Pequenos se unem para exportar fruta

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Eles fazem tudo juntos: desde obter certificação GlobalGap, até dividir o packing house e reunir volume para exportar

Figo para a Europa. O fruticultor Onivaldo Belone, da Belone Frutas, de Campinas (SP), embarca 3 toneladas da fruta por semana

 

Por trás das estatísticas de exportação de frutas no Brasil figuram, geralmente, grandes produtores, sobretudo de manga e melão, das áreas irrigadas do Nordeste do País. Cada vez mais, porém, pequenos produtores estudam a cartilha da exportação, com todas as suas exigências - que não são poucas -, e conseguem, em grupo, exportar suas frutas.

 

É o caso da Associação Agrícola de Valinhos e Região, próximo a Campinas (SP), onde no último ano 12 produtores obtiveram a certificação GlobalGap e passaram a vender suas frutas na Europa. Ainda não há, porém, números consolidados sobre a exportação. "Estamos investindo em tecnificação para cumprir as normas internacionais (como a da rastreabilidade e controle de defensivos), e em infraestrutura, como câmaras frias e galpões de embalagens, os chamados packing houses", diz o presidente da associação, Pedro Pellegrini.

 

Auxílio. Ele conta ainda que aqueles que já têm essas estruturas montadas ajudam os que não podem investir. Como o proprietário da Belone Frutas, Onivaldo Belone, de Campinas (SP). "O gasto que se tem para ser um exportador é alto, por isso é preciso atuar em parceria, para diluir custos", diz o produtor, que vende 95% da produção de figo - 3 toneladas por semana - para países da Europa, como Inglaterra, Alemanha e França.

 

Para tanto, investiu, em 2004, R$ 200 mil na construção do seu galpão de embalagem. Mesmo com a valorização do real perante o dólar, ele confirma que tem valido a pena. "No mercado externo eu consigo trabalhar com preço fixo, diferentemente do mercado interno, onde o preço varia muito", diz o produtor.

 

Em Guaraçaí (SP), maior região produtora de abacaxis do Brasil, muitos produtores também estão buscando se organizar para exportar a produção, conta o presidente da Associação dos Produtores de Abacaxi do Município de Guaraçaí, Shoji Korin. De acordo com ele, dos 70 associados, pelo menos 15 vêm se estruturando ao longo dos últimos cinco anos e estão prontos para começar a exportar. "Não vamos começar nessa safra porque o dólar ainda está baixo. Mas estamos prontos para iniciar a operação assim que as condições forem um pouco melhores", afirma Korin.

 

Na Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas Gerais (Abanorte), observa-se movimento semelhante. "Os primeiros produtores começaram a exportar há cinco anos. No começo enviávamos um contêiner de frutas por mês. Hoje, despachamos um por dia, divididos entre 70 produtores", relata o presidente da Abanorte, Dirceu Colares.

 

Segundo ele, a associação, que exporta limão taiti, manga palmer e banana prata para Holanda, Portugal, Alemanha e Espanha, começou a olhar para o mercado externo por causa das dificuldades de concorrer com a safra paulista e a do Vale do São Francisco. Ele diz que de lá pra cá firmaram parcerias para promover a qualificação. "Damos cursos para o dono da propriedade, para quem vai operar o trator, colher os frutos, embalar. Isso é importante porque as regras para exportar são rígidas", diz Colares.

 

Apoio. A certificação dos produtores da região de Valinhos e Guaraçaí foi paga pelo projeto Fruta Paulista, realizado pelo Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), em parceria com o Sebrae-SP. Ao todo, o projeto promoveu a certificação para mais de 100 pequenos produtores do Estado de São Paulo. "Dos 43 milhões de toneladas de frutas que o Brasil produz, somente 2% são exportados. Por isso, estamos sempre desenvolvendo ações que permitam ampliar a participação da fruta brasileira no mercado internacional", diz a gerente executiva do Ibraf, Valeska de Oliveira.

 

Mais informações

 

INSTITUTO BRASILEIRO DE FRUTAS (IBRAF), SITE: WWW.IBRAF.ORG.BR.
FRUTICULTURA DO NORTE DE MINAS GERAIS (ABANORTE), SITE: WWW.ABANORTE.COM.BR

 

Exigências rígidas elevam custos

 

Produzir para exportar não é simples, sobretudo na hora de adequar os pomares às rígidas regras fitossanitárias exigidas lá fora. "Além da rastreabilidade e do controle de defensivos, há exigências em relação ao manejo desde o campo até a embalagem", diz o produtor Ricardo Kumagai, de Campinas (SP), que há 14 anos produz e exporta goiabas brancas para a Europa, na razão de 1 tonelada por semana. Isso sem contar as exigências ambientais e sociais.

 

Sacos. No campo, quando as goiabas começam a brotar, os funcionários de Kumagai envolvem cada pequeno fruto com um saco de papel, para evitar o ataque das mosca-das-frutas, praga inexistente em alguns países compradores.

 

A poda das árvores também é específica. Diferentemente da prática comum, que é a de fazer a poda constante, ou seja, cortar os galhos maduros, para que brotem galhos novos na safra seguinte, Kumagai tem de adotar a poda drástica por exigência sanitária do GlobalGap, o que aumenta o espaço de tempo entre uma colheita e outra.

 

No galpão de embalagens, as frutas são lavadas e depois embaladas uma a uma a vácuo e a manipulação é feita com luvas. "Tudo isso aumenta o custo de produção e, como tenho que usar menos defensivos, minha lavoura sofre mais com o ataque de pragas."

 

"Quem quiser exportar tem de se adaptar a essas diferenças", explica o produtor. Apesar de todas as especificidades, Kumagai afirma que trabalhar com o mercado externo vale muito a pena. "Uma unidade da goiaba que eu produzo aqui chega às mãos do consumidor na Europa custando até 1 (R$ 2,37)", diz. O preço cotado da goiaba branca na Ceagesp, na capital paulista, era de R$ 5,84 o quilo. "Isso porque o custo de produção maior, com regras sanitárias mais rígidas, permite que cobremos um preço mais alto", finaliza o produtor.

 

Veículo: O Estado de São Paulo

 


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