A era da reengenharia organizacional, que estipulava idade máxima para a contratação de profissionais, ficou para trás. Com a necessidade de garantir performance e competitividade aos negócios, as empresas trataram de rever seus conceitos e voltaram a efetivar pessoas de todas as idades, inclusive a partir dos 40 anos. Ao invés do fator custo, o que conta no atual momento de expansão econômica é conhecimento e experiência, duas variáveis que só podem ser conquistadas com tempo de estrada.
De acordo com o professor da Fundação Dom Cabral (FDC) Márcio Campos, principalmente no momento atual, quando as oportunidades de negócio estão fartas, as companhias têm enfrentado o desafio diário de atender, em prazos cada vez menores, às necessidades do mercado consumidor. "O diferencial do trabalho a ser desenvolvido virá da inteligência e do conhecimento estratégico que o profissional adquiriu na sua trajetória e, na outra ponta, do interesse que ele tem em continuar se aperfeiçoando", pontuou.
Como há mais vagas que pessoas para ocupá-las no Brasil, os profissionais considerados maduros têm sido assediados pelas empresas, para cargos os mais diversos, da gestão à operação. Há segmentos, inclusive, que têm encontrado nesse perfil de empregado uma forma para melhorar o relacionamento com clientes da mesma faixa etária ou geração. O professor lembrou, ainda, que os bancos têm utilizado mão de obra acima de 50 anos para as áreas de atendimento.
Gargalo - Com a escassez de mão de obra capacitada, esses profissionais voltaram a ser disputados pelo mercado brasileiro. A coordenadora do curso de Gestão de Recursos Humanos da Unatec, Patrícia Alvarenga, lembrou que esse fenômeno tem reduzido, inclusive, as disparidades de gênero para a contratação de pessoal. Prova disso é o ingresso de mulheres em segmentos econômicos que, até poucos anos atrás, eram controlados pelos homens.
Além da experiência adquirida, há outro ponto importante a ser considerado. "As pessoas acima de 40 anos já têm família constituída. As mulheres já têm filhos e maior estabilidade emocional", enfatizou. Com isso, esses profissionais conseguem uma performance melhor no ambiente de trabalho e possuem a habilidade de trabalhar em grupo.
De acordo com a professora, esses são os profissionais que as empresas têm lutado para manter em seus quadros, mesmo que "custem" mais caro que a média dos empregados. "As empresas redescobriram que o capital intelectual vale muito e que a experiência adquirida por esses profissionais não pode ser tão facilmente disponibilizada para o mercado", frisou.
Por outro lado, o profissional maduro, quando contratado, já chega com alguns diferenciais como o curso de pós-graduação ou mestrado, domínio da língua estrangeira e com maior flexibilidade para mudanças. "Quanto mais capacitados, mais eles conseguem operacionalizar e racionalizar os processos. Por isso, são mais comprometidos e sérios em relação ao trabalho", afirmou Patrícia Alvarenga.
O diretor comercial do grupo Selpe, Hegel Botinha, analisou que a contratação de profissionais acima de 40 anos é uma tentativa para compor um quadro de funcionários de perfil variado. "Há organizações que têm grande dificuldade em lidar com a geração Y", destacou.
Além das áreas técnicas, que exigem grande experiência dos profissionais, as engenharias também têm demandado por mais profissionais da "velha guarda". "Hoje, não adianta o profissional saber na teoria. imprescindível que ele domine a prática e esteja atualizado", ressaltou.
Para a presidente da seção mineira da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-MG), Cristiane Ávila, o movimento de recolocação de profissionais no mercado de trabalho tem apontado para uma demanda crescente por funcionários mais experientes. "A falta de capacitação aumentou essa possibilidade", considerou.
Veículo: Diário do Comércio - MG