Uma intrusa entre gigantes mundiais

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A brasileira Hypermarcas exibe força. Boa de briga, comprou empresas conhecidas e viu ações valorizarem 186% em 2 anos


 
Uma companhia brasileira está dando claros sinais de que está disposta a conquistar espaço entre as multinacionais com forte atuação no segmento de bens de consumo. Boa de briga, a Hypermarcas, com apenas oito anos de idade, está disputando espaço com gigantes como Procter & Gamble e Unilever. A empresa não esconde a ousadia explícita de sua estratégia: “Continuar a desenvolver e expandir o portifólio de produtos e marcas, fornecer produtos de valor e qualidade superior em todos os segmentos que atua e fortalecer a plataforma de vendas e distribuição”. Por isso, saiu às compras.

 

Só no ano passado, cinco grupos foram adquiridos, incorporando marcas como Hydrogen, PomPom, Jontex, Olla e todos os remédios genéricos da Neo Química, o que levou ao surgimento do terceiro maior laboratório de capital brasileiro e o quarto maior em operação no país. Nos primeiros três meses de 2010, outras quatro companhias passaram ao controle do grupo. A velocidade do crescimento da Hypermarcas tem relação com a promessa de seu controlador, João Alves de Queiroz Filho, de transformá-la em uma das maiores empresas de consumo do país, uma “Unilever brasileira”.

 

Mas sua grande força, a capacidade de fazer aquisições em ritmo acelerado, também pode se tornar sua maior vulnerabilidade. Segundo Adir Ribeiro, administrador de empresas e diretor da Praxis Education, fundir culturas tão diversas pode não ser uma missão fácil. “A Hypermarcas é uma empresa de marca, de branding, que está brigando nos mais diversos mercados. Estamos falando de colocar debaixo do mesmo comando empresas com culturas muito diferentes, com equipes gerenciais distintas”, analisou.

 

Cultura
Para o especialista, integrar todas as companhias, não apenas em termos de ativos, mas de lideranças, e implementar a cultura da Hypermarcas como predominante será um desafio monstruoso. “Afinal, é sabido que, quando uma empresa é comprada, acaba perdendo grandes talentos. Esse capital intelectual é que precisa ser preservado para o bem do grupo.”

 

Adquirir outras empresas sempre fez parte da história e da estratégia de crescimento da companhia. A Hypermarcas nasceu da aquisição da Prátika Industrial Ltda., empresa do setor de higiene e limpeza da Unilever Brasil. Daí em diante, foi uma compra atrás da outra. No início, eram pequenas firmas com atuação local, até a primeira grande aquisição, em 2006, quando o grupo entrou no segmento de atomatados com a marca Etti. Mas foi preciso manter o ritmo de expansão e arrumar a casa para abrir o capital, o que acabou ocorrendo em 2008. Consequência: a empresa logo se transformou em uma das vedetes da Bolsa de Valores. Neste ano, vendeu ações e colocou R$ 1,2 bilhão em seu caixa na última semana de março.

 

“É uma empresa muito interessante”, avaliou Fabiano Guasti Lima, pesquisador do Instituto Assaf. E lucrativa. Em abril de 2008, quando vendeu suas primeiras ações — todas ordinárias, isto é, com direito a voto —, o papel foi cotado a R$ 8,35. Na sexta-feira, 23 de abril, as ações foram negociadas a R$ 23,81, uma valorização de 186%.

 

Estratégia
Concorda com ele Reginaldo Alexandre, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais de São Paulo (Apimec/SP). Na sua avaliação, para se firmar no segmento de consumo, a Hypermarcas usou a estratégia da diversificação a partir da aquisição de marcas líderes, como Monange, Gelol, Engov, Doril. “Para conseguir fazer tantas compras, a empresa usou o mercado de ações. Bem posicionada em segmentos específicos, a Hypermarcas está sendo beneficiada pelo aumento de renda nas camadas com maior potencial de consumir”, observou.

 

Tudo isso se reflete nos números da empresa. No ano passado, a Hypermarcas investiu R$ 2 bilhões na aquisição de cinco companhias. Com isso, o faturamento do grupo alcançou R$ 2,6 bilhões, número 48% superior ao de 2008. O lucro, por sua vez, aumentou 22%, chegando a R$ 444 milhões. “Seus indicadores são excelentes”, concluiu Lima. “Todo este crescimento vem sendo feito sem comprometer o nível de endividamento.” Ele destacou que os empréstimos e financiamentos representam apenas 13% do ativo do grupo. “É um nível baixo de endividamento para uma empresa que saiu às compras.”

 

Bem posicionada em segmentos específicos, a Hypermarcas está sendo beneficiada pelo aumento de renda nas camadas com maior potencial de consumir”

 

Reginaldo Alexandre, presidente da Apimec

 

Linha do tempo

 

2001
A Hypermarcas inicia suas atividades, com o nome de Prátika Industrial Ltda., empresa do setor de higiene e limpeza, comprando a marca Assolan da Unilever Brasil por R$ 70 milhões. Na época, a lã de aço era o principal produto da empresa.

