Fundada há 159 anos, botica adquirida pela francesa L’Oréal incorpora extratos orgânicos da Amazônia em nova família de produtos e prepara a abertura de sete pontos de vendas no Brasil em até três anos
Na década de 90, quase toda paulistana que viajava para Nova York era obrigada pelas amigas a dar uma passadinha no East Village, mais especificamente no número 109 da Terceira Avenida, e fazer compras no mesmo endereço frequentado pela Princesa Diana. Foi ali que, em 1851, o farmacêutico John Kiehl fundou a botica Kiehl´s, famosa por trabalhar com cosméticos naturais para o rosto, o corpo e os cabelos.
Pequeno e simples, o local era peculiar. Suas embalagens, feias a ponto de causar espanto, eram disputadíssimas por mulheres do mundo todo. A aparência dos potes, uma versão piorada daqueles usados pelas farmácias de manipulação, protegia ativos importantes e caros, que garantiam, entre outras benesses, a elasticidade da pele.
O sucesso da Kiehl´s era tamanho que, em 2000, o Grupo L´Oréal adquiriu a pequena farmácia, na época estimada em US$ 40 milhões. Como dedo dos franceses, amarca ganhou acesso a novas tecnologias, embalagens coloridas emodernas e, sobretudo, escala.
Em pouco tempo, a L’Oréal transformou a Kiehl´s em um pequeno império. Hoje são mais de 500 lojas espalhadas pelo mundo — a primeira continua operando. O Brasil, geograficamente tão distante das capitais mundiais da cosmética (Nova York e Paris), foi eleito pela matriz como um dos pilares de crescimento damarca.
A alavancagem de Kiehl´s no mundo está diretamente ligada à incorporação da matéria-prima brasileira às suas linhas de cosméticos — caso do açaí da Amazônia e da argila branca da Ilha de Marajó (PA)—e também da abertura de lojas no país.
Desde o final de 2008, amarca fincou sua bandeira no país com a inauguração de uma loja no Shopping Iguatemi, em São Paulo. Em setembro, uma segunda loja deve ser aberta no Rio de Janeiro e, em2011, duas novas unidades vão surgir nestas capitais.
Em três anos, a meta é ter sete lojas no país, contemplando também capitais como Salvador e Belo Horizonte. “Estamos observando os indicadores locais e eles crescem mês a mês. No primeiro trimestre deste ano, as vendas da loja dobraram de tamanho e o ticket médio cresceu. Atualmente, ele está por volta de R$ 170, o que dá para comprar 2 produtos e meio”, conta Cinthia Marino, diretora de Kiehl´s no Brasil.
Ela calcula que cinco mil clientes frequentam a loja do Iguatemi. A marca também planeja ampliar suas vendas a partir da parceria recente que fechou coma loja virtual Sacks,uma das mais populares da internet brasileira. A partir do e-commerce, o objetivo da Kiehl´s é atingir consumidoras de todo o país.
Mesmo sem conhecer a marca, Cinthia explica que muitas consumidoras dão preferência aos produtos para cabelo e corpo. Produtos faciais, no entanto, geralmente são vendidos depois que a cliente se habitua à marca.
Fruto da Amazônia
Para desenvolver uma nova linha para o rosto, a Kiehl´s recorreu ao açaí orgânico ou “super berry”, como ele é chamado pelos americanos. Depois de cinco anos de pesquisa e desenvolvimento, a Kiehl´s constatou que o açaí apresentava elevados níveis de antioxidantes, que ajudam a reverter e prevenir os danos dos radicais livres oxidantes sobre as células da pele.
Para desenvolver a linha Açaí Damage-Reparing Skincare, a Kiehl´s compra o extrato de açaí de uma empresa brasileira chamada Beraca (ver ao lado). A partir da combinação do fruto da Amazônia com suco de aloe vera e óleos essenciais de lavanda, ela criou sabonete líquido, tônico, sérum e hidratante, que começam a ser vendidos mundialmente a partir deste mês.
Veículo: Brasil Econômico