Atraso prejudica quem aproveitou isenção de IPI

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Sem produtos em estoque, empresas bateram recordes de vendas no último fim de semana de janeiro mas não conseguiram entregar no prazo

 

Depois de comprar um fogão com desconto para dar de presente para a mãe, a estudante de publicidade Luciana Endo, de 36 anos, saiu da loja toda satisfeita, com aquela sensação gostosa de quem faz um bom negócio. Era 31 de janeiro, último dia de isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) sobre eletrodomésticos da linha branca - no dia seguinte, com a volta do tributo, os preços deveriam subir, daí a pressa da universitária em aproveitar a promoção.

 

Pelo mesmo motivo de Luciana, muitos outros consumidores decidiram ir às compras naquele fim de semana. O Walmart teve alta de 250% nas vendas em relação ao fim de semana anterior. No caso das lojas Extra e Ponto Frio, do Grupo Pão de Açúcar, o aumento foi de 120% - a empresa esperava que a procura subisse, no máximo, 40%.

 

As vendas de janeiro, somadas ao bom desempenho no Natal de 2009 (quando as vendas de eletrodomésticos cresceram 20% em relação ao Natal anterior), pegaram as varejistas de surpresa. "Muitas empresas chegaram a ficar desabastecidas", afirmou Nabil Sahyou, presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), ao divulgar os dados referentes às vendas de 2009.

 

ATRASOS NA ENTREGA

 

Com vendas acima do esperado, as empresas tiveram problemas para cumprir o prazo de entrega prometido aos clientes. No Procon-SP, as reclamações sobre atrasos na entrega somaram 506 em janeiro de 2010 - 158% a mais que as 196 no mesmo período do ano passado.

 

"Mas, mesmo com aumento das vendas, a empresa não pode, em hipótese alguma, descumprir o contrato firmado com o consumidor", avisa Robson Campos, diretor técnico do Procon-SP. "O cliente não tem nada a ver com isso."

 

Mas é sempre ele que sofre as consequências. A mãe de Luciana, quando soube que ganharia um fogão novo, tratou logo de doar o antigo e abrir espaço na cozinha para receber o presente da filha, que chegaria quatro dias depois. Só que o fogão não veio. E o que era para ser um agrado acabou se transformando num problema - a mulher passou a comprar comida pronta, já que não tinha como cozinhar.

 

Quando Luciana foi reclamar, ouviu do funcionário da loja Extra do shopping Interlagos que o produto foi vendido sem que houvesse uma peça no estoque. "Fiquei indignada. Eles disseram que tinham vendido muita coisa e não dava para entregar na hora", conta Luciana.

 

Sem poder deixar a mãe esperando, ela comprou um outro modelo de fogão, que custava R$ 150 a mais. E pagou a diferença. "No fim das contas, perdi o dinheiro que havia economizado antes, quando havia o IPI reduzido", lamenta.

 

A única coisa que poderia servir de consolo para Luciana é que existe gente numa situação pior que a dela. Sua amiga, a publicitária Roberta Franco, de 35 anos, comprou um fogão, um forno elétrico, uma geladeira e uma TV de plasma no dia 13 de dezembro, na loja promocional Super Casas Bahia, e não recebeu até agora.

 

"A entrega estava prometida para 13 de janeiro, 30 dias depois da compra. Mesmo assim, eles não conseguiram cumprir o prazo e todo vez que eu ligo para lá eu sou obrigada a ouvir que não há esse produto no estoque nem previsão para chegar", relata Roberta.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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