Barilla, a família que produz massa para 10 bilhões

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Alimentos: Dirigentes dizem que negócio não é lucrativo, mas família não poderia estar mais feliz

 

Para um homem nascido em um império de massas, na cidade que se auto-denomina a capital da culinária italiana, Paolo Barilla parece cansado dos produtos que fizeram a fortuna de sua família. Os Barilla vem fazendo massas em Parma desde 1877 e atualmente produzem o suficiente para encher 10 bilhões de pratos fundos de macarrão por ano.

 

É trabalho duro. As massas, como destaca Paolo, estão entre os produtos mais baratos do mundo e é difícil empurrar os lucros para cima. "Não aconselharia ninguém a entrar no negócio de massas, a menos que tenha uma forte atitude de disciplina", diz Paolo, de 48 anos, o mais jovem dos três irmãos que administram a empresa.

 

"O lucro que se obtém com massas está todo na eficiência que se pode extrair da [produção]. Não se pode ter uma margem além dessa. Portanto, não é um negócio atrativo dessa perspectiva."

 
 
O ex-piloto profissional de automobilismo, alto e sério, concedeu rara entrevista na Academia Barilla, em Parma, um centro de marketing e culinária, com uma biblioteca de gastronomia, criado em 2004 no local da primeira fábrica da Barilla. A empresa também estabeleceu um centro de nutrição que avalia as questões do setor de forma mais abrangente.

 

Durante o almoço, com presunto de Parma e quatro tipos de queijos, Paolo admite que, em quase todos os outros sentidos, a família não poderia estar mais feliz. "Gostamos do negócio de massas", diz. "É a origem de nossa empresa, o produto italiano quintessencial e, provavelmente, são as calorias mais baratas que se podem comprar."

 

As massas foram boas para a família. A Barilla é a maior produtora mundial, com receita em 2008 de € 4,5 bilhões. Emprega 16 mil funcionários.

 

Os irmãos Barilla - Guido, 52, é o presidente do conselho de administração, e Luca, 50, é o vice-presidente, juntamente com Paolo - detém 85% da empresa, ao lado da irmã Emanuela. A família Anda, da Suíça, é dona dos 15% restantes.

 

Há uma reviravolta interessante nessa história de controle familiar. Em 1971, seu pai vendeu a empresa para a multinacional WR Grace, dos Estados Unidos, enquanto a Itália caía em anos de terrorismo, que muitas vezes tinha os empresários como alvos.

 

"Muitas empresas italianas foram vendidas a multinacionais nos anos 70", diz Barilla. "Lembro de meu pai assistindo às notícias e ficando assustado."

 

A família recomprou a empresa em 1979. Recentemente, expandiu-se no exterior. Sua maior aquisição unitária foi a Kamps, uma empresa alemã de pães, comprada por € 1,8 bilhão em 2002. A empresa mostrou-se difícil de ser integrada, mesmo com o setor de pães também sendo um negócio baseado em grandes volumes.

 

"A Alemanha foi uma história infeliz", diz Paolo. "Quando se expande no exterior, é preciso aprender todas as regras nacionais e culturais não escritas. Julgamos mal o negócio de pães diários. É difícil elevar preços na Alemanha - um país de redes de desconto. Mas a empresa agora está estável e estamos mantendo-a. Temos que ser fortes na Europa porque é [como se fosse] um [só] país."

 

Como muitas outras famílias italianas no ramo de alimentos, os Barilla são em geral desconhecidos fora da Itália, mesmo com seus produtos frequentando tantas mesas por todo o mundo. Em Parma, no entanto, são uma presença importante. "Há uma longa história de bom relacionamento entre a família e a cidade", conta Paolo.

 

A família não é especialmente abastada, afirma. "Meu pai não era um acumulador. Ele não se sentia confortável com esse [estilo de vida] e acredito que tenhamos herdado essa característica. Em termos absolutos, somos muito ricos. Somos donos de uma grande empresa, vivemos uma vida boa e somos felizes com o que temos. Mas em termos de dinheiro, não."

 

Listar ações da empresa em bolsa não é algo na agenda. A Barilla deverá ser passada para os sete filhos dos irmãos mais velhos de Paolo (ele não tem crianças).

 

Ele é pessimista sobre o futuro econômico imediato - acredita que o consumo não se recuperará até 2012. Mas nem ele, nem seus irmãos desejam ver a Barilla expandir-se demais. "Daqui a 20 anos, eu gostaria de ver a Barilla mais forte, saudável e segura", diz. "Se for todas essas coisas, estará grande o suficiente."
 

 

Veículo: Valor Econômico


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