Nestlé vende bebida Alpino que não contém Alpino

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O bombom não é usado na receita de sua versão para beber, lançada há 3 meses

Aviso na embalagem do produto vem em letras miúdas; Promotoria e órgãos de defesa do consumidor veem indução ao erro

 

A embalagem é dourada, como a do Alpino. Tem a imagem de um bombom, como o Alpino. Até o nome está lá, idêntico. Mas o Alpino Fast, versão para beber do famoso chocolate da Nestlé, não tem Alpino.

 

Foi o que bastou para deflagrar uma polêmica que colocou a Nestlé na mira do Ministério Público, do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) e de órgãos de defesa do consumidor.

 

O principal argumento é que o produto induz o consumidor a erro, por não ter o bombom. A empresa se defende com uma inscrição na embalagem. Em letras miúdas, o aviso diz: "Não contém chocolate Alpino".

 

A informação, porém, não consta dos anúncios da bebida, lançada há três meses.

 

O sabor também é diferente, apontam consumidores e críticos. "Não tem nada a ver", diz a publicitária Letícia Watanabe, 25. Mesma opinião tem o chef confeiteiro Flavio Federico, 42, que testou o bombom e a bebida a pedido da Folha. "O aroma é bem diferente. O bombom tem aroma de chocolate; a bebida, de leite", disse. O Alpino de beber lhe pareceu "aguado".

 

A Promotoria de Defesa do Consumidor do Rio de Janeiro estuda entrar com ação na Justiça contra a Nestlé ou obrigar a empresa a mudar a embalagem e/ou a composição.

 

O caso está sob investigação, disse o promotor Júlio Machado. Segundo ele, o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, ligado ao Ministério da Justiça, também abriu procedimento sobre o tema. A assessoria do ministério disse que só poderia confirmar a informação hoje.

 

Já o Conar abriu representação para apurar eventual erro na publicidade do produto -a embalagem é considerada propaganda. Se condenada, a Nestlé terá de modificar a embalagem.

 

Internet
A discussão sobre o Alpino rendeu 354 comentários no blog "Coma com os Olhos" (comacomosolhos.com), o primeiro a levar o assunto à internet, no final de fevereiro.

 

O dono do blog, Itamar Taver, 36, diz que o texto "Alpino Fast - Você Está Sendo Enganado" fez as visitas ao blog explodirem ("mais de 100 mil visitas únicas e mil retuítes"). Foi ele que denunciou o caso à Promotoria e ao Conar.

 

É necessário ler sempre muito bem os rótulos

 

Parece, mas não é. Às vezes, essa expressão é explorada para dizer que algo é melhor do que se imaginaria. Há situações, contudo, em que parecer e não ser lesa os direitos de escolha dos consumidores.

 

Mesmo que o fabricante avise, na embalagem, que o produto não contém determinado item, a indução ao consumo pode ocorrer pelo nome, pela cor e por outras características.

 

É o que ocorre com a bebida láctea Alpino, da Nestlé. Basta olhar a garrafinha plástica para nos lembrarmos do chocolate Alpino. Associação óbvia.

 

Proposital, sem dúvida, pois por que o fabricante copiaria o rótulo de um produto em outro que não tem o principal ingrediente? O objetivo não explícito é atrair crianças e adolescentes. Uma aposta de que não conferirão o rótulo para se certificar de que tenha chocolate.

 

A indução da compra por falsa premissa contraria o Código de Defesa do Consumidor.

 

Embora no caso do Alpino, na letra fria da lei, não se trate de propaganda enganosa porque informa que não tem chocolate, bate de frente contra o parágrafo segundo do artigo 37 do CDC, que diz ser abusiva a publicidade que se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança.

 

Ora, uma criança que acompanhe os pais às compras e veja a bebida láctea Alpino, com nome e embalagem praticamente iguais aos do chocolate, poderá pedir o produto certa de que tenha... chocolate.

 

Que as autoridades evitem a indução ao erro. E que os consumidores saibam que não devem comprar nenhum produto sem ler muito bem o rótulo.

 

Empresa diz que bebida tem "sabor similar"

 

A Nestlé disse que o Alpino Fast é feito com ingredientes que lhe conferem "sabor similar" ao do chocolate Alpino.

 

Não foi possível, porém, criar uma bebida que fosse exatamente a versão derretida do Alpino, em razão de os produtos terem "processos produtivos diferentes", disse a empresa.

 

Segundo a Nestlé, o Alpino Fast foi aprovado em pesquisa feita entre 2008 e 2009 com consumidores frequentes do bombom.

 

"Os resultados asseguraram que as características da bebida foram relacionadas à marca Alpino, tendo revelado que a grande maioria dos consumidores reconheceu na bebida o verdadeiro sabor do chocolate Alpino."



Sobre a inscrição "Este produto não contém Alpino", contida na embalagem em letras pequenas, a Nestlé disse que a incluiu em consideração à "transparência da comunicação com o consumidor, em especial aquele que, eventualmente, tivesse a expectativa de que o produto fosse simplesmente chocolate Alpino derretido e engarrafado".

 

A Nestlé não informou quantos Alpino Fast já vendeu. O produto custa cerca de R$ 2,50 -a publicidade mira principalmente o público na faixa dos 18 anos.

 

Veículo: Folha de São Paulo

 


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