Aumento de produção no mercado interno, retração do consumo no Brasil e no mundo e a queda dos preços formam um cenário sombrio para a cadeia produtiva de leite nacional. Frente tais dificuldades, a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e Derivados realizou reunião ontem em Brasília para traçar estratégias que permitam ao setor superar a crise atual. Dados oficiais indicam aumento de 10% na produção brasileira de leite no primeiro trimestre deste ano, mas o setor produtivo calcula crescimento de 20% na oferta. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) mostram os reflexos desse excesso de oferta: os preços do leite, pelo produtor rural, caíram 15% em agosto deste ano, quando comparados aos valores de igual período de 2007. Em igual período, o aumento do custo de produção é estimado em mais de 24%.
Para "enxugar" o mercado e provocar uma recuperação do preço do leite, o setor propõe a injeção de recursos governamentais: R$ 300 milhões para Empréstimos do Governo Federal (EGF) e R$ 100 milhões para indústria realizar contratos privados de opção e venda (Prop) para o leite. Segundo o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Alvim, as medidas são necessárias para evitar desestímulo à produção e manter o potencial exportador de lácteos do Brasil. O setor produtivo pede também que o limite de EGF para elevado de R$ 10 milhões para R$ 15 milhões por indústria, o que permitiria ampliar o enxugamento da produção. O setor sugere a inclusão do leite na na merenda escolar.
Segundo Alvim, o custo médio de produção no País está atualmente no patamar de R$ 0,70 por litro. O preço médio de venda, entretanto, oscila atualmente entre RS 0,68 e R$ 0,69 por litro. Esses valores referem-se às principais regiões produtoras. Conforme Alvim, que também é presidente da Câmara Setorial do Leite, a produção cresceu 20% entre janeiro e julho deste ano, estimulados pelo bom momento anterior.
Alvim destaca que em meados de 2007, a tonelada do leite em pó desnatado chegou a ser negociada por US$ 5,7 mil. No mesmo período deste ano, o valor caiu para a faixa entre US$ 4 mil e US$ 4,5 mil por tonelada. "Atualmente, na Europa, gira entre US$ 2,8 mil e US$ 2,9 mil a tonelada", disse. Apesar de serem restritas as vendas brasileiras ao mercado internacional (2% do total no ano passado, o equivalente a 600 milhões de litros), a queda dos preços globais acabou afetando o mercado interno.
Entre as propostas do setor está também a aceleração das visitas de missões internacionais às plantas de beneficiamento. Segundo Alvim, das 2,2 mil indústrias que processam leite, somente cerca de 150 estão aptas a exportar. Apesar desse "gargalo", o setor acredita que as exportações de 2008 devem crescer, envolvendo cerca de 3% da produção nacional, ou seja, um bilhão de litros. As exportações acumuladas entre janeiro e agosto são de US$ 327 milhões, em crescimento de mais de 10% na comparação com o total exportado no ano passado, der US$ 299,5 milhões.
Veículo: Gazeta Mercantil