Para milhões de brasileiros que pertencem às classes D e E, 2009 foi o ano em que eles deixaram de lavar louça com sabão em pedra para usar detergente líquido. Embora pareçam pouco importantes, mudanças de hábitos de consumo como essa - ocorridas com a parcela mais pobre da população - foram o principal destaque do consumo de bens não duráveis no país, segundo estudo da LatinPanel, divulgado ontem. A pesquisa apontou que, na hora de ir ao supermercado o brasileiro com renda familiar de até R$ 1.840 consumiu itens que antes não podia comprar.
"O número de categorias no carrinho de compras desses brasileiros saltou de 15 produtos para 18, na comparação com o mesmo período de uma ano atrás. Eles passaram a incluir água sanitária, detergente líquido e massa instantânea em todas as compras que fizeram nesse terceiro trimestre", explica Christine Pereira, diretora comercial da LatinPanel.
Assim como os mais pobres, as classes C e A/B também passaram a comprar com frequência itens que antes não consumiam. O carrinho da classe C, por exemplo, passou de 17 itens no terceiro trimestre de 2008 para 22 agora. Os itens agregados foram iogurte, limpadores multiuso, salgadinhos e massa instantânea. Já as classes AB elevaram o número de itens de 24 para 25.
"Isso significa que a penetração da maior parte dos produtos aumentou", explica Christine. "Mais lares estão comprando regularmente o que antes não compravam ou só compravam esporadicamente", completa ela.
Por isso, na média, a pesquisa apontou que o consumo de bens não duráveis cresceu 9,7% em volume no terceiro trimestre, em relação a igual período de 2008. De janeiro a setembro, a alta no consumo de bens não duráveis foi de 0,8% em volume médio em relação aos primeiros nove meses de 2008.
Tanto em uma comparação como em outra, as maiores altas foram registradas entre os consumidores das classes De E. No trimestre, esse grupo comprou 16,8% mais em volume. A classe C consumiu 7,7% mais e a AB, 5,2%. Nos nove primeiros meses do ano, o grupo DE foi o campeão de consumo, com 17% mais compras em volume. A classe C consumiu 9% mais e a AB, 7%. A média geral de janeiro a setembro somou elevação de 10,8% sobre o mesmo período de 2008.
As classes D e E puxaram a expansão, com 14,3% de aumento de gastos. O segundo maior crescimento se deu na classe AB (9%). Seguida pela classe C (8,4%).
Refletindo a compra de mais produtos, o gasto médio pelas famílias com as cestas de alimentos, bebidas, higiene pessoal e produtos de limpeza também cresceu: 10,7% no terceiro trimestre de 2009, ante o mesmo período de 2008 e 12% entre janeiro e setembro deste ano. "Houve estabilidade de preços na maioria dos itens", explica a executiva da LatinPanel. "Esse fator, mais o fato de a população ter alcançado mais renda explicam a alta no consumo", diz. "A prova disso é que somente categorias que tiveram aumento de preço neste ano - como polpas e molhos de tomate e absorventes femininos - apresentaram queda nas vendas em volume", diz Christine.
"O consumidor brasileiro está confiante e por isso ele compra mais", afirma José Reinaldo Riscal, gerente de produtos da Nielsen. O instituto analisou o nível de confiança do consumidor em 54 países entre 28 de setembro e 16 de outubro deste ano. Na comparação com as outras nações analisadas, o brasileiro ficou em quarto lugar, com 108 pontos, perdendo apenas para Índia (120 pontos), Indonésia (115 pontos) e Noruega (110 pontos). "O índice de confiança acompanha as mudanças no estilo de vida da população e o brasileiro tem consumido mais", afirma Riscal.
Veículo: Valor Econômico