A volta da Acer ao Brasil

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Segunda maior fabricante de computadores do mundo retorna ao País e promete uma guerra de preços para alcançar a liderança no segmento de notebooks

 
 
No final de novembro, o americano Mark Hill desembarcou no aeroporto Augusto Severo, em Natal, no Rio Grande do Norte. Na mala, no lugar das roupas de banho e do protetor solar, trazia um dicionário português-inglês e um bloco de anotações. Ele chegou à cidade determinado a entender melhor o hábito de compra dos nordestinos. Nos últimos meses, desvendar o mercado brasileiro se tornou sua obsessão. Mark Hill é diretor-geral da empresa taiwanesa Acer nos EUA, a segunda maior fabricante de computadores do mundo. Mas, desde maio, ele é também o responsável pelo retorno da companhia ao Brasil. "Mercados emergentes, especialmente o Brasil, vão nos ajudar a atingir a liderança mundial em computadores, quem sabe até no próximo ano", disse Hill, em entrevista exclusiva à DINHEIRO.

 

Seis anos após sair do País, a taiwanesa se instalou discretamente em São Paulo, mas com planos ambiciosos. A empresa pretende investir aproximadamente R$ 500 milhões para a compra de componentes e peças para a montagem de computadores em 2010. A produção prevista para o próximo ano é de 400 mil notebooks e netbooks. As contas não fecham. A não ser que o objetivo seja "comprar" mercado e operar no vermelho. "Chegamos para promover uma guerra de preços", afirma Hill. Com isso, quer atingir o topo do mercado de notebooks para o consumidor final. "Não vai ser fácil, mas não é impossível", prevê o analista da consultoria IDC, Luciano Crippa.


 
A operação brasileira de hoje pouco tem a ver com a dos anos 90. "Quando chegou ao Brasil, naquela época, a Acer era desconhecida e mais focada no segmento corporativo", lembra Sidnei Brandão, que era funcionário da ACBr, uma associação entre empresários brasileiros e a Acer. A companhia também fabricava computadores para outras empresas, como HP e IBM. Mas, em 2003, passou por uma reformulação, deixou de fabricar para terceiros e decidiu deixar o País para focar em sua própria marca.

 

Neste novo desembarque, a companhia terá uma estrutura enxuta. Com exceção da parte administrativa, tudo será terceirizado. Da montagem de produtos até a distribuição. "Isso nos permite ter uma cobertura de vendas pelo Brasil e agilidade no lançamento de produtos, com custos reduzidos", afirma Hill, que desde agosto mora com a família no bairro do Morumbi, em São Paulo.

 

Outra grande mudança é o foco em computadores portáteis para o varejo. "Queremos mudar o jeito do consumidor comprar PCs. Se trouxermos ao mercado notebooks com preços competitivos, ele vai deixar de comprar desktops", diz o diretor-geral da Acer no Brasil. Os primeiros sinais dessa estratégia já começam a aparecer. No dia que DINHEIRO visitou a Compal, uma das três fábricas responsável pela montagem dos equipamentos da empresa, o telefone do gerente de varejo da companhia, Sergio Bruno, não parou de tocar.


 
PRODUÇÃO LOCAL: A empresa vai investir R$ 500 milhões na compra de componentes e peças para produzir 400 mil notebooks e netbooks em 2010 no Brasil
"É a concorrência do varejo querendo negociar com a gente", afirma Bruno. Resultado: em menos de uma semana, os produtos nacionais da Acer chegaram ao Walmart, ao Ponto Frio, ao Extra, ao magazineluiza.com e às lojas online Submarino e Americanas. "Os fabricantes asiáticos são uma força crescente no negócio global de PCs devido à sua política agressiva de preços, juntamente com a sua capacidade de reagir rapidamente às novas tendências do mercado", disse o analista da iSuppli Matthew Wilkins. Hoje já é possível encontrar netbooks da Acer por R$ 799 na internet. Mas a companhia também vai oferecer uma linha mais sofisticada, com produtos de até R$ 2.799. Até o Natal, um notebook com as cores da Ferrari deve chegar às lojas.

 

O próximo passo será trazer ao Brasil a marca Gateway, linha de produtos mais sofisticada, além da mais nova grande aposta da companhia: os smartphones. Em setembro de 2008, a Acer comprou a taiwanesa E-Ten por US$ 275 milhões para expandir sua atuação nesse mercado. Até agora, a Acer já lançou uma dezena de celulares inteligentes na Europa e na Ásia. "Estou ansioso para trazer esses produtos ao Brasil", revela Hill.

 

Se a Acer conseguir repetir no Brasil o que tem feito lá fora, tudo indica que dará muito trabalho à concorrência. Fundada como uma empresa de design de microprocessadores em 1976, em outubro deste ano, ela ultrapassou a Dell e se tornou a segunda do ranking mundial de PCs. Esta atrás apenas da HP. "Agora chegou a hora de promover uma forte mudança no mercado brasileiro. Preparem-se", alerta Hill.

 


Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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