Farmacêutica: Multinacional Pfizer, que deixou escapar a Neo Química, também está no páreo
O grupo Hypermarcas está cercando a Teuto de todos os lados. O laboratório farmacêutico nacional, com sede em Anápolis (GO), é estratégico para as ambições da companhia, que quer avançar em medicamentos genéricos no país. Fontes ouvidas pelo Valor afirmam que as negociações estão em andamento, mas que a americana Pfizer também tem forte interesse no laboratório goiano.
Em dezembro, a Hypermarcas anunciou a compra da Neo Química, também de Goiás, por R$ 1,3 bilhão, tornando-se a quarta maior em medicamentos no país. Líder em vendas de remédios OTC ("over the counter" ou depois do balcão) e com posição consolidada em medicamentos similares, a companhia também está em conversações para ter o BNDES, por meio do BNDESPar, como sócio. Procurada, a empresa informou que "está constantemente em tratativas e entendimentos com diversos agentes do mercado (...), inclusive com o BNDES, mas que ainda não possui contrato relevante assinado (...)". Já sobre a Teuto, a empresa não comenta o assunto.
"Ter o BNDES como sócio faz todo sentido para Hypermarcas, que está alavancada por conta das recentes aquisições e que pretende fazer novas aquisições. O mesmo vale para o BNDES, que quer inibir o avanço de multinacionais no setor", afirmou uma fonte.
Marcelo Henriques Leite, presidente da Teuto, confirmou que conversou com a Hypermarcas e Pfizer e outras empresas, mas não negocia a venda do laboratório neste momento. O executivo admitiu que não descarta fazer associação com empresas para expandir seus negócios no futuro. Com faturamento de cerca de R$ 300 milhões, a Teuto está renegociando dívidas, da ordem de R$ 50 milhões.
Fontes do setor afirmam que a Teuto é um dos laboratórios visados por grandes grupos. A Pfizer, que estava em negociação com a Neo Química, também tem interesse na empresa. Procurada, a Pfizer informou que não comenta especulações. Segundo a companhia, ela tem como uma de suas metas a expansão do portfólio de produtos estabelecidos nos mercados emergentes e continua a buscar oportunidades comerciais para expansão do acesso aos medicamentos para a população. "O Brasil é um mercado estratégico entre os países emergentes por seu potencial de crescimento."
O interesse de grandes multinacionais em avançar no mercado brasileiro reflete o potencial de crescimento no país. "Muitas multinacionais vão perder as patentes nos próximos meses. Entrar no segmento de genéricos é uma das maneiras dessas empresas deixarem de perder dinheiro com seus produtos", afirmou outra fonte.
O crescente interesse de companhias estrangeiras em laboratórios nacionais levou o BNDES a abrir diálogo com várias empresas nacionais. O Valor apurou que além da Hypermarcas, o BNDES sinalizou negociar participação com a EMS, Cristália, Eurofarma e Aché.
Segundo Ogari Pacheco, presidente da Cristália, a parceria entre BNDES e a companhia restringe-se a financiamento por parte do banco em projetos de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). "Estamos capitalizados. Pretendemos ser consolidadores neste mercado." A EMS também informou que não estuda parcerias com o BNDES. Procuradas, Eurofarma e Aché não retornaram aos pedidos de entrevista.
Fontes afirmam que Aché e Eurofarma também são alvo de cobiça das múltis. Em recente entrevista, a Eurofarma informou que não tem interesse de vender participação e que também se posiciona como consolidadora no setor.
Veículo: Valor Econômico