A divulgação da Pesquisa CNT de Ferrovias 2009, a terceira realizada pela Confederação Nacional de Transportes sobre o setor, e tal como vem de ser divulgada, expõe os avanços e descompassos do sistema de transporte ferroviário, suas limitações, ineficiências e potencialidades, identificando os principais gargalos logísticos existentes e estimando, a um só tempo, os investimentos necessários para eliminá-los.
De acordo com o respectivo relatório, ocupações irregulares próximas aos trilhos, cruzamentos perigosos e mal sinalizados nas áreas urbanas sobressaem, no atual estágio, como os principais entraves para o desenvolvimento do sistema ferroviário brasileiro. O documento revela, por sinal, a esse respeito, que 327 invasões e 12.289 passagens de nível - como são chamados os pontos de compartilhamento da linha do trem com o tráfego urbano - contribuem para a baixa eficiência do serviço.
O levantamento realizado constatou, por outro lado, que nas áreas mais afetadas por esses problemas o desempenho operacional é reduzido e a velocidade média passa de 40km/h para 5 km/h. A baixa velocidade, aliás, é um dos principais fatores que provocam a perda de participação das ferrovias no transporte de carga no Brasil, tendo a pesquisa revelado também que o custo do frete, a confiabilidade dos prazos e a falta de disponibilidade de vagões especializados prejudicam significativamente o serviço.
A partir do diagnóstico técnico efetuado e da avaliação que dele decorre, os números apontados pela CNT revelam que para atingir a rede ideal de infraestrutura do setor seriam necessários, nos próximos 20 anos, investimentos de R$ 54,5 bilhões, sendo pelo menos R$ 25,8 bilhões em projetos de eliminação de gargalos e R$ 17,7 bilhões para expansão da rede. Quanto a esta, a necessidade de ampliação seria de 29.817 quilômetros para 40.827 quilômetros, considerando-se, segundo o estudo, que a expansão da malha possibilitará que o transporte ferroviário possa agregar mais clientes e aumentar a participação na matriz de transporte nacional.
Para a CNT, do ponto de vista logístico sete projetos de expansão da malha ferroviária são prioritários, ou sejam, a construção do trecho Alto Araguaia-Rondonópolis (MT), do trecho Inocência - Água Clara (MS) Nova Transnordestina, da Ferrovia Oeste-Leste (BA), da Ferroviária Litorânea Sul (ES), ampliação da malha ferroviária em Santa Catarina e a construção do segmento Aguiarnópolis- Palmas (TO), dentro do trecho Norte da Ferrovia Norte-Sul. Segundo o presidente da seção ferroviária da entidade, Rodrigo Vilaça, recursos teriam que ser disponibilizados pelo poder público, ocorrendo, entretanto, como ressaltou, que "o orçamento é reduzido, muitas vezes contingenciado, e o que resta é distribuído em outros modais".
Cumpre levar em conta que as ferrovias são responsáveis atualmente por 25% dos transportes de cargas no País, sobressaindo a continuidade de evolução do setor, tanto mais em face das nossas dimensões continentais, como elemento básico de uma política nacional de transportes equilibrada e na qual as diferentes modalidades se complementem, harmonicamente, de acordo com as peculiaridades de cada uma, em favor da integração nacional.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