EM UMA CIDADE ONDE POUCO MAIS DE 1% DO LIXO É RECICLADO PELA PREFEITURA, PAULISTANOS ADOTAM SUPERMERCADOS COMO ALTERNATIVA
Os números que ilustram o volume do lixo gerado na cidade de São Paulo são tão agigantados quanto a própria metrópole: em um único dia, mais de 10 milhões de habitantes produzem 10 mil toneladas de lixo domiciliar.
Nesse cenário, é cada vez maior a quantidade de paulistanos que incorporaram à rotina o cuidado para que o potinho de iogurte de todas as manhãs não vá parar num aterro sanitário, onde demoraria cem anos para ser absorvido pela terra. A reciclagem, no entanto, avança de forma acanhada -hoje, em torno de 1% do lixo produzido é reaproveitado na capital.
Ante o dado pífio, o problema se agrava porque estima-se que um terço do que é destinado à reciclagem seja perdido no meio do caminho. Cerca de 35% das embalagens coletadas não servem para nada, segundo revelou reportagem da Folha em janeiro. Resíduos são inutilizados, por exemplo, por estar misturados erroneamente a lixo orgânico, por compactação excessiva no caminhão da coleta ou por terem sido levados por engano para um aterro.
Para acabar com esse desperdício, que ocorre na maior parte das vezes durante o transporte pela prefeitura, supermercados com coletores têm sido uma das alternativas encontradas por quem aderiu ao mundo da reciclagem. As lojas também são uma solução para quem ainda não possui coleta seletiva na porta de casa -problema que atinge quase metade dos paulistanos.
Faz parte desse grupo a publicitária Juliana Fava Della Libera, 28, que frequenta a estação de reciclagem de um supermercado há um ano e meio. "Eu levo por falta de opção", conta. "Tinha uma cooperativa que buscava o lixo no edifício, mas eles pararam. Talvez porque seja um predinho de apenas três apartamentos."
Atualmente, não há dados disponíveis sobre a participação dos supermercados no total de material reciclado em São Paulo. Mas números de algumas empresas mostram que mais gente tem aderido à coleta alternativa -aproveitam a ida às compras para deixar o descarte no próprio supermercado.
Em apenas um ano, de janeiro de 2009 a janeiro de 2010, a rede Pão de Açúcar registrou um crescimento de 30% na arrecadação. O grupo, que lançou a novidade em 2001, recolheu no ano passado 5,4 mil toneladas nas filiais que possuem coletores na capital: 42 lojas Pão de Açúcar e 26 Extra.
Na rede Walmart, cuja coleta seletiva foi iniciada em 2005, 11 lojas receberam 270 toneladas em 2009. No Carrefour, onde esse trabalho acaba de completar um ano, 15 filiais reuniram 230 toneladas. Mambo, Sonda e Zaffari possuem coleta, mas não divulgaram os dados.
Para onde vai
Após a coleta, o destino do material reciclável são as cooperativas, onde o montante será separado e vendido para a indústria. Hoje, o município tem convênio com 16 centrais de triagem, que funcionam em espaço cedido pelo poder público e contam com caminhões alugados pela prefeitura para estabelecer o próprio itinerário.
Assim, além de receber o material recolhido pela Limpurb nos domicílios (que representa 60% do total que entra nas cooperativas), elas podem ir até empresas -como supermercados- retirar o lixo.
Segundo a prefeitura, essas 16 centrais receberam mais de 27 mil toneladas de resíduos de janeiro a agosto de 2009. O volume revela um aumento de quase 10% em comparação ao mesmo período de 2008.
No caso do grupo Pão de Açúcar, o que é recebido dos clientes passa por uma pequena triagem na loja. "Com o material limpo e arrumado, as cooperativas têm maior eficácia", diz Paulo Pompílio, diretor de Responsabilidade Socioambiental do grupo. A rede conta com coleta de dez cooperativas na capital, que não estão necessariamente entre as conveniadas da prefeitura.
Atualmente, o principal entrave para a expansão da reciclagem é a quantidade de caminhões -são 61 para as 16 centrais. A Coopere, que atua no Centro e tria em torno de 350 toneladas de resíduos por mês, conta com quatro veículos. "Para atendermos a região, precisaríamos de mais uns 20", diz o presidente Sérgio Luiz Longo. A prefeitura, que promete 25 novas centrais de triagem até o final do ano, informa que não adianta ceder mais veículos porque as organizações não teriam espaço para tratar o material. Longo discorda: "Com mais caminhões e mais lixo, teríamos a oportunidade de criar o terceiro turno e dar emprego para mais gente".
Veículo: Folha de S. Paulo