Batata-doce está em plena safra

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Mesmo em terras arrendadas, produtor tem de zelar pela qualidade, pois parte da produção é exportada

 

A batata-doce está em plena colheita na região de Presidente Prudente (SP), principal polo produtor no Estado, com 1,4 milhão de caixas de 24 quilos, e plantio de 2.200 hectares. Segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA), a produção estadual chega a 2,3 milhões de caixas de 24 quilos, numa área plantada de 3.500 hectares.

 

A maioria das áreas cultivadas com batata-doce em Prudente está nas mãos de pequenos produtores, que arrendam terras. Mesmo sob o regime de arrendamento, porém, eles têm de cuidar muito bem da terra e produzir com qualidade, sobretudo porque boa parte da safra vai para exportação.

 

Alguns enviam para o exterior até 40% da colheita. É o caso do agricultor Elio Francelino Portella, que possui 240 hectares em Tarabai, Narandiba, Anhumas e Álvares Machado. Ele produz, em média, 840 caixas de 25 quilos por hectare ? 40% da produção é exportada para Portugal, Alemanha, Canadá, França e Inglaterra.

 

Mais pesada. "Tenho uma parceria com outros produtores, que fazem a exportação." Portella tem de entregar a batata lavada e selecionada, para atender ao padrão de exportação. "A batata exportada pesa entre 400 gramas e 1,2 quilo, não tem defeitos, possui cor uniforme, rosada, e deve ter formato mais alongado", explica. O padrão da batata distribuída no mercado interno difere no peso: deve pesar de 200 a 350 gramas.

 

Ele diz que, para exportar, há o entrave da falta de agrotóxicos registrados ? os importadores não permitem o uso de produtos que não tenham registro para uso no tubérculo. "Tento aplicar o mínimo de agrotóxico, mas quando é necessário faço com acompanhamento técnico", afirma.

 

O que não é exportado, Portella distribui para as Ceasas do Rio e Mato Grosso, para uma rede de supermercados no Paraná e para indústrias de doces em Santa Catarina e na região de Bauru (SP). "A indústria tem outro padrão. A batata tem de pesar de 1,5 a 5 quilos. Quanto maior, melhor, porque o peso influencia o rendimento."

 

Packing house. Portella possui dois barracões, onde lava e classifica a produção. "O preço oscila muito, mas hoje a caixa de 25 quilos, na roça, está cotada em R$ 8 a R$ 10. O preço da caixa de 20 quilos da batata lavada está em R$ 14, R$ 15, no Rio."

 

A variedade utilizada por 90% dos produtores da região é a "canadense", que veio da África do Sul, é rosada e tem a polpa branca. "É uma batata resistente, de polpa firme e a de maior aceitação", diz o produtor Luiz da Silva Rocha, que planta, em média, 100 hectares de batata-doce em municípios como Álvares Machado e Pirapozinho. Rocha exporta cerca de 30% do que produz ? em torno de 80 mil caixas por ano ? para Canadá, França e Holanda. As vendas para a Argentina e Uruguai começam apenas no segundo semestre, quando o tempo esfria. Rocha explica que esta safra não está sendo das melhores por causa do excesso de chuva no fim de 2009 e começo deste ano. "Minha produtividade ficou em 400 caixas de 26 quilos por hectare; se não tivesse chovido tanto, chegaria a 700 caixas por hectare."

 

Padrão. No mercado interno, Rocha abastece as Ceasas do Rio, Paraná e de Mato Grosso. "No Canadá a preferência é por batata graúda; na Holanda, por batata menor. No Rio a demanda é por uma batata-doce de formato mais alongado e, em Curitiba, a preferida é a batata arredondada." Segundo Rocha, três itens são fundamentais na atividade: barracão para fazer a classificação da batata, maquinário, que são os lavadores, e mão de obra capacitada."

 

Embora os produtores prefiram não dizer quanto ganham a mais com a exportação, o agrônomo Gustavo André Ferreira de Castilho, da Casa da Agricultura de Pirapozinho, diz que o preço pago ao produtor que exporta é estimado em R$ 20 a caixa de 25 quilos. A média de produtividade obtida por produtores da região ? que chega a 700 caixas de 25 quilos por hectare ? não é considerada ruim, mas pode melhorar. "Já teve produtor que conseguiu 1.000, 1.500 caixas por hectare", diz o agrônomo.

 

Padronização ainda não existe no setor

 

Para o agrônomo do Centro de Qualidade em Horticultura da Ceagesp, Hélio Watanabe, falta à cadeia produtiva da batata-doce uma maior profissionalização. A ausência de padronização das batatas é um dos principais gargalos. "Há hoje muita variabilidade genética. O produtor simplesmente pega a batata-semente e planta. Não há melhoramento", diz. Segundo Watanabe, isso gera mais trabalho e custos, para quem vai comercializar a batata-doce, como é o caso do atacadista José Luiz Batista, que vende cerca de 500 toneladas do produto por ano.

 

Como fornece para grandes redes de varejo, Batista é obrigado a reclassificar todo o produto que recebe. Ele reclama também das embalagens adotadas no transporte do campo para o entreposto. "Muitos ainda usam caixas de madeira, que causam muitos danos mecânicos e prejuízos",diz.

 

Batista atribui esses gargalos de desenvolvimento na cadeia ao baixo consumo do produto por parte da população. "Não há cultura de consumo da batata-doce no dia a dia das pessoas, só em épocas específicas, como em festas juninas. Então, como o consumo não cresce, não há incentivo nem exigências de melhoria do manejo da porteira para fora."

 

Nova variedade. A Embrapa, por meio do programa Biofort, que reúne 11 centros de pesquisa da instituição, está introduzindo uma nova variedade de batata-doce, chamada de beauregard, de origem norte-americana. A nova cultivar foi trazida para cá por meio de um convênio com o Centro Internacional de La Papa, do Peru, e é rica em vitamina A, pois diferentemente das variedades de polpa branca ou creme, esta cultivar tem polpa alaranjada. "Chegamos a essa variedade após avaliar 43 materiais, enviados pelo Peru", diz o agrônomo da Embrapa Hortaliças, Werito Melo. Em breve, a variedade estará disponível a pequenos produtores.

 

Veículo: O Estado de São Paulo
 

 


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