Mercado interno no foco da Café do Centro

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O sentimento de que o brasileiro está tomando um café de mais qualidade já se reflete na estratégia das torrefadoras. Empresas como a Café do Centro, uma das principais indústrias produtoras de cafés especiais do país, apostam no mercado interno para expandir seus negócios.

 

Em 2009, os produtos de qualidade superior já representaram 50% da receita de R$ 30,5 milhões. Quatro anos antes, os cafés especiais mal chegavam a 10% dos negócios do grupo, que também opera no segmento de grãos tradicionais.

 

O mercado doméstico é hoje alvo de praticamente todas as cadeias do agronegócio. De frigoríficos até indústrias de óleos vegetais, as empresas não ignoram as exportações, mas as maiores apostas se voltam para a demanda doméstica depois do forte crescimento da classe "C".

 

Há dez anos, quando para se beber um bom café era preciso ir até uma cafeteria em regiões nobres de São Paulo ou Rio de Janeiro, poucas empresas se dedicavam ao segmento "gourmet". Uma década depois, o consumo das variedades mais nobres ainda é pequeno - cerca de 465 mil sacas de 60 quilos por ano -, principalmente se comparado à demanda doméstica total. Esse volume, no entanto, se aproxima de todo o consumo de café da Argentina (500 mil sacas) e é maior do que a demanda de Peru, Equador, Paraguai e Bolívia juntos.

 

Para Rafael Branco Peres, sócio de seu primo, Rodrigo Branco Peres no Café do Centro, hoje, o crescimento da empresa se dá nos produtos de qualidade superior. "Esperamos que os cafés especiais um dia representem 90% de nossa receita", afirma ele. O empresário observa que o faturamento total da empresa no ano passado cresceu 15% - no segmento de cafés gourmets, a receita da empresa avançou 40% em comparação a 2008. Para este ano, a expectativa é manter o ritmo, impulsionado pela recuperação da economia e também pelo aumento do consumo, especialmente na classe "C".

 

Dedicando-se ao segmento denominado pela sigla "Horeca" (hotéis, restaurantes e cafeterias), os primos revelam que o aumento no consumo de cafés de melhor qualidade ocorre fora da região central de São Paulo e em cidades do interior, onde o hábito de consumo está mudando. "Os estabelecimentos perceberam que podem perder cliente se o café não tiver um padrão mínimo de qualidade. Além disso, conseguimos demonstrar para eles que o volume de vendas cresce quando o produto é superior", afirma Rodrigo.

 

Para alavancar ainda mais as vendas da empresa no segmento de especiais, Rafael aposta em duas linhas de ação. A primeira é o lançamento de novos produtos para abastecer os clientes já existentes. A segunda é se dedicar a produzir marcas próprias de cafés superiores para redes de cafeterias e também postos de gasolina. É o caso da rede Graal de postos, que já tem uma marca de café fino chamada Rote Café.

 

Por conta dessa mudança de hábito, a própria Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) prevê alterações na distribuição do consumo dentro do setor. Dados da entidade indicam que, atualmente, 95% do consumo de café no Brasil estão concentrados na categoria "tradicional", enquanto os outros 5% são divididos entre "superior" e "gourmet". A meta é fazer com que as duas últimas categorias dividam 15% do consumo nacional nos próximos cinco anos.

 

Enquanto o Café do Centro se dedica a abastecer o segmento "Horeca" no mercado interno, no externo, os planos são outros. Além de exportar para vários países, a empresa pretende entrar de vez no setor de franquias no Japão. Hoje, com duas lojas próprias e uma franqueada, a meta é terminar 2010 com pelo menos 10 unidades e possibilidade de chegar a 15 até o fim do ano.

 

O Japão é o terceiro maior consumidor de café do mundo com uma demanda de 6,25 milhões de sacas. O país está atrás apenas de Estados Unidos (22 milhões) e do Brasil (18,5 milhões) e junto com outros da Ásia está elevando o consumo da bebida. Segundo Rodrigo Branco Peres, a empresa tem conversado com investidores da Coreia do Sul, Taiwan e das Filipinas para que um modelo semelhante ao adotado no mercado japonês seja criado.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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