Produto criado pela Alcoa para o mercado brasileiro de transporte de cana-de-açúcar começa a ganhar escala prometendo redução de custos
O corte da cana-de-açúcar começa nesta segunda-feira na Usina São Francisco, emSertãozinho, interior de São Paulo. Mas, diferentemente de outros anos, o canavial vai assistir ao trânsito prateado de carretas equipadas com carrocerias de alumínio em vez dos tradicionais equipamentos feitos de aço.
A novidade está sendo entregue pela Sergomel à usina, que amanhã recebe o último lote dos três comboios formados por duas caixas em alumínio extrudado com 12 metros e meio de comprimento por 4metros e 40 centímetros de altura — e capacidade para até 50 toneladas cada.
A carroceria circula na cidade a noroeste do estado paulista após parceria entre a Sergomel e a Alcoa e resultante de uma década de pesquisa que mobilizou a equipe de engenheiros brasileiros e estrangeiros, instalados no centro de inovação de Pittsburgh (EUA) da siderúrgica, para criar uma soluçãomais leve de transporte para o setor sucroalcooleiro. “O primeiro paradigma que precisou ser quebrado foi conseguir queumsetor acostumado a trabalhar comaço usasse o alumínio. Depois, convencer omercado de que o equipamento temamesma resistência do de aço”, conta o gerente de produto e mercado industrial da Alcoa, Reginaldo Otsu.
Mas antes de ganhar o mercado, o projeto precisou de idas e vindas à prancheta. Em 1996, a siderúrgica desenvolveu protótipo junto com a Randon para viabilizar as carrocerias de alumínio para a Cosan. Problemas de resistência mecânica do produto, contudo, azedaram a investida inovadora. “O equipamento sofria problemas em pontos estruturais. Precisamos remodelar o projeto, com cálculos mais rígidos. Colocamos reforços na estrutura e eliminamos a solda que com o tempo trincava”, diz Otsu.
A versão melhorada foi testada pela Usina San Martinho, que comprou duas caixas de alumínio no início do ano passado. Em seguida, foi a vez da Brenco encomendar uma carroceria. Na Feira Internacional da Indústria Sucroalcooleira (Fenasucro), no final de 2009, as carrocerias reluziram aos olhos das empresas.
Foi lá que a São Francisco encomendou seis conjuntos de carrocerias à Sergomel. A fabricante de equipamentos de transporte para a indústria canavieira (carrocerias, reboques, trucados, etc) diz que já comercializou 13 comboios do equipamento. Quantidade relevante quando se observa que a empresa produz 50 carrocerias de aço por ano.
A empresa calcula que as vendas crescerão conforme as empresas conheçam as vantagens do produto de alumínio. O limitador, por enquanto, é o preço das carrocerias de alumínio em relação às de aço. “O produto final é 30% mais caro, mas, olhado pela empresa no longo prazo, ele é melhor. A vantagem será vender o alumínio por um valor muito mais alto quando o equipamento virar sucata”, diz o engenheiro de produção da Sergomel,
Adriano Terra.
Inovação na comercialização
A Alcoa está atenta ao apelo comercial da reutilização do alumínio sobre o desempenho das vendas. Para ganhar espaço do similar de aço, a siderúrgica elaborou um modelo de negócios em que o cliente fornece o alumínio descartado como parte do pagamento. “Em caso de renovação de frota, a carroceria velha pode ser oferecida pelo operador logístico para obter desconto. É um modelo de venda sustentável”, observa Otsuo.
Para Eduardo Gerosa, gerente comercial da divisão de extrudados da Alcoa, o fato de o equipamento de alumínio representar uma redução de até 50% no peso de carretas — incluindo rodas em alumínio forjado — deve estimular a opção das empresas pelo produto. “Há economia também no consumo de pneus por causa do peso transportado ser menor. A manutenção também fica mais barata porque não há necessidade de pintar a carroceria, como acontece coma de aço, porque o alumínio não enferruja e dispensa tinta”, observa.
O executivo calcula em 5 mil unidades o potencial das carrocerias para o segmento sucroalcooleiro. Entram na conta também 20 mil unidades para transporte de carga seca e caminhões basculantes. “O potencial canavieiro é gigantesco, principalmente porque tem aumentado o número de usinas”, diz Gerosa.
A turbinada virá com o cumprimento da Lei da Balança, regulamentada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Conatran), emdezembro de 2007. A legislação mais rigorosa impõe limites ao peso dos veículos de carga. “Não dá para fugir das balanças, elas estão nos pedágios, pontua Adriano Terra, da Sergomel.
Veículo: Brasil Econômico