por região, por cidade e até mesmo em áreas menores.
Apesar de perder a liderança do varejo em Minas Gerais com a criação da Nova Casas Bahia, Ricardo Nunes, dono da Ricardo Eletro, diz que, em um primeiro momento, a aquisição beneficia os concorrentes menores. "Havia uma guerra de preços entre eles. Agora o mercado será equacionado", diz Nunes, que prevê faturar R$ 2,2 bilhões este ano e R$ 2,7 bilhões em 2010, com a abertura de mais 40 lojas no Rio de Janeiro. Sempre citado como alvo para aquisições, Nunes diz que está "aberto a negociações, mas tenho muito a realizar. Como a minha empresa é uma das poucas que claramente conta com um dono, eu ganho em agilidade. E tenho apenas 40 anos, está cedo para sair do negócio".
Nilso Berlanda, dono da rede Berlanda, com 119 lojas em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, também vê vantagem para as redes regionais. "A Casas Bahia era muito forte em queima de produtos, na mídia e no crédito. O Pão de Açúcar não tem essa característica", diz. "Agora temos um gigante do setor, finalmente. Antes havia três grandes redes brigando pelo primeiro lugar, com preços e política de crédito".
Lembrou que a Casas Bahia já vinha fechando lojas em Santa Catarina e Rio Grande do Sul nos últimos dois anos. "Será difícil que esse novo grupo venha com força para esses Estados porque existe um histórico de chegada e recuo. Não houve familiaridade com o sul do país", diz Berlanda.
No cenário traçado por Nilso Berlanda, o assédio a redes regionais deve crescer, mas ele diz que não está à venda e que pretende transformar sua rede na maior do Estado. Além de Berlanda, em SC são fortes as varejistas Koerich (80 lojas) e Salfer (157 lojas).
Veículo: Valor Econômico