Levantamento revela potencial para maior consumo de orgânicos

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Sustentabilidade: Segundo Market Analysis, em grandes cidades 17,3% dizem adquirir esse gênero de produto


  
Pesquisa inédita da Market Analysis mostra que 17,3% dos brasileiros que residem em grandes cidades se dizem consumidores regulares de produtos orgânicos. Pela primeira vez o tema "consumo de orgânicos" foi incluído no levantamento anual sobre sustentabilidade ambiental e social, Monitor de Responsabilidade Social Corporativa, realizado pelo instituto desde 2001.

 

Conforme a pesquisa, um em cada seis consultados nos nove maiores centros do país - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia e Brasília - disse adquirir produtos orgânicos de uma a cinco vezes por semana.

 

O diretor da Market Analysis, Fabián Echegaray, admite que o resultado ficou acima do imaginado. "Foi uma surpresa porque sempre se acreditou que [o consumo de orgânicos] era um nicho", comenta.

 

É preciso ponderar, no entanto, que o resultado se refere às pessoas que se identificam como consumidoras de produtos orgânicos, explica Echegaray. Elas têm a percepção de que são consumidoras de orgânicos, mas não necessariamente estão comprando itens produzidos de forma orgânica, isto é, em que não há a utilização de agrotóxicos e produtos químicos, e que sejam certificados por isso. Essa percepção do consumidor, segundo Echegaray, vem da categoria do produto, de sua apresentação e localização nas gôndolas.

 

A mesma pesquisa comparou o percentual dos que se disseram consumidores de orgânicos e os que conseguiram identificar um selo de certificação de produto orgânico. Enquanto os primeiros chegam a 17,3%, apenas 6% conseguiram identificar um selo de orgânico.

 

Para Echegaray, o resultado da pesquisa mostra que há muito mais abertura e disposição de comprar esse tipo de produto por parte do consumidor final do que se imaginava. "O consumidor manifesta receptividade, o que indica um potencial de demanda", avalia. "Existe espaço para este mercado crescer e deixar de ser nicho", acrescenta.

 

Além disso, o resultado também traz um outra interpretação: o varejo precisa ser mais transparente em relação ao que está oferecendo, funcionar como uma plataforma de orientação ao consumidor, defende o executivo. "E o varejo precisa ser mais agressivo na apresentação do produto se quer associar a sua marca à sustentabilidade", acrescenta.

 

A pesquisa da Market Analysis não teve questões relacionadas a preço, ponto delicado quando se trata de orgânicos, tradicionalmente bem mais caros do que os produtos cultivados de forma convencional. De qualquer forma, lembrou Fabián Echaragay, levantamentos anteriores já indicaram que os consumidores estão dispostos a pagar um pouco mais por produtos que apresentem algum benefício em relação à sustentabilidade.

 

O levantamento mostrou também que a maioria dos entrevistados diz comprar produtos orgânicos apenas uma vez na semana. Além disso, cada vez mais, os consumidores adquirem esse tipo de produto em grandes redes de varejo. "Tradicionalmente, as compras de orgânicos ocorriam nas feiras ecológicas ou de rua semanais ou lojas especializadas", comenta Echegaray. Esse quadro mudou. Segundo a pesquisa, 77% dos que dizem adquirir orgânicos o fazem em supermercados.

 

De acordo com levantamento o IBGE, 90 mil estabelecimentos praticam agricultura orgânica no Brasil, 2% do total existente.

 

A pesquisa Monitor de Responsabilidade Social Corporativa 2009 da Market Analysis ouviu 802 pessoas entre 18 e 69 anos residentes nas nove cidades. Tem margem de erro de mais ou menos 3,5 pontos percentuais.
 


Centro-Oeste alavanca produção em larga escala

 

    
O crescimento do cultivo de orgânicos no Brasil, acelerado nos últimos anos, deixou de ser impulsionado por pequenos agricultores das regiões Sul e Sudeste do país e já é liderado por médios e grandes produtores do Centro-Oeste, de acordo com diagnóstico da consultoria IP Desenvolvimento Empresarial e Institucional.

 

Conforme Ingo Plöger, presidente da empresa e diretor da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), apenas 5% dos produtores de orgânicos estão no Centro-Oeste, mas como na região as propriedades são maiores, dois terços da área ocupada por esses produtos está atualmente nos Estados da região, com destaque para carne e soja. Em número de produtores, o Sul ainda representa aproximadamente 70% do total.

 

Plöger ressalva que as estatísticas disponíveis sobre o segmento guardam muitas diferenças entre si, mas sustenta que o movimento é perceptível e necessário para que a produção brasileira ganhe escala. Na Europa, onde está a maior demanda mundial por orgânicos, a produção é dominada por pequenos agricultores e o fato é inclusive usado como apelo de marketing para atrair consumidores.

 

Estimativas do governo do fim de 2009 calculavam em 15 mil o número de produtores de orgânicos no país, espalhados em uma área de cerca de 800 mil hectares. Sem contar o extrativismo - que amplia o número de produtores e a área, que salta para 5 milhões de hectares -, considerava-se um movimento financeiro da ordem de R$ 500 milhões por ano e que 70% da produção é exportada.

 

O consultor aprova a decisão do Ministério da Agricultura de prorrogar de 2009 para 31 de dezembro de 2010 o prazo para que os agricultores se ajustem à nova regulamentação do setor, que envolve produção, comercialização, armazenagem, rotulagem, transporte, certificação e fiscalização.

 

Só quem seguir as regras à risca terá o selo do Sistema Brasileiro de Conformidade Orgânica. Em novembro, produtores, certificadoras e empresas pediram a prorrogação porque não teriam tempo de se adaptar até 31 de dezembro de 2009. A lei dos orgânicos foi sancionada pelo presidente Lula em 2003, mas só teve o decreto regulamentado em dezembro de 2007. A primeira instrução normativa saiu em dezembro de 2008; a última, em maio do ano passado.

 

Para Plöger, essa "sensibilidade social" foi importante para incentivar os pequenos a apostar nesse mercado. Mas ele alerta para a possibilidade de novas prorrogações, que podem atrasar o incremento da oferta nacional. "As redes varejistas ampliaram os espaços destinados a produtos orgânicos e sustentáveis em geral e vão aumentá-los mais. O crescimento no Centro-Oeste mostra que o Brasil tem condições de produzir orgânicos em grande escala, e isso é novidade".

 

Nas gôndolas, os maiores sucessos orgânicos são o açúcar e o café, além de frutas e verduras. O açúcar orgânico lidera a pauta de exportações brasileiras no segmento.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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