Projetos de "plástico verde" vão atrair até US$ 3 bi em três anos

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O mercado de álcool químico deverá receber investimentos bilionários, que podem oscilar entre US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões nos próximos dois a três anos, segundo analistas ouvidos pelo Valor. Os recursos serão destinados ao desenvolvimento da chamada rota do eteno, em substituição à nafta, derivada do petróleo, como matéria-prima para produção de derivados químicos e plásticos.

 

Grandes companhias, entre elas a Braskem, braço petroquímico do grupo Odebrecht, e multinacionais, como Dow Química, Rhodia, DuPont e Amyris, estão focando seus investimentos nesse mercado, que hoje gira um volume bem pequeno, de cerca de 1 bilhão de litros de etanol para as indústrias químicas por ano. A expectativa, contudo, é de que o volume possa chegar a 5 bilhões de litros nos próximos três anos e até 10 bilhões de litros em cinco anos, segundo Júlio Maria Martins Borges, presidente da consultoria Job Economia e Planejamento.

 

Para se ter uma ordem de grandeza, para cada dois litros de álcool químico se produz um quilo de "plástico verde", observa Jaime Finguerut, engenheiro químico do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), de Piracicaba (SP).

 

A rota do eteno não vai substituir 100% a nafta, e nem é intenção que isso aconteça. Vale lembrar que o Proálcool, programa criado nos anos 70 com o objetivo de transformar o etanol em combustível, trouxe grandes avanços ao mercado interno e hoje o álcool hidratado responde por cerca de 50% do combustível consumido no país. Além disso, o etanol anidro é misturado à gasolina em 25%.

 

Os esforços para fomentar o mercado de álcool químico já começaram. A primeira fábrica dedicada a esse segmento está sendo erguida pela Braskem, em Triunfo, no Rio Grande do Sul, para a produção de eteno e polietileno a partir do etanol. A perspectiva é de que a produção tenha início já este ano. O investimento estimado na unidade pode chegar a R$ 500 milhões.

 

A Dow Chemical tem um projeto orçado em até US$ 1 bilhão para construir uma unidade gigante com esse objetivo. O projeto inicial previa a instalado em Santa Vitória, em Minas Gerais, em parceria com a Santelisa Vale, que foi incorporada pela francesa Louis Dreyfus. A unidade já estaria em andamento, mas o plano parou temporariamente por conta da crise que se abateu sobre a Santelisa. A Dow garante que, se a parceria com a francesa não se concretizar brevemente, pretende buscar outro sócio estratégico para tocar o projeto.

 

Em comunicado enviado ao Valor, a Dow informou que "continua interessada nos benefícios que esse projeto trará para o crescimento da empresa no Brasil, assim como nos avanços no desenvolvimento de materiais renováveis e bioenergia, prezando pela reputação da Dow como líder mundial em química sustentável". Segundo a companhia, o mercado de polietileno na América Latina é um dos mais estratégicos para a multinacional e "nós seguimos comprometidos com o fortalecimento da posição de liderança da Dow na região." Ainda de acordo com a empresa, "uma fábrica com escala mundial no Brasil, utilizando um recurso renovável de etileno, continua sendo uma prioridade para a Dow e um componente estratégico para nosso compromisso de longo prazo com o mercado brasileiro".

 

"Houve uma euforia com a viabilidade de se investir na rota de eteno a partir do etanol quando os preços do barril do petróleo atingiram o pico de US$ 140 (junho de 2008). Depois a situação esfriou com a crise financeira a partir de setembro de 2008, e os preços do petróleo chegaram a ficar abaixo de US$ 40 o barril (no início do ano passado). A perspectiva é de que os preços do petróleo fiquem em torno de US$ 70 a US$ 80 (este ano), o que torna novamente os projetos viáveis", disse Borges. Na quinta-feira, último pregão de 2009, o barril do WTI, negociado em Nova York, fechou cotado a US$ 79,36. No ano, a alta foi de 78%.

 

"A busca por produtos verdes, com matéria-prima renovável, tem se tornado prioridade para muitas empresas", afirmou José Carlos Grubisich, presidente da ETH Bioenergia, também do grupo Odebrecht. A ETH vai fornecer álcool químico para a fábrica da Braskem.

 

Em dezembro, a empresa americana Amyris firmou uma joint venture com a usina Boa Vista, de Goiás, do grupo São Martinho, para produzir especialidades químicas à base do caldo de cana. Nessa joint venture, as duas empresas vão investir US$ 50 milhões para construir uma fábrica ao lado da usina Boa Vista. A Amyris desembolsou R$ 140 milhões para adquirir participação na usina e outros R$ 90 milhões serão aportados pelas duas empresas para elevarem a capacidade de produção de cana daquela unidade. A Amyris também fechou acordo comercial com os grupos Cosan, Bunge e Açúcar Guarani, controlada pela Tereos. Neste mês, a empresa anunciará outra joint venture para dar continuidade aos seus projetos. A americana detém a tecnologia que permite a produção de farneseno, um componente químico resultado da fermentação do caldo de cana com leveduras. O farneseno é utilizado como matéria-prima para a produção de lubrificantes, cosméticos, diesel e combustíveis de avião.

 

Grubisich, da ETH, lembra também que além da produção de plástico a partir do etanol, o álcool químico é matéria-prima para o acetato de etila e para solventes, utilizados em larga escala por grandes companhias químicas do pais.

 

Empresas como a Rhodia, que tem planos para o etanol, e a Solvay, são grandes compradoras do produto para esse fim. "O mercado voltou a amadurecer esta ideia e deverá se desenvolver rapidamente, considerando que os preços do petróleo dificilmente ficarão abaixo de US$ 70 a US$ 80 o barril nos próximos anos", disse Borges.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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