Brasil deve ganhar espaço no "novo" mercado de lácteos

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O mercado global de leite sofreu uma reconfiguração após a alta de preços de 2007, abrindo espaço para o Brasil crescer e se firmar como um importante player nesse setor no longo prazo. A conclusão é de um estudo do Rabobank, instituição financeira com foco no agronegócio, intitulado "O setor de lácteos no Brasil: uma força emergente nas exportações globais de lácteos?"

 

O relatório sobre o segmento de leite no Brasil, lançado em agosto passado na Holanda, foi feito pelo analista do Rabobank Paulo Carletti, depois de o banco holandês receber várias consultas de investidores internacionais sobre esse mercado. "Investidores internacionais começaram a nos procurar para entender o mercado", afirma Carletti. 

 

O interesse dos estrangeiros, aliás, permanece, apesar do recente recuo das cotações no mercado brasileiro e internacional - por causa da maior oferta de leite - e do recrudescimento da crise financeira nos Estados Unidos. 

 

Carletti observa que o Brasil foi favorecido pela alta de preços dos lácteos - estimulada por estoques menores nos EUA e na Europa e aumento da demanda em países em desenvolvimento da Ásia e nos países exportadores de petróleo. Esse quadro de consumo mais aquecido coincidiu com um momento de menor produção na Nova Zelândia e Austrália, países afetados por uma seca severa no ano passado. 

 

Tal conjuntura permitiu ao Brasil ampliar produção e exportações, principalmente de leite em pó. E como a sinalização é de que os preços internacionais permanecerão acima dos níveis históricos, o Rabobank acredita que a produção brasileira continuará a ser estimulada. Para este ano, a previsão é de uma produção de 30 bilhões de litros de leite no país, ante 27 bilhões em 2007. 

 

Carletti, pondera, entretanto, que o cenário positivo previsto para o segmento de lácteos pode ser alterado dependendo do impacto da crise financeira americana no crescimento econômico mundial e também brasileiro. "Algum impacto deve haver. Em caso de recessão, será necessário refazer projeções", afirma ele. 

 

Mas, até agora, o que o estudo mostra é que o crescimento econômico do Brasil - projetado entre 4% e 4,6% ao ano nos próximos cinco anos - deve seguir estimulando o mercado interno de lácteos. Nos últimos anos, o aumento do consumo per capita de lácteos foi de 2,5% e com isso, o mercado cresce a uma taxa de 4%. A expectativa também é de incremento da demanda por produtos de maior valor agregado como queijo e iogurte. A projeção é que em dez anos o consumo de lácteos atinja o equivalente a 34 bilhões de litros, 6,7 bilhões a mais do que neste ano. 

 

O mercado externo também deve continuar ganhando espaço. Segundo o estudo do banco holandês, os maiores exportadores mundiais de lácteos são atualmente Nova Zelândia, União Européia e Austrália, mas nos últimos cinco anos, Estados Unidos, Argentina e Brasil foram os países que mais ampliaram suas vendas externas de lácteos. 

 

Carletti afirma que Brasil e Nova Zelândia são os países em melhores condições para atender ao avanço da demanda por lácteos. Ele explica que a produção se recupera no país da Oceania, após a seca de 2007, com a entrada em operação de 300 novas fazendas. O executivo reconhece, porém, que há limitadores no crescimento neozelandês, como a pequena disponibilidade de terras e a possibilidade de ganhos apenas marginais na produtividade do gado leiteiro. 

 

Aqui, enquanto isso, ainda há potencial para elevar a produtividade do gado. Atualmente, o rendimento por vaca/ano no Brasil é de 1.700 litros de leite; já na Argentina é de 4.900 litros e na Nova Zelândia, de 3.700 litros por vaca por ano. "[Preços mais altos] devem estimular investimentos e melhorias na produção primária e no processamento, melhorando assim a capacidade do país de participar do mercado internacional", afirma o relatório. 

 

O baixo custo da terra e da mão-de-obra também fazem do Brasil um dos países mais competitivos na produção de leite. Mas tudo isso não basta para o país se tornar um agente importante no mercado mundial de leite e acessar novos mercados, como países da Ásia e Oriente Médio - hoje os principais clientes do Brasil são Venezuela e Argélia. "O mercado importador ainda não é confiante em relação à qualidade do leite e à constância da oferta", afirma Carletti. 

 

A constância está relacionada com a sazonalidade na produção de leite, já que o gado é criado basicamente a pasto, com suplementação alimentar. "A oferta oscila, e a indústria tem capacidade ociosa em alguns momentos do ano", explica. Além disso, a avaliação é de que a qualidade do leite no Brasil "ainda não é muito boa". 

 

De acordo com o estudo, alguns laticínios têm seus próprios programas de pagamento de prêmios por qualidade, mas isso não ocorre em todo o país. Ainda assim, os incentivos para os fazendeiros produzirem leite de alta qualidade sob tais sistemas são consideráveis, e o prêmio pago por qualidade, fidelidade e oferta consistente pode alcançar até 30%, segundo o estudo. 

 

"Esse ganho financeiro irá provavelmente encorajar investimentos em todos os elos da cadeia, gerando melhorias significativas na qualidade, maior homogeneização da matéria-prima e menos flutuação na oferta de safra para safra", diz o trabalho. 

 

Para Carletti, o recente movimento de aquisições no setor de lácteos "não é uma bolha" . "O mercado global está entrando numa era diferente. O aumento dos preços mudou o mercado. (...) Há uma janela aberta para o Brasil crescer", diz. Ele afirma, porém, que diante da recente acomodação do mercado empresas estrangeiras "vão esperar um pouco para investir" no país. O executivo destaca que essa chegada será importante pois vai trazer know-how para a indústria de laticínios brasileira. 

 

Ainda que as exportações também devam continuar crescendo nos próximos anos - a projeção "otimista" do Rabobank é de que em 2018 , o país exporte o equivalente em produtos a cerca de 10 bilhões de litros de leite contra 1,5 bilhão ano passado -, o estudo lembra que esse avanço depende de outros fatores além de oferta e demanda maior, como câmbio. 

 

Pelas projeções do banco, o crescimento anual histórico de 4% na oferta de leite no país combinado com a demanda local pode gerar um excedente de leite em 10 anos de até 9 bilhões de litros. Com um crescimento de 3%, o excedente seria de 5 bilhões de litros no período. O destino desse excedente deve ser o mercado internacional. 

 

Veículo: Valor Econômico


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