Enquanto os indicadores apontam interesse no aumento de gastos e confiança do consumidor cada vez maior, além de excelentes resultados de vendas, principalmente de eletroeletrônicos e eletroportáteis no primeiro semestre, a briga pelo segundo lugar no varejo desses segmentos pega fogo. Há um assédio a redes médias, como a paulista Lojas Cem e a rede nordestina Bompreço, que pertence à empresa americana Walmart.
Estas áreas parecem ser o foco da disputa do Magazine Luiza no setor, uma vez que, apesar de veementemente negar interesse nas redes Maia, do nordeste, e nas lojas Colombo, do sul, não descartava meses atrás ir às compras para retomar a segunda posição do ranking, perdida de maneira inesperada em junho, com a fusão de Ricardo Eletro e Insinuante, que resultou na gigante Máquina de Vendas, com planos de faturar este ano a cifra de R$ 6,1 bilhões.
Toda essa movimentação do Magazine Luiza -que tem aproximadamente 450 lojas e prevê faturar este ano R$ 5 bilhões, com crescimento médio de 20%, além do interesse já anunciado de abertura do capital- se dá depois de um panorama interessante, também no setor supermercadista, em que o Grupo Pão de Açúcar (GPA) adquiriu a Globex Utilidades S.A. (controladora da rede carioca Ponto Frio) e depois anunciou a união com a líder de 'eletromóveis' no País, a empresa da família Klein, Casas Bahia, cujos acordos finais foram decididos há poucos dias, depois de horas de negociação entre os advogados dos Klein e da família Diniz, dona, junto dos franceses do Casino, do GPA.
De acordo com o coordenador do núcleo de varejo da ESPM, Ricardo Pastore, o interesse do Magazine Luiza em redes nordestinas e sulistas do País indica uma tendência forte do varejo, de olho em regiões emergentes e que apresentam os melhores desempenhos em vendas nos últimos anos, em termos de crescimento da renda. "O nordeste é um mercado em maior expansão e no momento tornou-se um grande alvo. Adquirir redes que já são líderes no local facilita a política de integração de ambas as partes."
Para Pastore, estrategicamente seria mais interessante ao Magazine Luiza, da família de Luiza Helena Trajano, apostar todas as fichas no sul do País, já que Máquina de Vendas está se especializando do Rio de Janeiro para cima. "No caso do Magazine Luiza, comprar as Lojas Colombo faz todo sentido. Parte da estratégia de atuação em uma região que amarga um lento crescimento e o grupo Pão de Açúcar não atua."
Assédio
Outra rede que pode ser assediada é a Bompreço, líder no nordeste, com 187 lojas em funcionamento na região. Segundo o ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em 2009 o faturamento da empresa foi de R$ 19,7 bilhões. Procurada, a rede afirmou que não comenta esse tipo de informação.
O professor de Marketing do Instituto Insper de Ensino e Pesquisa, Timothy Altaffer, diz que a Lojas Cem torna-se o próximo alvo. "A Lojas Cem está muito bem posicionada no mercado nacional, e com isso torna-se alvo de compra das empresas líderes. Caso não optem por esta medida, terá que sair às compras para acelerar o crescimento da rede."
Recentemente, a paulista Lojas Cem afirmou ao DCI que vai investir R$ 90 milhões até o fim deste ano na abertura de oito novos pontos-de-venda e na reforma dos já existentes. A rede tem 182 lojas e projeta crescer 25% neste ano, com projeção de faturar R$ 2 bilhões, ao atuar nos Estados de São Paulo, Paraná, Rio de janeiro e Minas Gerais. Quem concorda com o próximo passo do mercado é Pastore. "A Lojas Cem é uma empresa constantemente assediada e pode ser a próxima aposta no mercado". Procurada pela reportagem, a Lojas Cem não se manifestou.
Negociação
Para Claudio Felisoni, coordenador do Programa de Administração do Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA), faz sentido a negociação do Magazine Luiza com as Lojas Maia e a rede Colombo, da perspectiva dos negócios.
Ele diz que por uma questão estratégica a rede precisa aumentar a participação nas Regiões Norte e Nordeste, as que mais crescem, impulsionadas pelo consumo das classes C e D. Paraibana, a Lojas Maia tem 140 unidades na região, e para o mercado não seria surpresa se realmente fosse realizada essa negociação.
Além disso, se as negociações com a Colombo também saírem do papel, como se especula no mercado, também estaria garantida a presença da rede de Luiza Trajano na Região Sul do Brasil.
Especialistas em varejo lembram ainda que o Magazine Luiza adotou a estratégia de fortalecer as operações no interior de São Paulo, mas não foi tão bem-sucedido na capital nas ações de compra e acabou perdendo o Ponto Frio, uma das redes que eram assumidamente de interesse da família Trajano no ano passado.
Caso haja a situação de um martelo batido na aquisição de redes como a Lojas Maia e a Colombo, por parte da terceira no ranking de eletroeletrônicos e eletroportáteis hoje, o Magazine Luiza passaria a registrar R$ 6,1 bilhões em faturamento bruto anual e retomaria seu antigo lugar no ranking.
As aquisições recentes no grande varejo, no entanto, levantam dúvidas para o consumidor. Com a concentração de mercado, acabam ficando nas mãos de poucas redes, o que é preocupante, segundo o professor de Direito da Faap e responsável pela área de Direito Concorrencial do escritório de advocacia Machado e Associados, Eduardo Molan Gaban.
Aumenta o assédio às redes médias como Lojas Cem e Bompreço, com atuação no sul e nordeste, áreas que parecem foco do Magazine Luiza para retomar a segunda posição.
Veículo: DCI