Faltam novos talentos para o mainframe

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Tecnologia: Empresas oferecem salários acima da média do setor para atrair os mais jovens.

 

O mainframe não morreu. Os grandes computadores, preferidos por bancos e empresas de telecomunicações, continuam em alta no mercado de TI e abrem oportunidades de trabalho tanto para especialistas veteranos, entre 40 e 60 anos, como para iniciantes na carreira. "O Brasil é o terceiro país que mais compra essa solução no mundo, depois dos Estados Unidos e da Alemanha", garante José Eduardo Vilela, gerente de relacionamento com universidades para a área de mainframe da IBM, que oferece os equipamentos há 45 anos.

 

Para acompanhar a evolução das máquinas, capacitar e renovar os quadros de funcionários, empresas como IBM, Bull e BMC Software investem em programas de treinamento. Ao lado de profissionais experientes, cada vez mais escassos no mercado, as companhias querem atrair "sangue novo" nos bancos das faculdades. Os salários servem como atrativo. Estão acima da média do mercado da área de TI e começam com R$ 7,5 mil mensais. "Mas podem chegar a R$ 20 mil, no caso de executivos seniores", diz Ilana Lissker, sócia da Search Consultoria em Recursos Humanos.

 

A IBM, por exemplo, montou iniciativas para a capacitação de jovens profissionais e deve garantir um banco de talentos para o futuro. A preocupação da fabricante não é gratuita: no primeiro trimestre de 2009, a tecnologia mainframe acusou um aumento de 17% na receita proveniente de países emergentes. "A maioria dos especialistas do mercado está acima dos 30 ou 40 anos", justifica Vilela. Uma das ações de formação é o Academic Initiative, programa mundial que costura parcerias com universidades. Já há acordos de cooperação com cerca de 50 instituições de ensino no Brasil. Para se ter uma ideia, desde 2006, foram treinados 3,2 mil alunos em mais de dez cidades com material didático, profissionais da IBM e acesso aos mainframes da empresa. "Cerca de 80% dos estudantes estão na graduação, 10% em turmas de pós-graduação e 10% pertencem a escolas técnicas e de ensino médio."

 

Rene Fernandez, de 22 anos, é formado em sistemas da informação e pós-graduando em mainframe. Ele participou do Academic Initiative e foi contratado pela IBM como especialista técnico em banco de dados para mainframe (DBA). "Quando saí da universidade, nunca tinha ouvido falar do assunto, e um amigo sugeriu que eu trabalhasse com o desenvolvimento de Cobol, a linguagem das máquinas de grande porte", lembra. De uma turma de 40 universitários, Fernandez acredita que seguiu o caminho sozinho. "Todos buscaram colocações na área de software e redes". Antes de ingressar na IBM, trabalhou em uma multinacional mexicana com operações no Brasil. "Acabei me destacando porque era o único que entendia de mainframes."

 

Segundo Vilela, o caso de Fernandez prova que o interesse pelos grandes servidores está em alta no mercado profissional. Em 2006, no seu primeiro ano de atividades, o Academic Initiative da IBM envolveu 267 alunos em seis cursos. Em 2008, passou para 711 estudantes em 27 cursos. No ano passado, foram 47 cursos e 1,2 mil treinandos, e 2009 deve terminar com 44 cursos e 1,5 mil alunos. "Há uma inovação tecnológica na plataforma e isso atrai os mais jovens." O formato do mainframe também mudou. Aquela velha imagem de um computador gigante que ocupava toda uma sala foi substituída, a partir do final da década de 1990, por máquinas menores, do tamanho de uma geladeira.

 

A IBM também usa, há dois anos, um concurso para selecionar estudantes da área. Inclui tarefas práticas para alunos do ensino técnico e superior e os primeiros colocados tornam-se aptos a participar de processos seletivos da companhia. Em 2007, o concurso recebeu mais de dois mil inscritos e nove participantes foram contratados. No ano passado, o volume de inscritos subiu para três mil.

 

Para Ilana Lissker, da Search, a demanda por profissionais especializados em mainframe aumentou de 5% a 15% nos últimos cinco anos. "Os mais procurados são os profissionais que fazem desenvolvimento de novas aplicações ou atualizações nos sistemas das empresas". Entre 2008 e 2009, a consultoria recrutou três especialistas para o mercado financeiro e indústria. "É difícil encontrar profissionais especializados e há uma dependência de candidatos mais experientes que conhecem a tecnologia há pelo menos 12 anos."

