A safra 2009/2010 de trigo em Minas Gerais deve apresentar retração de 30%, conforme estimativa da Associação dos Triticultores do Estado de Minas Gerais (Atriemg). A queda na produção se deve ao preço do feijão estar mais atraente do que o pago pela tonelada do cereal, o que provocou a migração de cultura. Outro fator que causou desestímulo aos produtores é a redução, estipulada pelo governo federal, em torno de 10% dos preços mínimos do produto. Entretanto, o 10º levantamento da safra de grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que a produção de trigo em Minas Gerais aumente cerca de 3% frente à safra anterior, atingindo cerca de 98 mil toneladas.
De acordo com o vice-presidente da Atriemg, Eduardo Elias Abrahim, antes da intervenção do governo federal na cotação do trigo, o cenário era mais favorável para a cultura no Estado. Os bons preços de mercado e a crescente demanda por parte das indústrias eram os principais fatores que estavam impulsionando a cultura no Estado. A tonelada do grão chegava a ser comercializada a R$ 600 no início da safra, que acontece em agosto, e por R$ 530 no período de pico da colheita. Os custos de produção giram em torno de R$ 400 por tonelada.
Com a redução dos preços mínimos, que entrou em vigor no dia 1º de julho, a tonelada do produto já apresenta queda nas negociações. De acordo com Abrahim, o preço médio da tonelada do trigo em Minas Gerais está entre R$ 460 e R$ 520. A justificativa do governo federal para a redução é de que o preço do trigo brasileiro não estava coerente com o mercado atual.
"Ainda não sabemos como será o comportamento dos preços durante a colheita do cereal. A medida imposta pelo governo federal prejudica o setor, já que além de conviver com a concorrência do trigo importado e produzido na região Sul do país, ainda teremos preços próximos aos custos de produção. Isto contribui para a redução da atividade, aumentando o desestímulo dos produtores", disse Abrahim.
Um fator que pode contribuir para a melhoria dos preços do trigo mineiro é a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) sobre a venda do trigo para outros estados. Até a safra anterior, a alíquota incidente em Minas era de 12%. Para a safra atual, o ICMS caiu para 2%. Com a redução, a expectativa é que as vendas voltadas para São Paulo, maior consumidor do produto no país, aumentem significativamente, uma vez que Minas passa a competir igualmente com os estados do Sul do país, que já contavam com o benefício fiscal.
Potencial - De acordo com Abrahim, Minas Gerais possui grande potencial para a expansão da produção. Cerca de 60% do trigo utilizado nas indústrias brasileiras são provenientes de outros países.
"Minas Gerais apresenta condições climáticas favoráveis para a produção do trigo. O Estado ainda tem uma vantagem em relação às demais áreas produtoras do país, pois o trigo começa a ser colhido primeiro em Minas, o que garante ao produtor maior rentabilidade no começo da colheita, quando a oferta ainda é restrita", ressaltou.
Para este ano as expectativas em relação aos preços são incertas. Mesmo com a redução de 10% no preço mínimo, o aumento da demanda, que cresceu cerca de 15% ao ano, a queda da qualidade do trigo produzido no Sul do país, devido a interferências climáticas, poderá favorecer os preços do produto mineiro.
Cotações - Na primeira semana de julho, as cotações internacionais do trigo tiveram aumento de 8%, impulsionadas pelas previsões de redução de safra na Europa, Austrália e Rússia devido à seca. A chuva no Canadá também poderá interferir na qualidade do trigo, o que se confirmado poderá ampliar a demanda no Brasil e alavancar os preços.
Na safra anterior a tonelada do trigo custava, na média anual, R$ 530, preço mínimo estipulado pelo governo que ficou 10% inferior para a safra atual, alcançando R$ 477 por tonelada. O valor da tonelada pode alcançar R$ 600, dependendo da oferta do produto no mercado.
Uma das principais expectativas para os próximos anos é o lançamento do plano de governo para a formação de um novo polo produtivo de trigo no país, que abrangerá a região Centro-Oeste do país. O plano do governo federal deverá ser implementado em 2011.
Através do programa serão adotadas medidas para ampliar a produção. As modificações serão baseadas nas necessidades de cada região produtora. Em Minas, as principais demandas se referem ao melhoramento da logística e a maior divulgação do produto. Atualmente o transporte do trigo é realizado por caminhões. O objetivo é investir no transporte ferroviário, que possui custo menor frente ao rodoviário.
A nova safra mineira de trigo deverá render 98 mil toneladas contra as 95 mil toneladas do ano anterior, o que representa um incremento de 3%. A área plantada será de 22,8 mil hectares, contra 20,3 mil hectares utilizados em 2009, com aumento de 12,3%. Cerca de 100 produtores mineiros estão envolvidos no cultivo do trigo.
As principais regiões produtoras do Estado são o Alto Paranaíba, que responde por 60% da safra, seguido pelo Triângulo Mineiro e Noroeste, que juntos somam 30% da colheita estadual.
Veículo: Diário do Comércio - MG