Enquanto a sobretaxa ao trigo e a outra centena de produtos norte-americanos ainda é discutida no governo federal, o preço do pão francês corre novo risco de aumento devido à entressafra no hemisfério Sul. Segundo o Moinho Santa Clara, de São Caetano, entre maio e junho, a saca de 50 quilos deverá ficar até 10% mais cara, pois será importada dos Estados Unidos ou do Canadá.
"Hoje o preço do trigo permanece estável no mercado, custando R$ 48. Com o reajuste, a expectativa é que o valor da saca chegue a R$ 55. Além disso, o trigo bom para panificação está escasso no mercado", diz Waldir Abbondanza, gerente de vendas do moinho.
Diante dos sinais da indústria, supermercadistas e panificadoras não descartam aumento, mesmo porque é no inverno que o consumo do pão dispara. A gerenciadora de marca própria da Coop (Cooperativa de Consumo), Daniela Marchiolli, crê que o repasse ao cliente variará entre 4% e 6%.
"Em julho de 2009, o trigo aumentou, mas seguramos o preço. Em novembro houve outro reajuste de 6%, mas o valor na loja subiu 4%", afirma Daniela. No próximo mês o setor da rede analisará o preço do cereal no mercado para decidir qual postura será adotada.
Na avaliação de Antonio Henrique Afonso Júnior, sócio da Padaria Brasileira, é comum ter reajuste da farinha de trigo neste período do ano, porém, o fornecedor ainda não indicou possível alta no preço do insumo.
"Ocorrendo aumento, negociaremos produto em maior quantidade para segurar os preços", diz Afonso. Ele lembra ainda que a cotação do dólar no mercado influencia o preço do trigo importado.
O gerente de vendas do Moinho Santa Clara reclama que todo aumento no pão francês é atribuído aos moinhos, entretanto, quando o preço do cereal cai no mercado, o cliente não paga mais barato pelo produto.
O presidente do Sipan (Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria de Santo André), Antonio Carlos Henriques, afirma desconhecer qualquer problema de abastecimento com o grão que abastece as panificadoras da região. "Não haverá reajuste de preço. Também desconheço questões relacionadas à entressafra no País". Ele destaca ainda que o governo não resolveu como ficarão as sobretaxas aos produtos importados dos Estados Unidos.
Para Henriques, mesmo ocorrendo elevação da alíquota de importação do trigo norte-americano de 10% para 30%, não haverá nenhum reflexo no preço final do pãozinho.
Preço do produto registra variação nos supermercados
O consumidor mais atento deve ter notado que o preço cobrado pelo quilo do pãozinho na maioria dos supermercados varia conforme o dia. Em algumas redes, a variação no preço do quilo do pão chega a 6%.
Considerando que o quilograma do produto custe R$ 6,39, com o ajuste pode chegar a R$ 6,80. A família que consome cinco pães de 50 gramas diariamente pode desembolsar R$ 37 a mais em um ano, se for considerado o quilo mais caro do alimento.
O vice-presidente de comunicação da Apas (Associação Paulista de Supermercados), Martinho Paiva Moreira, diz que o sistema de precificação varia conforme a empresa. "Os supermercados encaram o pão francês como um produto cuja venda gera fluxo nos estabelecimentos."
O executivo acrescenta que este tipo de varejo tem mecanismo de preço diferenciado por não usar o mesmo método das panificadoras. Alguns colocam o pãozinho mais barato na segunda ou na sexta-feira. Segundo Moreira, este setor representa, em média 7% do faturamento dos supermercados.
Questionado sobre a variação no preço, algo que geralmente não ocorre nas padarias convencionais, o Carrefour informa, em nota, que "realiza pesquisas diárias com o objetivo de oferecer aos seus clientes as melhores ofertas do mercado". As redes Walmart e Pão de Açúcar não se pronunciaram.
A gerenciadora de marca própria da Coop (Cooperativa de Consumo), Daniela Marchiolli, pontua que a estratégia da empresa é estar com o melhor preço todos os dias, por isso pesquisa a concorrência. "Fomos uma das primeiras a adotar precificação por quilo. Repassamos os benefícios das negociações aos cooperados."
Veículo: Diário do Grande ABC