 

2002
No decorrer desse ano, a companhia adquiriu firmas pequenas que fabricavam lã de aço em diversas regiões do país, tais como Help e Brilmis. No mesmo ano, um novo centro de distribuição foi construído em Goiânia, dobrando a capacidade de produção.

 

2003
A empresa expande sua atuação para outros segmentos de limpeza de superfícies, como as esponjas sintéticas e lança mais produtos, como palha de aço, todos sob a marca Assolan. Compra a Fisibra, do setor de esponjas e panos de limpeza por R$ 1 milhão.

 

2004
Compra da Unilever, um terreno de aproximadamente 150 mil metros quadrados, vizinho à planta de lã de aço, em Goiânia, por R$ 6 milhões. E adquire, também da Unilever, máquinas e equipamentos de uma fábrica de detergentes líquidos e limpadores multiuso, que estava desativada.

 

2005
Desenvolve outros produtos, aumentando seu portfólio e passando a atuar em segmentos de higiene e limpeza. Com a aquisição da Quimivale e da Distribuidora Clean por R$ 35 milhões, inicia atuação em detergentes em pó com a criação da marca Assim.

 

2006
Adquirie a Bessan, detentora das marcas Etti, Salsaretti e PuroPurê, por R$ 71 milhões, e entra no segmento de atomatados e vegetais. Também adquire a Éh Cosméticos por R$ 26 milhões, e entra no setor de beleza produzindo xampus e condicionadores.

 

2007
Adquire a Sulquímica, proprietária das marcas Mat Inset, Boa Noite e No Inset, líderes em controle de pragas no sul do país, e sua subsidiária Fluss, detentora das marcas Fluss e Sani Fleur, por R$ 60 milhões. Compra também a Finn, detentora da marca Finn, por R$ 28 milhões. E reforça sua linha de beleza e alimentos com a aquisição da DM, dona de marcas famosas como Monange, Paixão, Cenoura & Bronze, Zero Cal e Adocyl, por R$ 1,2 bilhão. Com isso, entra no mercado de Medicamentos Isentos de Prescrição (OTC), com marcas consagradas como Doril, Apracur, Benegrip, Engov, Merthiolate e Gelol.

 

2008
A Hypermarcas abre o capital. Capta R$ 600 milhões e passa a ter ações negociadas na Bolsa de Valores. Compra o laboratório Farmasa, dono de marcas como Rinosoro, Tamarine e Lisador, por R$ 875 milhões e entra no mercado de medicamentos sob prescrição médica. Torna-se a maior farmacêutica de medicamentos isentos de prescrição (OTC). Adquire a Ceil, controlada da Revlon no Brasil, detentora das marcas Bozzano, Juvena, Aquamarine e Campos do Jordão, por R$ 175 milhões. Entra no segmento de modeladores de cabelo comprando as marcas NYLooks, Radical, Summer Look, e Bia Blanc da Brasil Global Cosméticos e da NY Looks. Depois, adquire a Niasi, tradicional produtora de cosméticos e uma das líderes no mercado de tratamento para cabelos, esmaltes e perfumaria, por R$ 360 milhões.

 

2009
A empresa compra a SS, detentora da marca Hydrogen, de produtos cosméticos e de higiene pessoal, por R$ 25 milhões. Um mês depois, adquire a Pom Pom, fabricante de fraldas descartáveis e absorventes da marca PomPom, Bigfral, Piui e Bigmaxi, por R$ 300 milhões. Depois, é a vez da marca Jontex das empresas Latam Properties e Latam International por US$ 101 milhões. E a Inal S.A., dona das marcas de preservativos masculinos Olla, Lovetex, Microtex, por US$ 120 milhões. Em dezembro, leva o Laboratório Neo Química por R$ 1,3 bilhão.

 

2010
Em fevereiro, a empresa aprova a emissão de ADR, título negociado na Bolsa de Nova York. No mês passado, a Hypermarcas adquiriu a Sapeka, detentora das marcas de fraldas descartáveis Sapeka, Fluffy, Maturidade, Única e Leve por R$ 225 milhões. Também fechou negócio com a York S.A., fabricante de hastes flexíveis, curativos, absorventes e algodões, entre outros, das marcas York, Palinetes e Silhouette, por R$ 100 milhões. Comprou ainda Facilit, produtora de escovas dentais, fios e fitas dentais e anti-sépticos bucais da marca Sanifill por R$ 79 milhões. Por fim, adquiriu a Luper, fabricante de medicamentos das marcas Gastrol, Virilon, Dramavit, Blumel e Senareti por R$ 52,1 milhões.

 

Perfil

 

A Hypermarcas atua nas áreas de medicamentos, beleza e higiene pessoal, higiene e limpeza e alimentos. Apresenta uma ampla gama de marcas conhecidas.

 

Possui uma estrutura de vendas e distribuição com abrangência nacional.

 

Opera cinco complexos industriais com 13 diferentes linhas de produção, nos estados de Goiás, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul.

 

Veículo: Correio Braziliense


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