Gargalos dificultam o transporte da produção

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Crescimento da safra gaúcha de grãos para 24 milhões de toneladas aumenta o trânsito dos 230 mil caminhões que transportam cargas em estradas mal dimensionadas para um volume dessa importância

 

O Rio Grande do Sul se prepara para colher uma das maiores safras agrícolas dos últimos anos. Segundo estimativas do IBGE, a produção total de grãos para este ano será de cerca de 24 milhões de toneladas, um volume 8,4% superior ao da safra de 2009. O crescimento será puxado principalmente pelo desempenho das culturas de soja e milho, que juntas tiveram um aumento de 24% na produção. Mas, os números positivos da safra gaúcha chamam a atenção para as condições da infraestrutura logística do Estado para escoar a produção.

 

Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), José Carlos Silvano, há um déficit de investimentos na construção e melhoria das estradas, que não acompanhou o crescimento da safra e da frota de caminhões. “Na última década a produção de grãos dobrou e mais de um milhão de novos caminhões foram incorporados à frota nacional. Hoje há no mercado 2,3 milhões de caminhões em circulação, sendo que 10% estão no Rio Grande do Sul”, revela Silvano. A projeção é de que até 2018 mais um milhão de novos caminhões devam entrar em circulação, o que torna mais urgente os investimentos em rodovias. “Há muito trânsito de veículos em pouco espaço e as estradas estão inadequadas. Se o Brasil continuar crescendo 5% ao ano e se a safra continuar crescendo também na proporção atual, o transporte rodoviário terá de crescer pelo menos 10% para atender todas as pontas”, afirma Silvano.

 

O porto do Rio Grande é o principal ponto de embarque para a exportação da soja gaúcha que chega das regiões das Missões, Norte, Noroeste e Centro do Estado. A movimentação intensa de caminhões cria um cenário nas estradas que requer mais cuidado dos motoristas. No pico da safra mais de mil caminhões graneleiros são recebidos diariamente no porto nos quatro terminais de soja: Termasa e Tergrasa, Bunge e Bianchini, que têm capacidade para movimentação de 12 milhões de toneladas de soja ao ano. Segundo o superintendente do porto, Jayme Ramis, para organizar a entrada dos caminhões que chegam sem agendamento ou que não conseguem entrar nos terminais, a Superintendência do porto liberou uma área na em frente ao Tecon para estacionamento de 400 caminhões. O local possui segurança, banheiros, chuveiro, tanque para lavar roupa e toda infraestrutura necessária ao motorista.

 

A logística, explica o supervisor de operações da Bianchini, Antonio Carlos de C.B. Duarte, depende muito da carga e da chegada dos navios. O terminal da Bianchini atende em média 150 navios por ano, sendo que abril, maio, junho e julho são os meses de maior movimentação em função da safra de soja. “Apenas no mês de abril recebemos 18 navios que abastecemos com cerca de 560 mil toneladas”, afirma Duarte. Além da soja, o terminal também opera com farelo e óleo de soja, trigo, arroz e cavacos de madeira. O principal destino da soja é a China e do farelo a Europa. Os os cavacos de madeira são transportados para o Japão. Mas a carga não se restringe ao modal rodoviário. Parte da safra de soja chega ao terminal por navio e por trem.

 

A capacidade estática de armazenagem do Bianchini em Rio Grande é de 1 milhão de toneladas, distribuída em 4 armazéns horizontais, sendo um deles o maior da América Latina, além de 10 tanques para armazenagem de óleo de soja. “Estamos com um projeto para a duplicação do nosso terminal marítimo. Hoje, atendemos um navio por vez e pretendemos com a ampliação operar com dois navios simultaneamente. Estamos em fase final de aprovação deste empreendimento junto à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq)”, diz Duarte. “Essa obra beneficiará toda a estrutura logística, havendo maior giro dos produtos, rapidez no embarque e diminuição de custos, principalmente aqueles gerados pelas estadias dos navios, favorecendo a todos os agentes envolvidos, tais como  produtores, afretadores e compradores”, destaca.

 

Falta de armazéns transfere os problemas para os portos

 

Atualmente, “quase 90% da soja é transportada de caminhão no Estado”, afirma o diretor-financeiro e coordenador da comissão de grãos secos da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul  (Farsul), Jorge Rodrigues. “Há uma concentração do transporte em um único modal e na mesma época. A hidrovia gaúcha deveria ser mais utilizada, da mesma forma que as ferrovias.” Para ele, “essa mudança é uma questão de vontade. Falta uma política de desenvolvimento do modal ferroviário com foco num interesse maior, inclusive que leve em consideração a questão da segurança nas rodovias”, afirma. O investimento no desenvolvimento de outros modais não significa terminar com o transporte rodoviário, mas sim utilizá-lo de forma mais eficiente, destaca Rodrigues. “O caminhão é apropriado para trajetos mais curtos.Nos Estados Unidos, o transporte de cargas é todo voltado para a integração dos modais”, destaca.

 

Outro problema que interfere diretamente no custo do escoamento da safra é o déficit de armazéns para estocagem dos grãos. Segundo Rodrigues, o Estado precisaria ter uma capacidade de armazenagem 50% maior do que a atual, pois hoje as safras são colhidas e imediatamente embarcadas em caminhões que seguem para os portos de exportação. “A capacidade estática existente é do tamanho da safra. Mas, como temos safras coincidentes e produtos da safra passada, como trigo e milho, ainda estocados, o ideal seria que a capacidade de estocagem fosse 150% da safra”, explica Rodrigues.

 

É a falta de espaço para armazenagem dos grãos, como a soja neste período, que provoca as filas nos portos. “O caminhão acaba funcionando como um armazém”, afirma Rodrigues. Falta também uma política de investimentos para melhoria nos portos capaz de garantir operações com mais agilidade. “Os problemas gerados pela falta de dragagem são recorrentes. A obra no porto do Rio Grande precisa ser completada para que possa receber navios com maior calado. Só isso já vai garantir mais agilidade”, avalia Rodrigues.

 

O gerente comercial de grãos da Cotrijal, Irmfried Schmiedt, explica que em função da dificuldade de comercialização do trigo da colheita de 2009 e da safra de milho, 50% da área de armazenagem da cooperativa estão ocupadas com estes produtos. “Por isso, assim que começou a colheita da soja, o produto teve de ser encaminhado ao porto”, afirma Schmiedt. Para o presidente do Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindiarroz), Élio Coradini, parte da região da campanha gaúcha é servida por ferrovias que não são eficientes para movimentar os produtos da agroindústria até os centros consumidores. “A malha ferroviária precisa ser ampliada para os centros de produção. Além disso, deveria haver mais companhias operando na malha. E elas poderiam investir em vasos capilares que partissem dos centros de produção”, afirma. “Tínhamos um ramal que seguia de Livramento até Dom Pedrito e depois Bagé que foi desativado e deveria ser reconstituído para melhorar a logística”, complementa. Seria muito importante ampliar a malha ferroviária, principalmente para a movimentação da soja das zonas de produção localizadas nas regiões Norte e Nordeste do Estado, pois o custo do transporte rodoviário se torna muito caro em algumas situações.

 


Veículo: Jornal do Comércio - RS


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