 

A gerente de projetos de mainframe da consultoria Stefanini IT Solutions, Ana Angélica Pinheiro, 46 anos, trabalha na área há 20. Na empresa desde 2005, começou a carreira na Natura, no final da década de 1980, e hoje gerencia operações de integração de dados de grandes bancos, como Itaú Unibanco.

 

Com uma equipe de 25 programadores e três coordenadores, viu o quadro ganhar mais dez vagas no ano passado e acabou descobrindo o equilíbrio entre profissionais veteranos e novatos. "Os mais antigos na área possuem grande experiência em mainframe e não dominam as novas tecnologias. Já os mais novos conhecem os padrões recentes, mas não têm conhecimento em mainframe". Segundo Ana, os novatos se interessam pouco pelo segmento porque as universidades não têm disciplinas específicas sobre o assunto- somente para linguagens e tecnologias padrões de mercado, ligadas à microinformática.

 

Na Elumini IT & Business Consulting, consultoria de soluções de TI para grandes corporações como Bradesco e Citibank, 12% da receita vem da área de mainframes. A companhia tem 450 funcionários e 60 são especializados no setor. "O profissional precisa ter uma excelente visão de negócio, conhecimento de engenharia de software e de integração com sistemas", diz Ethelberto Mello Neto, gerente de produtos e serviços mainframe da Elumini. "Hoje, poucos executivos da área têm menos de 40 anos". De olho na renovação do quadro, a Elumini criou em 2007 um programa de trainees para capacitar universitários e recém-formados - os melhores alunos são contratados.

 

Na BMC Software, considerada uma das dez maiores empresas de software do mundo, com um faturamento de US$ 1,8 bilhão, mais de 40% dos contratos vêm da área de mainframe. Nos últimos três anos, a plataforma apresentou um crescimento de 56%, 60% e 62%, respectivamente, nos negócios da empresa. "Dos 5,8 mil funcionários em todo o mundo, cerca de 1,5 mil são especializados em mainframe", diz Olimpio Pereira, diretor da unidade de serviços da área para a América Latina da BMC.

 

No Brasil, não é fácil encontrar especialistas na área, de acordo com Pereira. "O mainframe teve sua morte precocemente anunciada, o que eliminou investimentos em treinamento e desenvolvimento de pessoal". A BMC combate o problema com cursos sob demanda e mantém sete colaboradores e parceiros para dar aulas sobre a tecnologia.

 

"A escassez de profissionais experientes atrai, cada vez mais, jovens interessados pelos salários do setor", diz Alberto Araújo, diretor presidente da Bull América Latina. A empresa, dona de um faturamento de US$ 75 milhões, é uma das pioneiras da indústria do mainframe. O escritório regional tem 500 funcionários e 20 engenheiros especialistas na plataforma - a idade média da equipe técnica é de 34 anos.

 

"O conhecimento acumulado por esses profissionais é estratégico para a companhia, que reserva pelo menos dez dias úteis por ano para a formação dos técnicos". Segundo Araújo, o advento do "cloud computing", ou computação em nuvem, representa uma mudança fundamental na indústria de TI e deve ajudar a cultura dos mainframes a se destacar ainda mais nas empresas. "Para operar essa linha, fornecedores e clientes buscarão competências técnicas só existentes em profissionais com experiência no ambiente mainframe."

 

De acordo com os especialistas, o profissional deve demonstrar também conhecimento de programação e experiência na implementação de programas. "E saber trabalhar com linguagens e tecnologias como Cobol, Natural e DB2", ressalta Tadeu Portas, diretor da DTS Consulting, que tem 80% dos negócios gerados a partir de projetos de mainframe.

 

Para captar mão de obra, a DTS criou um programa de treinamento que seleciona candidatos nas universidades. Os estudantes são treinados em até seis meses e os melhores são contratados como trainees. "O profissional só estará realmente produtivo depois de, no mínimo, um ano." Em 2009, a DTS diplomou 46 técnicos com idades entre 19 e 30 anos. "Não é fácil recrutar pessoal porque os melhores profissionais estão em cargos de coordenação e gerência."

 

Com 63 anos, Luiz Fadel, "distinguished engineer" da IBM, está na empresa há 40 anos. "Trabalho com mainframe desde que entrei na companhia", afirma. Fadel começou como técnico de suporte e hoje ajuda o time de vendas da América Latina a mostrar aos clientes as vantagens da solução. Também faz parte do grupo de executivos que recebe informações avançadas sobre as novas funções das máquinas. "O especialista em mainframe deve ter grande habilidade de análise, conhecimento das características da tecnologia e capacidade para trabalhar em grupo", diz.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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