Estratégia que inclui a produção de alimentos frescos e visa dobrar vendas das marcas “Sádia” e Perdix no mundo árabe
Enquanto o Brasil discute a inflação de demanda, a BR Foods (BFR), uma dasmaiores companhias de alimentos processados do mundo, não consegue tirar os olhos do Oriente Médio. Os países que compõem a região são ricos em petróleo, mas pobres em água. Com uma agricultura pouco desenvolvida e uma pastagem formada basicamente por carneiros, cabras e camelos, a região tem consumido cada vez mais carne de ave, bovina e pratos congelados das marcas Sadia (lá pronuncia-se Sádia) e Perdix (como a Perdigão é conhecida no exterior).
Diante deste cenário, a BRF encontra-se emcompasso de espera para definir sua primeira fábrica no OrienteMédio e a quarta no exterior. “O que está faltando para tomarmos uma decisão é a autorização (do Cade) para internacionalizarmos uma empresa nova. Não faz muito sentido avançarmos enquanto não houver uma conclusão do processo de fusão de Sadia e Perdigão”, diz em entrevista ao ao BRASIL ECONÔMICO Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e copresidente do Conselho de Administração da companhia. Em maio completa um ano de formação da BRF.
Sua expectativa é a de que, em 90 dias, as autoridades brasileiras estabeleçam as próximas integrações das duas empresas que ainda têmáreas operando de forma separada, como as de produção, vendas e distribuição. Por enquanto, Sadia e Perdigão operamde forma individual no Oriente Médio.
Tão logo esta barreira seja superada, a BRF deve avançar no projeto da fábrica que visa duplicar as vendas na região. “Atualmente, entre as duas empresas, embarcamos entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões por ano ao Oriente Médio. Com a produção local, pretendemos vender acima de US$ 1 bilhão”, afirma Furlan.
O empresário revela que há um acordo provisório para compra de um terreno nos Emirados Árabes Unidos. Ele conta que, por lá, há muito estímulo para novos investimentos e a criação de empregos. Dependendo do lugar, há zonas francas que favorecem a produção industrial, caso de Jebel Ali, nos Emirados. “Também estamos observando a Arábia Saudita, o Egito e os países que fazem parte do GCC (Conselho de Cooperação do Golfo), acordo de livre comércio da região”, conta Furlan.
Sua mais nova opção é uma região em desenvolvimento no reino da Arábia Saudita, que está construindo a nova cidade industrial “King Abdullah Economic City” (KAEC), que é vista pelos árabes como o novo eldorado do mundo dos negócios. “Recebemos alguns convites para instalarmos uma fábrica lá”, conta Furlan, demonstrando uma certa predileção pela cidade.
O projeto começou a ser discutido no final de 2007, mas só agora ganhou contornos mais bem definidos. Ele deve ser um dos principais pilares para o crescimento futuro da companhia. Nas próximas semanas, o conselho de administração da BRF vai se reunir para discutir o plano estratégico dos próximos cinco anos. E o Oriente Médio será prioridade na pauta. “A região tem uma economia mais estável quemuitosmercados, o que a fez sofrer menos com a crise. Ao mesmo tempo, nós temos uma imagem de marca muito forte na região e precisamos aproveitar isso”, comenta Furlan.
Investimentos em 2010
No ano em que pretende recuperar rentabilidade, principalmente no mercado externo, que em 2009 foi muito penalizado pela queda de volume e preços, a BRF deve realizar investimentos entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão neste ano, valor que será usado em melhorias, compra de novos equipamentos e ampliação da produção. “Nossa principal tarefa é colocar a nova empresa de pé. A assinatura do acordo ocorreu há 11 meses e estamos aguardando a autorização das autoridades para fazer o avanço na integração”, conta Furlan. Até o momento, explica ele, as duas companhias caminham em paralelo, com exceção de áreas como compras e financeira.
Estratégia é crescer com produto fresco
Dona da Elegê e Batavo no Brasil, BRF vai levar experiência em laticínios para a região
Há mais de três décadas vendendo aves, carnes e pratos prontos congelados como o Kebab para os consumidores do Oriente Médio, a BR Foods (BRF), sob as marcas Sadia e Perdix, pretende ampliar a linha de produtos à venda na região. A partir da implantação de uma fábrica nos Emirados Árabes ou na Arábia Saudita, a companhia brasileira pretende introduzir alimentos frescos ao portfólio.
São justamente estes itens que ela não consegue oferecer a partir do modelo de distribuição, uma vez que eles são refrigerados e sua exportação a partir do Brasil ficara impossibilitada. “Vamos aumentar nossa linha de produtos a partir da observação das oportunidades da região”, afirma Luiz Fernando Furlan, da BRF.
No Brasil, a BRF é a segunda maior receptora de leites depois da Nestlé. Hoje ela detém as marcas Batavo e Elegê de leite longa vida. “Temos um potencial extraordinário de crescimento nesta área”, diz Furlan. Este crescimento refere- se tanto ao mercado interno quanto ao externo, onde há uma clara intenção de oferecer produtos frescos.
Com a fábrica no Oriente Médio, a BRF terá que enviar inicialmente matéria-prima do Brasil. Posteriormente, a empresa planeja costurar um acordo comprodutores regionais.
Sobre a marca, o nome BRF, da empresa, não será divulgado de forma a substituir a identidade de Sadia e Perdix, trabalhados há décadas na região. “As duas marcas continuarão sendo vendidas lá fora. Posicionamento de marca é uma coisa, a empresa é outra”, afirma Furlan. Ele explica que Sadia tem prestígio no Oriente Médio e isso não pode ser destruído.
Atualmente, a BRF tem diretores e profissionais de marketing atuando nas bases de Dubai e daArábia Saudita.
No exterior, a companhia tem três fábricas, enquanto que no Brasil são 64. Com a fusão, o objetivo é aumentar a produção, ganhar mercado, reduzir custos e conquistar mais consumidores. Ao observar a projeção de crescimento do PIB brasileiro nos próximos anos, Furlan diz que o país terá um “crescimento fantástico”. Ao mesmo tempo, lembra que há grandes oportunidades no exterior.
Depois de um 2009 difícil, Furlan tem percebido uma certa melhoria no mercado externo, que está reagindo aos preçosque caíram muito no ano passado, especialmente no Japão e na Europa, por conta dos excessos de estoques e do aprofundamento da crise. “Os preços estão voltando à normalidade, o que fará comque as exportações deste ano não sejam onerosas como as do passado”, diz Furlan.
Veículo: Brasil Econômico