Grupo de bens de consumo estreia em genéricos com compra da fabricante goiana, em negócio de R$ 1,3 bilhão
A Hypermarcas, que vem empreendendo uma impressionante escalada de aquisições nos últimos anos, anunciou ontem um de seus maiores negócios. Por R$ 1,3 bilhão, ela desbancou a multinacional Pfizer e levou a Neo Química, fabricante de genéricos e similares de Anápolis (GO). Com a aquisição, a Hypermarcas se torna a quarta maior empresa do setor farmacêutico no Brasil, e faz sua estreia no disputado mercado brasileiro de medicamentos genéricos, que cresce em ritmo duas vezes maior que o mercado tradicional. No ranking, fica atrás da Sanofi-Aventis, francesa que comprou a brasileira Medley este ano, e das brasileiras EMS e Aché.
Para o presidente da Hypermarcas, Claudio Bergamo, a compra da Neo Química foi estratégica, por representar a entrada no segmento de genéricos, que cresce a uma média de 20% ao ano. "A partir de agora, teremos um portfólio completo", diz. Em sua trajetória de aquisições dos últimos anos, a companhia entrou na área de medicamentos sem e com prescrição médica, com a DM Farmacêutica e a Farmasa, respectivamente. Com a Neo Química, essa unidade de negócios passa a responder por 40% da receita do grupo, que deve atingir R$ 3 bilhões este ano. Antes, esse porcentual era de 30%. O setor de beleza e higiene pessoal representará outros 40%, e o de limpeza e alimentos, 20%. "Vamos ampliar nosso potencial de crescimento orgânico na área de medicamentos." Segundo ele, a fabricante de genéricos deve lançar 150 produtos nos próximos três anos.
A Hypermarcas pagará R$ 678 milhões, em dinheiro, pela empresa. A atual controladora, a família Limírio Gonçalves, receberá ainda 17,5 milhões de ações ordinárias da companhia de bens consumo, o que lhe dará uma fatia de 7,3% de seu capital total. Os fundadores da Neo Química terão duas das nove cadeiras do conselho de administração da Hypermarcas. Em entrevista coletiva ontem, Bergamo afirmou que eles atuarão de "forma direta" nas decisões da unidade de medicamentos da empresa. "São pessoas com 50 anos de experiência na indústria, é importante tê-los no bloco de controle", sem detalhar quais cargos os membros da família poderão assumir.
Fundada em 2001, a Hypermarcas tornou-se uma máquina de fazer compras: foram mais de 20 em sete anos. Para concretizá-las, a companhia fez sua abertura de capital em abril do ano passado, e uma emissão de ações primárias e secundárias, captando cerca de R$ 1,5 bilhão no total. Segundo seus executivos, porém, o valor gasto nas aquisições desde a oferta pública inicial de ações (IPO) já supera essa quantia, somando R$ 3,5 bilhões. Por trás da estratégia, está a ambição do empresário e fundador da companhia João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, de criar uma gigante brasileira de bens de consumo. O modelo de inspiração é a anglo-holandesa Unilever.
Pelo menos no primeiro quesito, a empresa parece estar chegando próximo de seu objetivo. Em menos de 10 anos, passou de fabricante de lãs de aço a um grupo que administra 160 marcas em sua "cesta" - que incluem de fraldas a lâminas de barbear, passando por adoçantes e remédios. O número de funcionário saltou de 250 para 6,5 mil, com a compra anunciada ontem. Os investimentos agressivos em marketing também a colocaram no ranking das maiores anunciantes do País. Ela pulou da 32ª posição em 2007 para a 7ª no ano passado no ranking da publicação anual Agências & Anunciantes, do grupo Meio & Mensagem. De acordo com Bergamo, a empresa investe 20% de seu faturamento em propaganda.
NOVAS COMPRAS
A Hypermarcas diz ter fôlego para mais negócios. Segundo seu presidente, a companhia ainda tem R$ 500 milhões em caixa e uma relação de dívida líquida sobre o Ebitda (potencial de geração de caixa) controlada. "Com a Neo Química, essa relação foi para 2,5. Podemos chegar até 3", diz Bergamo. A diversificação continuará dando a tônica das aquisições da empresa. Hoje, nenhuma das linhas de produto responde por mais de 5% do faturamento da companhia. Segundo o executivo, é uma forma de evitar dependência de certos mercados. O foco, porém, continua sendo as classes C, D e E.
ROTA DE AQUISIÇÕES
2002: Inicia operações com aquisição da Prátika Industrial, fabricante da Assolan
2006: Aquisição das marcas Etti e Salsaretti, de alimentos
2007: Empresa muda nome para Hypermarcas
2007: Em junho, compra a DM Farmacêutica, dona de marcas como Cenoura & Bronze e Monange, e de medicamentos sem prescrição, como Doril e Engov
2007: Compra marca de adoçantes Finn
2008: Em março, compra a Eh, de xampus e condicionadores
2008: Em abril, estreia na Bolsa
2008: Em junho, incorpora a Farmasa, detentora de marcas como Rinosoro e Tamarine
2008: Em julho, compra a Ceil Distribuidora, controlada da Revlon e dona das marcas Bozzano e Aquamarine, entre outras
2008: Compra a Niasi, dos esmaltes Risqué e tintura Biocolor
2009: Em julho, capta R$ 793 mihões em oferta de ações
2009: Em setembro, adquire Hydrogen, de cosméticos infantis
2009: Compra fraldas Pom Pom e preservativos Jontex e Olla
2009: Compra laboratório de genéricos Neo Química
Veículo: O Estado de S.Paulo