Destino da carteira de crédito e negociação sobre os direitos da marca “Casas Bahia” ainda são pontos incertos da associação entre Abilio Diniz e a família Klein
Em meio às discussões sobre a avaliação dos ativos da Casas Bahia, cuja fusão com o Ponto Frio está sendo renegociada há meses, dois pontos importantes ainda permanecem incertos: o valor real da carteira de crédito e o destino da marca.
Segundo apurou o BRASIL ECONÔMICO, a Nova Casas Bahia foi constituída com uma carteira de crédito de R$ 2,13 bilhões, cifra que não foi informada no ato da divulgação do negócio e é contestada pela família Klein. O que se sabe - e está devidamente especificado no fato relevante entregue à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) - é que os Klein deixaram de fora da sociedade R$ 1,06 bilhão, um terço do total da carteira, de R$ 3,2 bilhões. Cabe lembrar que a carteira de crédito tem grande potencial de gerar recursos para ambas as partes, uma vez que a venda deste ativos para bancos é cada vez mais comum no setor de varejo.
Em uma negociação de superlativos — maior número de clientes, maior carteira de crédito, maior frota de veículos —, a outrora mais cobiçada carteira de recebíveis do varejo já não mostra o mesmo vigor. Em 2007, o valor da carteira da Casas Bahia, constituída basicamente pelo crediário, era de R$ 6 bilhões, o que representava 60% de suas vendas. Desse montante, R$ 1 bilhão foi transferido, na época, para o Bradesco, que ficou responsável por fazer a migração dos carnês de pagamento para o cartão. Procurado, o banco não quis se manifestar sobre o valor atualizado da carteira de crédito. Hoje, o crediário representa 30% das vendas da Casas Bahia. Em 2008, o faturamento da rede foi de R$ 13,9 bilhões.
“Isso mostra que o modelo de varejo da rede mudou quando o crédito direto deixou de ser o principal negócio, que agora é o cartão”, afirmou um executivo do setor.
Cartas na manga
Ao contrário do que possa parecer, frente aos comentários sobre o mau negócio feito pelos donos da Casas Bahia, os Klein também se resguardaram. Segundo envolvidos nas negociações, a propriedade sobre amarca Casas Bahia continua sendo exclusiva da família do fundador, Samuel Klein. “Se considerássemos a marca, não haveria negociação”, afirmou uma fonte próxima à família Diniz. “Até porque não seria inteligente pagar bilhões por um ativo sendo que o dono deste ativo está na sociedade.”
Apesar disto, no fato relevante, os grupos afirmam que bens e direitos de propriedade intelectual da Casas Bahia (logo, a marca), fazemparte da sociedade entre os grupos.
Embora considerado um ativo intangível,amarcaéum patrimônio importante. “O nome Casas Bahia é tão forte que os Klein podem até montar uma nova rede de varejo do zero caso a associação mude de rumo”, diz o consultor da Brand Finance, Gilson Nunes. O poder desta marca tem como lastro os constantes investimentos empublicidade feitos pelas Casas Bahia ao longo dos anos. Durante pelo menos oito anos, a varejista tem gasto R$ 500 milhões por ano em propaganda. O montante chega a R$ 4 bilhões no período.
O problema é “quando” - e “se” - os Klein decidirem sair da sociedade. Neste caso, um contrato de licenciamento, diz uma fonte, poderia resolver a questão.
Frota
Entre os ativos que ficaram com a Nova Casas Bahia está a frota própria de 3.577 veículos. Ela vai na contramão do varejo brasileiro, já que a grande maioria das companhias– incluindooPão de Açúcar– terceiriza as entregas.
O valor desta frota gira em torno de R$ 470 milhões, segundo estimativas da consultoria Oikonomia, especializada em veículos. Uma hipótese levantada no mercado é que o Pão de Açúcar pode querer se desfazer dos veículos da Casas Bahia para continuar realizando as entregas de forma terceirizada. “Desenvolver- se em uma área que não faz parte do negócio principal como, por exemplo, a logística, é muito difícil”, diz Nuno Fouto, coordenador do Programa de Administração do Varejo da Fundação Instituto de Administração (FIA). “Por outro lado, a empresa que consegue ser eficiente controlando sua própria logística tem uma vantagem a mais. É o caso da Casas Bahia.”
Vale lembrar que, na divisão, a família Klein ficou com as aeronaves e hangares da empresa, avaliadas em R$ 250 milhões.
Veículo: Brasil Econômico