Na Microservice, alvos vão de grampeador a Blu-ray

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Companhia busca oportunidades em nove áreas diferentes

 

A Microservice é uma daquelas empresas que está presente na vida de muita gente, mas quase ninguém se dá conta. Quando você compra um CD da banda Roupa Nova ou da roqueira Pitty, ou o DVD de seriados como "Heroes" e "Band of Brothers", está levando para casa um produto que saiu da fábrica da empresa em Manaus. O conteúdo pertence à gravadora ou ao estúdio de cinema, mas o meio físico - no caso o CD ou DVD - é fabricado pela Microservice.

 

No mesmo dia, os produtos que saem da fábrica podem chegar a oito mil localidades no país. A Microservice também fornece o plástico usado em embalagens de produtos alimentícios e distribui material de escritório como grampeadores e estiletes. A mais recente aposta da companhia, no entanto, continua relacionada à área de música e vídeo: desde novembro, a companhia fabrica discos de Blu-ray, considerado o sucessor do DVD.

 

"Nunca fechamos as portas para novas oportunidades de negócios. Sempre acreditamos que essa é a forma de crescer no Brasil", diz Isaac Hemsi, filho dos fundadores da companhia e atualmente seu principal executivo.

 

Criada há mais de 40 anos, a empresa tem mil funcionários, que trabalham na fábrica de Manaus e no centro de distribuição em Barueri (SP). A receita da Microservice está na casa dos R$ 400 milhões. A área de mídias ópticas - que inclui CDs, DVDs e Blu-ray - representa 55% do faturamento, mas a empresa tem outras oito unidades: mídias ópticas, plásticos, impressão, logística, vendas e distribuição, imagem, escritório, ferramentas e novos negócios.

 

Desde que começou a funcionar em uma pequena loja no bairro do Limão, zona Norte de São Paulo, a Microservice já colocou em prática diversas vezes sua filosofia de diversificação de atividades. A empresa nasceu como Multisort, distribuindo material de desenho para engenheiros e escritórios de arquitetura.

 

Na década de 70 entrou na área de imagem prestando serviços de microfilmagem, o que deu origem ao nome atual. Em 1987 veio a aposta mais pesada, com o início da fabricação de CDs. "Quando relembro isso, penso que nós éramos loucos", diz Hemsi.

 

Com um investimento de US$ 12 milhões (algo próximo de US$ 23 milhões em valores atualizados), a Microservice tornou-se a primeira empresa no hemisfério Sul a fabricar CDs, uma tecnologia recém-criada que ainda engatinhava em todo o mundo.

 

Ao lembrar desse movimento, Hemsi vê um paralelo com a decisão recente de passar a produzir os discos Blu-ray. Naquela época, diz ele, não havia nenhuma garantia de que o CD daria certo e o Brasil, em particular, passava por sucessivos planos econômico, o que deixava o consumidor ainda mais sobressaltado. "Ninguém tinha dinheiro e nós estávamos produzindo CD", lembra o executivo. Apesar do mercado pequeno, o potencial era grande. As oportunidades iam além dos discos, diz Hemsi. Também era necessário produzir a caixa plástica e imprimir os encartes. A Microservice entrou em todos esses segmentos. Na década de 2000, veio o investimento em DVDs e nos serviços de logística.

 

Agora, diz Hemsi, há um clima de confiança em relação à economia brasileira, dentro e fora do país. O cenário econômico é bem diferente do que existia na década de 80. O desafio tecnológico de apostar cedo demais em uma nova tecnologia, porém, persiste. "Não quisemos esperar o mercado. Optamos por fazê-lo crescer", diz o executivo. Com um investimento de R$ 10 milhões feito no ano passado, a Microservice tornou-se a primeira empresa da América do Sul a produzir os discos de Blu-ray, à frente até da criadora do formato, a Sony, que planeja começar a produção no país este ano. "Talvez a gente acredite um pouco mais no mercado brasileiro do que a Sony", brinca Hemsi. A capacidade produtiva da Microservice é de 400 mil discos por mês.

 

Segundo estimativas, o Brasil tem uma base instalada de apenas 50 mil tocadores de discos Blu-ray. A expectativa, porém, é de que o número dobre este ano. Para Hemsi, a Copa do Mundo vai estimular as vendas de TVs de alta definição, componente fundamental para fazer deslanchar a experiência do Blu-ray. "O processo é esse: primeiro a alta definição, depois o Blu-ray", diz.

 

O que aconteceu com o CD, vai se repetir com o Blu-ray, aposta o empresário. "É o mesmo filme de 87. A diferença é que as pessoas hoje têm a cultura do [formato] disco [pequeno]. Além disso, o brasileiro tem um poder aquisitivo maior."

 

Em 2007, a Microservice deu um passo adiante em outra área de negócios importante para a companhia - a de logística. O serviço, que inicialmente atendia exclusivamente à sua própria demanda, passou a ser oferecido a terceiros. "Só trabalhamos com entregas com alto grau de complexidade", diz Hemsi. A logística de um DVD, por exemplo, tem que ser muito precisa, explica o executivo. "É um produto difícil. O lançamento precisa estar disponível em todo o país ao mesmo tempo."

 

A estratégia da Microservice, diz Hemsi, é inspirada no modelo cunhado pela americana 3M. A ideia é motivar uma fluxo constante de produtos que passem a responder por 25% da receita a cada ciclo de cinco anos. Ou seja, em 2010, um quarto do faturamento terá de vir de itens que não existiam em 2005. Os exemplos mais recentes disso são a venda de plástico para embalagens e os discos Blu-ray.

 

Apesar de se manter como uma companhia de capital fechado, a Microservice segue alguns padrões típicos de companhias de capital aberto. "Temos auditoria há 12 anos", diz Hemsi. Uma oferta inicial de ações em bolsa não está descartada, mas, diz o executivo, a empresa ainda avalia o melhor momento para dar esse passo.

 

Enquanto isso, a unidade de novos negócios trabalha para manter viva a cultura de diversificação. Entre quatro e cinco projetos estão sempre em avaliação. O foco são as áreas de tecnologia e serviços, mas o executivo não dá detalhes do que está sendo estudado para os próximos anos. "Só o que posso dizer é que em 2010 teremos novidades", afirma Hemsi.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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