Agricultores de Piedade (SP) dizem que propaganda na TV despertou curiosidade dos consumidores
O filme publicitário exibido em horário nobre da televisão para divulgar uma linha de salgadinhos à base de mandioca e inhame, causou um aumento na procura pelo inhame nas áreas de produção de Piedade, no interior paulista.
O filme mostra um agricultor que colhe um grande inhame, fica impressionado e leva a raiz até a fábrica de salgadinhos. Ao longo do caminho, ele vai repetindo: "Este é o inhame mais bonito que eu já colhi." A nova linha da empresa inclui, além do inhame, a mandioca. As novidades são oferecidas fritas, na forma de chips, a exemplo da tradicional batata.
O produtor Francisco Soares da Silva, de Piedade, sentiu na roça os prováveis efeitos da propaganda. "Os pedidos aumentaram muito depois que o inhame começou a aparecer na televisão. Acho que as pessoas que não conheciam a raiz resolveram experimentar." Silva estima em 30% o aumento na demanda e só não vendeu mais porque a produção é limitada. "Se tivesse mais, vendia tudo."
Rotação. O agricultor utiliza o inhame no sistema de rotação com a cultura do gengibre. Este ano, ele plantou cerca de 10 hectares. A produção chega a 20 toneladas por hectare. Na segunda semana de junho o produtor recebia R$ 1 livre por quilo. O produto chega a R$ 3 para o consumidor. Silva conta que atende a redes de supermercados e também entrega para centros de distribuição, como os entrepostos da Ceagesp e da Ceasa em Sorocaba.
O agricultor Benedito Garcia cultiva 2 hectares de inhame na zona rural de Piedade, em rotação com outros tubérculos, como cenoura e beterraba. Este ano, Garcia chegou a vender antecipadamente parte da lavoura. O produto passará por uma seleção e o inhame de melhor padrão será exportado. Como outros produtores, Garcia produz a própria semente. "As batatas menores a gente reserva para fazer o novo plantio." Ele cultiva o inhame " roxinho", com coloração que tende para essa cor. Os tubérculos são menores, mas, mais macios, agradam mais à dona de casa, segundo ele.
Duas safras. Piedade tem cerca de 200 produtores de inhame e a área cultivada chega a 800 hectares, com produção anual de 16 mil toneladas, segundo a Casa da Agricultura do município. No preço atual, gera para os produtores uma receita bruta de pelo menos R$ 16 milhões. Alguns produtores colhem duas safras por ano. A cultura, que prefere terrenos argilo-arenosos, é rústica, segundo o engenheiro agrônomo Alberto Shimoda. "Geralmente, o inhame entra no sistema de rotação de lavouras e aproveita o adubo já existente no solo, dispensando novas aplicações", diz o agrônomo. Os agricultores não fazem uso de defensivos, nem precisam irrigar as plantações.
Segundo Shimoda, por ser cultivado em pequenas áreas e com baixa tecnologia, o inhame é cultura própria para a agricultura familiar. Apenas a colheita, manual, demanda um volume maior de mão de obra. Na região de Sorocaba, a raiz é plantada também nos municípios de Tapiraí e Ibiúna. O tubérculo é rico em amido, proteínas e vitaminas do complexo B e entra principalmente na composição de pratos salgados, à base de carnes e massas. Acompanha bem carnes de panela, como costela de boi e de carneiro. Donas de casa do interior de São Paulo também preparam o inhame frito, cortado em fatias finas, fórmula agora adotada pela empresa de salgadinhos.
Veículo: O Estado de S.Paulo