Por conta da pandemia, compra estava parada no Banco Central desde o fim de 2019 e só agora ocorreu a assinatura final
A DM Financeira, que atua no segmento de cartões private label para o varejo, acaba de finalizar um movimento que vai permitir ao negócio dobrar o volume total de pagamentos (TPV) dentro de dois anos. A companhia processa hoje um volume financeiro, via cartões, de R$ 5 bilhões e vai ter condições para elevar esse total a R$ 10 bilhões até o fim de 2024.
Em busca de financeiras de prateleira, ou seja, que tivessem caído em desuso, a companhia comprou, no fim de 2019, a Finansinos, um grupo da Região Sul do Brasil.
Com a pandemia no meio, os processos de aprovação do Banco Central (BC) ficaram parados e só agora a assinatura final aconteceu. O fato relevante foi divulgado na noite de quinta-feira.
Com os registros da Finansinos junto ao BC dentro de casa, a DM vai poder buscar funding para sua operação de concessão de crédito via cartão em condições muito mais interessantes. No lugar de contar apenas com mercado de capitais, com instrumentos como FIDCs, debêntures e securitizações, poderá captar via Fundo Garantidor de Crédito (FGC), usando ferramentas como letras de câmbio e recibos de depósitos bancários (RDB), entre outros.
“Muitas novas frentes de crescimento se abrem a partir de agora”, explica Tharik Moura, diretor de operações da DM. A companhia vem, ao longo dos últimos três anos, se preparando para esse momento. “A gente percebeu que, ou nos estruturávamos para crescer com força, ou seríamos engolidos”, relembra. “Naquele momento, abria uma fintech por dia no Brasil”, brinca.
A novidade vem a calhar, considerando o cenário de aumento do custo de funding com a alta da taxa de juros. O executivo explica que a DM não colocou o pé no freio, mas tirou do acelerador. A carteira de ativos cresceu 60% no último ano, para R$ 850 milhões. Neste ano, a expansão deve ficar em torno de 30%, mas com as margens preservadas. Ciente do aumento da inadimplência, a estratégia da empresa foi aumentar a venda de serviços e produtos nos melhores clientes e segurar o ritmo de crescimento da carteira.
Além de organizar a governança, a companhia também investiu para azeitar toda sua plataforma. Em abril, esses esforços culminaram em um aporte de R$ 100 milhões pela Vinci Partners. Agora, com a flexibilidade que a Finansinos agrega, a empresa vai não só seguir a expansão na frente de cartões, como também se prepara para experimentar novas frentes.
Fundada em 2002, em São José dos Campos (SP), por Denis Correia e Moisés Souza, a DM tem atualmente 300 clientes. O foco hoje está principalmente no varejo de supermercados, com quase 95% da operação. “Já fomos focados no pequeno varejo. Hoje, não precisamos ficar restritos. Nosso maior cliente, a BH Supermercados, tem receita anual de R$ 12 bilhões e é a 6ª maior rede do país”, diz, citando outros nomes da carteira como a rede Zaragoza e Sonda.
No front, está a entrada no setor de vestuários e utensílios. Um primeiro contrato foi fechado já neste mês. A estimativa de Moura é que os clientes atuais tenham um faturamento somado da ordem R$ 35 bilhões ao ano. Somente nas negociações em andamento, há cerca de 20 e 30 potenciais novos, com receita anual somada e R$ 50 bilhões. “Alguns contratos serão fechados ainda neste ano”, conta.
Porém há ainda mais sendo feito. A DM já está tateando outras oportunidades que vão além da expansão da carteira de clientes, como a entrada no ramo de crediário, que ganhou o título gourmetizado de buy now, pay latter, e até mesmo partir para o mercado B2C, com a administração de cartões vendidos diretamente à pessoa física.
“O Brasil tem 30 milhões de desbancarizados e nós temos 1,2 milhão de clientes ativos. É um espaço enorme ainda a explorar. Mas sabemos que é preciso ir com cuidado”, ressalta Moura. A DM já tem 118 mil clientes diretos de cartões sem ter feito nenhum esforço de divulgação. A expectativa é colocar esse produto na rua no começo de 2023.
Do contrário, sabe que vai prejudicar as conquistas já realizadas. Neste ano, a empresa inaugurou sua participação na Pesquisa Nacional de Cartões de Crédito (PNCC), realizada pela CardMonitor, e conseguiu desempenho impressionante. Tem a melhor nota referente ao serviço de SAC entre bancos e varejistas, a segunda melhor nota como aplicativo e a terceira maior, entre bancos e varejistas, de forma geral. Vale a velha máxima: construir toma tempo e esforço, enquanto destruir é rápido. Por isso, o ritmo cauteloso com as novidades.
Fonte: Graziella Valenti, Exame